Butte, uma cidade outrora em expansão, alberga agora um enorme superfundo supervisionado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA). A exploração mineira do passado poluiu o solo e a água em Butte e arredores, e quando a Atlantic Richfield Company (ARCO), propriedade da gigante petrolífera BP, abandonou a mina em 1982, deixou-a cheia de água tão tóxica que mata bandos de aves que nela aterram. Mas o que mais preocupa os vizinhos não é a lagoa envenenada de Berkeley. É a mina ativa de cobre e molibdénio mesmo ao seu lado, operada pela Montana Resources, propriedade do homem mais rico do estado, Dennis Washington.
Há anos que os
vizinhos se interrogam se o pó que se levanta do sítio transporta metais
pesados que podem estar a envenená-los lentamente. A EPA e os técnicos de
saúde, no entanto, têm mantido duas narrativas contraditórias: uma, que a
exploração mineira anterior a céu aberto em Butte deixou para trás um legado
tóxico que necessitava de um grande esforço de limpeza, e duas, que a atual
operação de mineração a céu aberto é segura.
Cientistas independentes questionaram estas narrativas através de uma série de pequenos estudos subfinanciados nos últimos anos. Num dos estudos, a epidemiologista Suzanne McDermott e dois outros cientistas alertaram para a possibilidade da exploração mineira em Butte estar ligada a uma "potencial emergência de saúde pública". O seu estudo comparou amostras de mecónio de Butte - o primeiro cocó de um bebé - com os de bebés da Carolina do Sul, onde não há operações mineiras. As amostras de Butte tinham metais a níveis milhares de vezes superiores aos da Carolina do Sul. McDermott também examinou os dados de morte dos residentes de Butte, concluind que os adultos que viviam em Butte e arredores tinham taxas mais elevadas de mortes por cancro e outras doenças do que o resto do estado. Num estudo separado, encontrou também uma maior incidência de cancros do cérebro e do sistema nervoso central em crianças que vivem em Butte e nos arredores, em comparação com outras áreas de Montana. Os investigadores pensaram inicialmente no estudo como um piloto e não tinham planeado publicá-lo. Mas os resultados foram tão chocantes que sentiram a necessidade de os tornar públicos. As empresas mineiras rejeitaram as conclusões desses estudos.
E-mails obtidos pela InvestigateWest revelam uma relação estreita entre os funcionários da EPA e as mineiras em Butte. Milhares de páginas de documentos detalham como a EPA coordenou com as próprias empresas que, em vez de regulamentarem a atividade, atacaram investigadores como McDermott e difamaram as conclusões obtidas por estudos científicos revistos por pares. Num e-mail, os toxicólogos da EPA exortam diretamente a Montana Resources a dar uma resposta destinada a pressionar os cientistas a retrair as suas descobertas. Num outro, a empresa mineira pergunta se a EPA poderia investigar as fontes de financiamento de McDermott e de outro investigador. Numa terceira correspondência, a EPA transfere para um funcionário de uma empresa mineira responsabilidade na orientação sobre mensagens públicas.
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