terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Bico calado

  • Aprecie aqui a desmontagem que Luís Galrão faz dos vários embustes com que a SIC, TVI, CNN e CMTV nos entreteve com imagens falsas do terramoto da Turquia-Síria. A imagem da captura de ecrã, à esquerda, refere-se, como podem comprovar aqui, à implosão das torres Champlain, próximo de Miami Beach, realizada em 24 de junho de 2021.
  • A Grã-Bretanha ofereceu 2,7 mil milhões de dólares em armas à Ucrânia e 6 milhões de dólares em ajuda de emergência para 23 milhões de pessoas na Turquia e na Síria. Isto é a sério? Aparentemente sim. David Hearst, MEE.

  • «Poucas purgas, por muito vastas que sejam, podem livrar os arquivos de todas as provas incriminatórias. No caso do Quénia, dois espessos arquivos de cartas que os detidos tinham escrito nos anos 50 conseguiram escapar aos incineradores e aterraram nos Arquivos Nacionais do Quénia. Elas denunciavam inumeros abusos e imploravam ao governador, ao secretário colonial, a MP Castle, e mesmo a Sua Majestade a Rainha para intervir. Por muito importantes que estas cartas fossem e sejam para reconstruir o passado do Quénia, foi um único ficheiro que ficou no Arquivo Nacional Britânico que abriu o caminho para ligar os relatos de tortura, violação e assassínio dos detidos ao papel do governo britânico na sua execução sistemática. Este ficheiro continha a correspondência de junho entre o Governador Baring e o Secretário Colonial Lennox-Boyd (...). Juntamente com os telegramas e memorandos que o acompanhavam, estabelecia a técnica de diluição, concedia aprovação aos mais altos níveis de governação para a sua utilização, e criava uma cobertura legal. Estabelecia uma cadeia de provas que ligava os funcionários em Londres à violência sistemática do Quénia. No centro da correspondência aparecia o oficial colonial que tinha concebido e executado a técnica de diluição no terreno, Terence Gavaghan, que, até à altura [da publicação] de ‘Imperial Reckoning’ [livro de Caroline Elkins] não tinha contribuído com relatos históricos escritos sobre Mau Mau, exceto para as suas próprias duas memórias. Esta ausência é também notável considerando a participação de Gavaghan em seminários e debates em Oxbridge, bem como o prefácio às suas segundas memórias escrito por um professor de Cambridge (...). Gavaghan, é claro, não agira sozinho. O argumento habitual de algumas "maçãs más" recuou sob o peso das provas históricas, que o Supremo Tribunal de Londres estava prestes a julgar. Foi um momento em que a história revisionista e os seus desafios aos mitos do imperialismo liberal há muito defendidos tiveram de resistir ao escrutínio das lentes do tribunal. A responsabilização da missão civilizadora britânica não permitia qualquer margem para a subjetividade da dúvida. Pelo contrário, algo era um facto ou um ato, ou não era.» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, pp 646-647.

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