Bico calado
- A União Europeia pagou ao Ruanda 20 milhões de euros para
apoiar a sua missão de manutenção da paz em Cabo Delgado, Moçambique. O Ruanda
enviou o seu exército e pessoal policial para Cabo Delgado em julho de 2021, ao
abrigo de um acordo bilateral a pedido de Moçambique, e conta atualmente com
cerca de 2.500 militares envolvidos em operações conjuntas com as forças
moçambicanas. BERNA NAMATA, The East African.
- As nossas TVs andam muito ‘politicamente corretas’. Viram
alguma manifestação de apoio à Palestina durante algum jogo do mundial de
futebol? Claro que não puderam ver. Mas há, pelo menos dois registos dessas
manifestações: um, durante o jogo do Qatar com os Países Baixos e outro no jogo da Tunisia com a França. A Drª Amira Abo
el-Fetouh escreveu a propósito, no Middle East Monitor: «A equipa de futebol palestiniana não se qualificou para
o Campeonato Mundial de Futebol da FIFA no Qatar, mas os palestinianos tinham
mais do que uma equipa a jogar em seu nome. Tinham uma presença esmagadora no
coração das equipas árabes e centenas de milhares de adeptos árabes e
estrangeiros. Até as ruas do Qatar eram decoradas com a bandeira palestiniana;
os adeptos usavam o distinto keffiyeh palestiniano; e eram adornados com slogans
de apoio à Palestina. Este popular consenso árabe foi sem precedentes e
aproveitou a oportunidade única proporcionada pelo torneio pela primeira vez
realizado num país árabe e muçulmano. Confirmou-nos a todos que a Palestina
continua a ser a questão a bater no próprio coração do mundo árabe. (...)
Talvez a mensagem mais poderosa tenha vindo dos adeptos tunisinos e marroquinos
que levantaram um enorme pano com "Palestina Livre" no 48º minuto dos
jogos contra a Austrália e a Bélgica, respectivamente. O Nakba, claro, começou
em 1948, quando Israel foi criado na Palestina ocupada. (…)»
- «(...) Acabaste por te tornar mais notório do que
muitas das tuas reportagens. Não é uma posição desconfortável para um
jornalista, que supostamente não devia ser notícia? Isso aconteceu, sobretudo,
quando diferentes figuras me atacaram, como a ex-candidata presidencial Ana
Gomes, a jornalista Fernanda Câncio, o secretário de Estado João Galamba, a
escritora Inês Pedrosa, entre outros. O Correio da Manhã fez eco
dessas acusações, assim como a revista Visão. Admito também que, para
alguns jornalistas, o facto de eu ser um outsider os tenha deixado
desconfortáveis. De repente, alguém que nunca esteve nos principais meios
portugueses publicava reportagens no Público e na CNN. Devido a
esses ataques, o Público, com o qual tinha um compromisso verbal, apenas
me comprou uma reportagem. Essas pessoas tentaram desacreditar-me e eu não
podia ficar calado. Houve acusações, colando-me à ideia de eu que era
putinista ou pró-russo, que num contexto de guerra são perigosas. Imagina que
eu era capturado pelas forças ucranianas e que esses soldados compravam essas
acusações contra mim. Ainda assim, recebi muitas mensagens de solidariedade de
muita gente, incluindo jornalistas, mas o Sindicato dos Jornalistas evitou
defender-me. Houve vários jornalistas com muitos anos de experiência que me
disseram que nunca viram nada assim. (...) ao longo de todos estes meses foram
vários os jornalistas portugueses e estrangeiros que me contactaram para os
ajudar a entrar no Donbass. Eles queriam. Em vários desses casos, as direções
de informação não os deixaram ir. Portanto, há, desde logo, uma
intencionalidade em cobrir apenas um lado da guerra, o que deixa a descoberto a
excepcionalidade da CNN. Até agora, nas últimas décadas, estes meios
sempre tiveram repórteres no lado do invasor. O problema é que agora o
invasor não se chama Estados Unidos da América. (...) Como vês a situação
actual do Donbass? Depois da realização de referendos sem particular
credibilidade, com enormes migrações internas, milhões de pessoas a abandonar a
região, é expectável uma estabilização da situação? A credibilidade dos
processos eleitorais há muito que é algo secundário no contexto internacional.
