terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Bico calado

  • A União Europeia pagou ao Ruanda 20 milhões de euros para apoiar a sua missão de manutenção da paz em Cabo Delgado, Moçambique. O Ruanda enviou o seu exército e pessoal policial para Cabo Delgado em julho de 2021, ao abrigo de um acordo bilateral a pedido de Moçambique, e conta atualmente com cerca de 2.500 militares envolvidos em operações conjuntas com as forças moçambicanas. BERNA NAMATA, The East African.
  • As nossas TVs andam muito ‘politicamente corretas’. Viram alguma manifestação de apoio à Palestina durante algum jogo do mundial de futebol? Claro que não puderam ver. Mas há, pelo menos dois registos dessas manifestações: um, durante o jogo do Qatar com os Países Baixos e outro no jogo da Tunisia com a França. A Drª Amira Abo el-Fetouh escreveu a propósito, no Middle East Monitor: «A equipa de futebol palestiniana não se qualificou para o Campeonato Mundial de Futebol da FIFA no Qatar, mas os palestinianos tinham mais do que uma equipa a jogar em seu nome. Tinham uma presença esmagadora no coração das equipas árabes e centenas de milhares de adeptos árabes e estrangeiros. Até as ruas do Qatar eram decoradas com a bandeira palestiniana; os adeptos usavam o distinto keffiyeh palestiniano; e eram adornados com slogans de apoio à Palestina. Este popular consenso árabe foi sem precedentes e aproveitou a oportunidade única proporcionada pelo torneio pela primeira vez realizado num país árabe e muçulmano. Confirmou-nos a todos que a Palestina continua a ser a questão a bater no próprio coração do mundo árabe. (...) Talvez a mensagem mais poderosa tenha vindo dos adeptos tunisinos e marroquinos que levantaram um enorme pano com "Palestina Livre" no 48º minuto dos jogos contra a Austrália e a Bélgica, respectivamente. O Nakba, claro, começou em 1948, quando Israel foi criado na Palestina ocupada. (…)»
  • «(...) Acabaste por te tornar mais notório do que muitas das tuas reportagens. Não é uma posição desconfortável para um jornalista, que supostamente não devia ser notícia? Isso aconteceu, sobretudo, quando diferentes figuras me atacaram, como a ex-candidata presidencial Ana Gomes, a jornalista Fernanda Câncio, o secretário de Estado João Galamba, a escritora Inês Pedrosa, entre outros. O Correio da Manhã fez eco dessas acusações, assim como a revista Visão. Admito também que, para alguns jornalistas, o facto de eu ser um outsider os tenha deixado desconfortáveis. De repente, alguém que nunca esteve nos principais meios portugueses publicava reportagens no Público e na CNN. Devido a esses ataques, o Público, com o qual tinha um compromisso verbal, apenas me comprou uma reportagem. Essas pessoas tentaram desacreditar-me e eu não podia ficar calado. Houve acusações, colando-me à ideia de eu que era putinista ou pró-russo, que num contexto de guerra são perigosas. Imagina que eu era capturado pelas forças ucranianas e que esses soldados compravam essas acusações contra mim. Ainda assim, recebi muitas mensagens de solidariedade de muita gente, incluindo jornalistas, mas o Sindicato dos Jornalistas evitou defender-me. Houve vários jornalistas com muitos anos de experiência que me disseram que nunca viram nada assim. (...) ao longo de todos estes meses foram vários os jornalistas portugueses e estrangeiros que me contactaram para os ajudar a entrar no Donbass. Eles queriam. Em vários desses casos, as direções de informação não os deixaram ir. Portanto, há, desde logo, uma intencionalidade em cobrir apenas um lado da guerra, o que deixa a descoberto a excepcionalidade da CNN. Até agora, nas últimas décadas, estes meios sempre tiveram repórteres no lado do invasor. O problema é que agora o invasor não se chama Estados Unidos da América. (...) Como vês a situação actual do Donbass? Depois da realização de referendos sem particular credibilidade, com enormes migrações internas, milhões de pessoas a abandonar a região, é expectável uma estabilização da situação? A credibilidade dos processos eleitorais há muito que é algo secundário no contexto internacional. Há uma avaliação subjetiva em função dos interesses de cada país. O Kosovo tornou-se independente sem referendo, Juan Guaidó foi reconhecido presidente por muitos países sem qualquer eleição. (…)» JOÃO MANSO PINHEIRO, Bruno Carvalho: Nenhum jornalista é mais imparcial por esconder as suas convicções - Abril Abril.
