Bico calado
- «Qual o limite
aceitável da riqueza pessoal? É moralmente aceitável alguém acumular uma
fortuna de mil milhões de euros como Ronaldo ou de quatro mil milhões como um
clã Amorim? E de mais de cem mil milhões como Musk, Bezos ou Gates? Vivemos num
mundo em que 1% da população detém quase 50% da riqueza mundial. Em que uma
ínfima liga de bilionários escolhe, através do financiamento das campanhas e
dos tempos de antena, os candidatos a cargos políticos, decide as políticas
ambientais e qual a carga fiscal que está disposta a pagar. Nos anos 70 a carga
fiscal na Suécia podia ultrapassar os 100% (caso da escritora Astrid Lindgren
ou do fundador da IKEA). A ideia era: a quem enriqueceu para além de um
determinado limite, considerado socialmente aceitável, o Estado tem a obrigação
de reduzir fiscalmente a fortuna e de a redistribuir pela sociedade. O modelo
fracassou, porque a Suécia é um país democrático, com fronteiras abertas, e o
senhor IKEA, à frente de outros milionários, simplesmente se mudaram para
países vizinhos como a Holanda. Hoje viriam para Portugal que produz muito
pouco e por isso vende pacotes fiscais atrativos a pessoas ricas. (...) Colocar
limites a um sistema injusto não diminui o direito à propriedade, à iniciativa
empresarial nem impede a passagem de património e riqueza para os filhos e
netos - dentro de uma razoabilidade que evite desigualdades obscenas. E não é a
dar esmolas nos semáforos e em frente às igrejas, a comprar presentes em
centros comerciais e nas amazons que melhoramos o mundo. O espírito de Natal
ganhava muito se no resto do ano um sistema fiscal justo desse uma ajuda.» Miguel Szymanski, Espírito de Natal.
- Os enfermeiros
têm de abandonar as exigências salariais. ‘Este é um momento para nos unirmos e temos de enviar uma mensagem muito clara ao Sr. Putin de que não estamos divididos",
diz o ministro britânico Nadhim Zahawi. Vários dirigentes sindicais,
nomeadamente o secretário-geral do Royal College of Nursing, Pat Cullen, respondeu:
"Usar a guerra da Rússia na Ucrânia para justficar um corte nos salários
reais dos enfermeiros no Reino Unido é um novo ponto baixo para este governo.” Rob Merrick, Independent.
- No País de
Gales há gente a comer comida para animais de estimação à medida que a crise do
custo de vida se agrava. Ben Summer, Wales Online.
- «O agente
da polícia Sydney Burr, escrevendo para casa, relatou alegremente que depois de
um certo "bando" ter fugido da prisão, ele e outros na sua patrulha
"receberam ordens para dizimar toda a [aldeia próxima,] o que nós fizemos,
todos os animais, cereais e comida foram destruídos, e o xeque e todos os seus
colaboradores espancados com as coronhas de espingarda. Imagino que vai haver
um grande número de funerais ... Quando se é alvejado aqui, a cena é
desagradável, pois usam balas Dum Dum, mas nós também as usamos, não
oficialmente. Burr advertiu a sua família "por amor de Deus, não fiquem
com a impressão de que estamos a lidar com o árabe obre". Ele sublinhou
que "claro que os jornais não dão notícia disso, por isso o que se lê nos
jornais é apenas o suficiente para aliviar o mal-estar do público em
Inglaterra". O controlo da imprensa foi crucial para a Grã-Bretanha poder
gerir o fluxo de informação prejudicial que circulava na Palestina e para
impedir a sua migração para a metrópole, bem como para outras partes do
império, onde os nacionalistas seguiram vorazmente os objetivos dos seus
homólogos. Em Nova Deli, por exemplo, o grande mufti indiano declarou "a
Jihad na Palestina como nacional e religiosa" e "a opressão britânica
como bárbara"; funcionários britânicos na Palestina encerraram três jornais
árabes por reproduzirem o texto.» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the
British Empire. The Bodley
Head/Penguin 2022, p 230.
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