Há uma avaliação subjetiva em função dos interesses de cada país. O Kosovo
tornou-se independente sem referendo, Juan Guaidó foi reconhecido presidente
por muitos países sem qualquer eleição. (…)» JOÃO MANSO PINHEIRO, Bruno Carvalho: Nenhum jornalista é mais imparcial
por esconder as suas convicções - Abril Abril.
- «Comentários recentes da ex-Chanceler alemã Angela Merkel
lançaram luz sobre o jogo duplo da Alemanha, França, Ucrânia e EUA na
preparação para a invasão russa da Ucrânia em fevereiro. Enquanto o chamado
"Oeste coletivo" (os EUA, NATO, UE e G7) continuam a afirmar que a
invasão russa da Ucrânia foi um ato de "agressão não provocada", a
realidade é muito diferente: A Rússia tinha sido levada a acreditar que havia
uma solução diplomática para a violência que se tinha desencadeado na região de
Donbass, na Ucrânia oriental, na sequência do golpe de Estado de Maidan em
Kiev, apoiado pelos EUA em 2014. Em vez disso, a Ucrânia e os seus parceiros
ocidentais estavam simplesmente a ganhar tempo até que a NATO pudesse construir
um exército ucraniano capaz de capturar o Donbass na sua totalidade, bem como
de expulsar a Rússia da Crimeia. Numa entrevista para a Der Spiegel na semana
passada, Merkel aludiu ao compromisso de Munique de 1938. Comparou as escolhas
que o antigo Primeiro-Ministro britânico Neville Chamberlain teve de fazer
relativamente à Alemanha nazi com a sua decisão de se opor à adesão da Ucrânia
à NATO, quando a questão foi levantada na cimeira da NATO de 2008 em Bucareste.
Ao adiar a adesão à NATO, e mais tarde ao insistir nos acordos de Minsk, Merkel
acreditava estar a ganhar tempo à Ucrânia para que esta pudesse resistir melhor
a um ataque russo, tal como Chamberlain acreditava estar a ganhar tempo ao
Reino Unido e à França para reunir as suas forças contra a Alemanha de Hitler.
(...) Os comentários de Merkel fazem paralelo aos feitos em
junho pelo ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko a vários media ocidentais. "O nosso objetivo",
declarou Poroshenko, "era, primeiro, deter a ameaça, ou pelo menos atrasar
a guerra - assegurar oito anos para restaurar o crescimento económico e criar
forças armadas poderosas". Poroshenko deixou claro que a Ucrânia não tinha
vindo de boa fé à mesa de negociações dos Acordos de Minsk. Esta é uma constatação a que Putin também chegou. Num
encontro recente com esposas e mães de tropas russas que lutam na Ucrânia,
incluindo algumas viúvas de soldados caídos, Putin reconheceu que foi um erro assinar os acordos de Minsk, e que o problema do Donbass deveria ter sido resolvido
pela força das armas nessa altura, especialmente dado o mandato que lhe tinha
sido conferido pela Duma russa relativamente à autorização para utilizar as
forças militares russas na Ucrânia, e não apenas na Crimeia. (...) Quando os falantes de russo em Donbass resistiram ao
golpe [de Maidan] e defenderam essas eleições democráticas, declararam a
independência da Ucrânia. A resposta do regime golpista de Kiev foi lançar
contra eles um ataque militar violento de 8 anos que matou milhares de civis.
Putin esperou 8 anos para reconhecer a sua independência e depois lançou uma
invasão em larga escala de Donbass em fevereiro. Tinha anteriormente esperado na esperança de que os
Acordos de Minsk, garantidos pela Alemanha e França e aprovados por unanimidade
pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (incluindo pelos EUA), resolvessem
a crise, dando autonomia a Donbass enquanto parte da Ucrânia. Mas Kiev nunca
implementou os Acordos e não foi suficientemente pressionada pelo Ocidente para
o fazer. (…)» Scott Ritter,
Merkel Reveals West’s Duplicity - Consortium News.
Sem comentários:
Enviar um comentário