Bico calado

• Keir Starmer ameaça expulsar os deputados da esquerda do partido Trabalhista que se opõem à NATO. The Telegraph 3mai2022. Caso para dizer que no Reino Unido só um partido: o da guerra.

• «No início de junho de 1936, relatórios do seu rebanho de missionários e outros cristãos tementes a Deus na Palestina sugeriam que as forças britânicas estavam a desencadear o terror sobre árabes inocentes. Recolhido na sua reitoria de Jerusalém, o arquiduque anglicano examinava detalhes de morte gratuita de civis inocentes, danos insensatos a bens, explosão de aldeias, e pilhagem generalizada, entre outros incidentes perturbadores. Ele já tinha telefonado ao secretário principal do Mandato, John Hathorn Hall, para dar o alarme; nada mudara e tinha chegado o momento de registar as suas preocupações por escrito. "De todos os lados chegam-me diariamente queixas da rudeza desnecessária e bastante indiscriminada que está a ser demonstrada pela polícia britânica no seu tratamento da população nativa, e particularmente da população árabe", transmitiu ele a Hall. No caso dos suspeitos árabes, "a Polícia Britânica" tinha "definitivamente ordenado 'Duff them up’ - uma frase que se referia, segundo o arquiduque, ao infame Douglas Duff e ao seu bando de antigos Black and Tans, que introduziram o termo "Duffing up" na linguagem comum na Palestina e mais tarde no discurso global sobre o abuso de prisioneiros. Stewart declarou que a polícia "está a tentar fazer justiça pelas suas próprias mãos ... E é certamente meu dever, como representante por enquanto da Igreja Anglicana, denunciar quando os princípios fundamentais da justiça estão a ser ignorados e os padrões cristãos básicos estão a ser ignorados". Uma semana depois da carta do Arcebispo, outra aterrou na secretária principal, esta da inspectora de segurança social do seu próprio governo, Margaret Dixon, que se tinha aventurado na região norte do Mandato. Segundo a inspectora, ela "ouviu rumores tão constantes de atrocidades" na região que empreendeu uma inspeção completa a cinco aldeias, como era seu dever. Ela confirmou ao secretário principal que as tropas militares britânicas estavam, de facto, a arrasar aldeias, onde espancavam homens locais, partiam portas e janelas, e "desfaziam em pedaços... mobiliário, louça, máquinas de costura, gramofones e rádios. As tropas foram "ordenadas para esmagar as tendas [dos beduínos] em pedaços debaixo dos seus tanques ... Peço para declarar que considero estes métodos aterrorizantes e intimidadores de tal forma que nenhuma pessoa decente de espírito justo pode ouvir falar deles sem vergonha e repugnância".» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, pp 196-197.