segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Bico calado

  • «Qual o limite aceitável da riqueza pessoal? É moralmente aceitável alguém acumular uma fortuna de mil milhões de euros como Ronaldo ou de quatro mil milhões como um clã Amorim? E de mais de cem mil milhões como Musk, Bezos ou Gates? Vivemos num mundo em que 1% da população detém quase 50% da riqueza mundial. Em que uma ínfima liga de bilionários escolhe, através do financiamento das campanhas e dos tempos de antena, os candidatos a cargos políticos, decide as políticas ambientais e qual a carga fiscal que está disposta a pagar. Nos anos 70 a carga fiscal na Suécia podia ultrapassar os 100% (caso da escritora Astrid Lindgren ou do fundador da IKEA). A ideia era: a quem enriqueceu para além de um determinado limite, considerado socialmente aceitável, o Estado tem a obrigação de reduzir fiscalmente a fortuna e de a redistribuir pela sociedade. O modelo fracassou, porque a Suécia é um país democrático, com fronteiras abertas, e o senhor IKEA, à frente de outros milionários, simplesmente se mudaram para países vizinhos como a Holanda. Hoje viriam para Portugal que produz muito pouco e por isso vende pacotes fiscais atrativos a pessoas ricas. (...) Colocar limites a um sistema injusto não diminui o direito à propriedade, à iniciativa empresarial nem impede a passagem de património e riqueza para os filhos e netos - dentro de uma razoabilidade que evite desigualdades obscenas. E não é a dar esmolas nos semáforos e em frente às igrejas, a comprar presentes em centros comerciais e nas amazons que melhoramos o mundo. O espírito de Natal ganhava muito se no resto do ano um sistema fiscal justo desse uma ajuda.» Miguel Szymanski, Espírito de Natal.
  • Os enfermeiros têm de abandonar as exigências salariais. ‘Este é um momento para nos unirmos e temos de enviar uma mensagem muito clara ao Sr. Putin de que não estamos divididos", diz o ministro britânico Nadhim Zahawi. Vários dirigentes sindicais, nomeadamente o secretário-geral do Royal College of Nursing, Pat Cullen, respondeu: "Usar a guerra da Rússia na Ucrânia para justficar um corte nos salários reais dos enfermeiros no Reino Unido é um novo ponto baixo para este governo.” Rob MerrickIndependent.
  • No País de Gales há gente a comer comida para animais de estimação à medida que a crise do custo de vida se agrava. Ben Summer, Wales Online.

  • «O agente da polícia Sydney Burr, escrevendo para casa, relatou alegremente que depois de um certo "bando" ter fugido da prisão, ele e outros na sua patrulha "receberam ordens para dizimar toda a [aldeia próxima,] o que nós fizemos, todos os animais, cereais e comida foram destruídos, e o xeque e todos os seus colaboradores espancados com as coronhas de espingarda. Imagino que vai haver um grande número de funerais ... Quando se é alvejado aqui, a cena é desagradável, pois usam balas Dum Dum, mas nós também as usamos, não oficialmente. Burr advertiu a sua família "por amor de Deus, não fiquem com a impressão de que estamos a lidar com o árabe obre". Ele sublinhou que "claro que os jornais não dão notícia disso, por isso o que se lê nos jornais é apenas o suficiente para aliviar o mal-estar do público em Inglaterra". O controlo da imprensa foi crucial para a Grã-Bretanha poder gerir o fluxo de informação prejudicial que circulava na Palestina e para impedir a sua migração para a metrópole, bem como para outras partes do império, onde os nacionalistas seguiram vorazmente os objetivos dos seus homólogos. Em Nova Deli, por exemplo, o grande mufti indiano declarou "a Jihad na Palestina como nacional e religiosa" e "a opressão britânica como bárbara"; funcionários britânicos na Palestina encerraram três jornais árabes por reproduzirem o texto.» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, p 230.

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