segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Bico calado

  • «- O homem escreve mal. - É, o homem escreve mal, Mas também, em troca do nada que lhe pagam, não tem obrigação de escrever melhor. A mim, o que me espanta não é que os correspondentes da província escrevam quase todos mal, é a santíssima e inesgotável paciência que têm. Mandam vinte noticias, publica-se uma. Escrevem cem linhas, reduzimos a dez. Ou são masoquistas, ou têm vocação de mártires. Mas olhe que, quanto a escrever mal, não falta aí quem escreva tão mal ou pior do que eles, e com muito maiores responsabilidades.» José Saramago, A Noite - Caminho 1979.  Via Pinho Vargas.

  • Há um novo Family Gate, mas desta vez nos Açores, e a envolver o Governo social-democrata.  O secretário regional da Agricultura tem familiares nos serviços da secretaria que tutela e que foram nomeados neste mandato.  O sobrinho do presidente do executivo açoriano também foi nomeado duas vezes pelo Governo neste mandato da geringonça de direita.  Entretanto, o caso atingiu tamanhas proporções que a mulher do secretário regional da Agricultura já abdicou do lugar. TVI.
  • 17 janeiro 1961, o primeiro primeiro-ministro da República Democrática do Congo foi assassinado após ser deposto com a ajuda de Washington. Um episódio sinistro que Larry Devlin, o 'Sr. Congo' da CIA de 1960 a 1967, revelaria meio século depois no seu livro, Chief of Station, Congo: Fighting the Cold War in a Hot Zone.

«Nos últimos dias do Raj, as piras de documentos representavam os repositórios dos restos mortais ardentes do Império Britânico na Índia. No infame pátio principal do Red Fort, agentes britânicos despejaram carrinhos de mão cheios de ficheiros em fogueiras que iluminaram os céus de Nova Deli durante semanas. Destruíram, expurgaram e reduziram a cinzas documentos que, se caíssem nas mãos erradas, envergonhariam o governo de Sua Majestade e minariam as reivindicações britânicas passadas, presentes e futuras, como pai da autoridade moral em todo o mundo. Entre estes documentos estavam um número incalculável de ficheiros secretos que relatavam os sistemas e métodos de interrogatório britânicos, bem como as operações de vigilância em toda a Índia. (…) Políticos em Londres tinham consciência de que a sua retirada desajeitada e precipitada da Índia deixava pouco tempo para se desfazerem de dois séculos de documentos». Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, p 408.

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