  • «Comentários recentes da ex-Chanceler alemã Angela Merkel lançaram luz sobre o jogo duplo da Alemanha, França, Ucrânia e EUA na preparação para a invasão russa da Ucrânia em fevereiro. Enquanto o chamado "Oeste coletivo" (os EUA, NATO, UE e G7) continuam a afirmar que a invasão russa da Ucrânia foi um ato de "agressão não provocada", a realidade é muito diferente: A Rússia tinha sido levada a acreditar que havia uma solução diplomática para a violência que se tinha desencadeado na região de Donbass, na Ucrânia oriental, na sequência do golpe de Estado de Maidan em Kiev, apoiado pelos EUA em 2014. Em vez disso, a Ucrânia e os seus parceiros ocidentais estavam simplesmente a ganhar tempo até que a NATO pudesse construir um exército ucraniano capaz de capturar o Donbass na sua totalidade, bem como de expulsar a Rússia da Crimeia. Numa entrevista para a Der Spiegel na semana passada, Merkel aludiu ao compromisso de Munique de 1938. Comparou as escolhas que o antigo Primeiro-Ministro britânico Neville Chamberlain teve de fazer relativamente à Alemanha nazi com a sua decisão de se opor à adesão da Ucrânia à NATO, quando a questão foi levantada na cimeira da NATO de 2008 em Bucareste. Ao adiar a adesão à NATO, e mais tarde ao insistir nos acordos de Minsk, Merkel acreditava estar a ganhar tempo à Ucrânia para que esta pudesse resistir melhor a um ataque russo, tal como Chamberlain acreditava estar a ganhar tempo ao Reino Unido e à França para reunir as suas forças contra a Alemanha de Hitler. (...) Os comentários de Merkel fazem paralelo aos feitos em junho pelo ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko a vários media ocidentais. "O nosso objetivo", declarou Poroshenko, "era, primeiro, deter a ameaça, ou pelo menos atrasar a guerra - assegurar oito anos para restaurar o crescimento económico e criar forças armadas poderosas". Poroshenko deixou claro que a Ucrânia não tinha vindo de boa fé à mesa de negociações dos Acordos de Minsk. Esta é uma constatação a que Putin também chegou. Num encontro recente com esposas e mães de tropas russas que lutam na Ucrânia, incluindo algumas viúvas de soldados caídos, Putin reconheceu que foi um erro assinar os acordos de Minsk, e que o problema do Donbass deveria ter sido resolvido pela força das armas nessa altura, especialmente dado o mandato que lhe tinha sido conferido pela Duma russa relativamente à autorização para utilizar as forças militares russas na Ucrânia, e não apenas na Crimeia. (...) Quando os falantes de russo em Donbass resistiram ao golpe [de Maidan] e defenderam essas eleições democráticas, declararam a independência da Ucrânia. A resposta do regime golpista de Kiev foi lançar contra eles um ataque militar violento de 8 anos que matou milhares de civis. Putin esperou 8 anos para reconhecer a sua independência e depois lançou uma invasão em larga escala de Donbass em fevereiro. Tinha anteriormente esperado na esperança de que os Acordos de Minsk, garantidos pela Alemanha e França e aprovados por unanimidade pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (incluindo pelos EUA), resolvessem a crise, dando autonomia a Donbass enquanto parte da Ucrânia. Mas Kiev nunca implementou os Acordos e não foi suficientemente pressionada pelo Ocidente para o fazer. (…)» Scott Ritter, Merkel Reveals West’s Duplicity - Consortium News.

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