Bico calado
- Portugal esteve ao longo de várias décadas no epicentro
da guerra de propaganda entre os Estados Unidos e a União Soviética. Glória, no
Ribatejo, acolheu a RARET, uma central de transmissão norte-americana, com
poucos a darem por ela. Chamava-se Radio Free Europe e entre 1951-1996
constituiu-se como a espinha dorsal de um sistema de comunicações em onda
curta, responsável pela difusão dos conteúdos produzidos pelos exilados dos
países satélites da URSS a partir de Nova Iorque e Munique com o objetivo de combater
o comunismo. Tudo com o apoio do Departamento de
Estado e da CIA, que contou com a cobertura técnica da Emissora Nacional e da
Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones e a cunha de Ricardo
Espírito Santo. A exposição pública verificada nos media norte-americanos em
torno desta conluio luso-americano, contrastava com a ausência de referências
em periódicos portugueses. O desconhecimento público sobre a existência e a
missão da RARET prolongou-se até meados da década de sessenta. A instalação do Centro Emissor da RARET permitiu a
alteração de modos de vida ancestrais através do acesso a infraestruturas
básicas inexistentes, como estradas alcatroadas, luz elétrica, água canalizada
e uma escola industrial inaugurada no ano letivo de 1967-68. A chegada ao poder
de Marcello Caetano, em setembro de 1968, registou uma alteração efectiva na
forma como a comunicação social desenvolvia a sua actividade. A RARET foi de
certa forma “vítima” desta nova abertura marcelista, quando uma reportagem do
Século divulgou os contornos secretos da missão da RARET. Vitor Madail Herdeiro,
RARET: Portugal no epicentro da propaganda na guerra fria - Setente e Quatro.
- As famílias reais em todo o mundo não são alheias aos
escândalos sexuais. Porém, acontecimentos recentes envolvendo o Príncipe André
do Reino Unido e as suas ligações ao agora falecido traficante sexual Jeffrey
Epstein, muitos acreditam ser maiores do que todos eles. Até os seus alegados
crimes podem empalidecer em comparação com uma outra figura que se sentou no
coração da primeira família britânica durante décadas - Lord Louis Mountbatten.
Mountbatten é uma figura imponente na história recente da Família Real e das
Ilhas Britânicas. Tio do falecido Príncipe Phillip e primo em segundo grau da
Rainha Elizabeth, Mountbatten serviu como Comandante Supremo Aliado na Ásia
Oriental, Chefe do Estado-Maior da Defesa e Primeiro Senhor do Mar. Ainda
elogiado pela imprensa britânica como herói nacional, em parte devido ao seu
assassinato pelo IRA em 1979, era também um pedófilo bem documentado e acusado.
Em 2019, um dossier do FBI sobre Mountbatten revelou que os Estados Unidos
tinham profundas reservas e aversão pela realeza. O dossier afirma que tanto
ele como a sua esposa Edwina eram "pessoas de moral extremamente
baixa" e que Mountbatten era um pedófilo com "uma perversão para
jovens rapazes". As consequências foram rápidas, e o Times tentou fazer
passar a pedofilia de Mountbatten por mera "luxúria por jovens
rapazes". Michael East, Front Page Detectives 30out2021.
- «(...) O monarca dissolve o parlamento, nomeia e demite
os primeiros-ministros, aprova a legislação, assina tratados, declara guerra e
nomeia juízes. Estes poderes são geralmente exercidos pelo primeiro-ministro,
sob prerrogativa real. Usando esta prerrogativa, um primeiro-ministro britânico
pode declarar guerra sem um debate no parlamento. Foi neste quadro que Margaret
Thatcher proibiu os sindicatos no 'centro de espionagem' de Cheltenham, GCHQ,
em 1984. Todas as áreas do direito derivado são tratadas pelo Conselho Privado
- cujos membros têm nomeação vitalícia, e estas "ordens no conselho"
nunca chegam ao parlamento. Os deputados fazem um juramento de lealdade à
Rainha e não ao povo que representam. As forças de segurança e de informações
juram lealdade ao monarca, não ao parlamento ou ao governo. Isso permite-lhes
operar evitando o escrutínio parlamentar quando necessário. (...) A religiosidade declinou em grande
medida durante o reinado de Elizabeth II. A Igreja de Inglaterra (da qual o
monarca é chefe titular) e a Igreja da Escócia sofreram reduções nas suas
congregações, escândalos públicos, posições financeiras enfraquecidas e uma
importância decrescente como reprodutores de ideologia. Na sua situação
difícil, tornaram-se frequentemente críticos em relação a outros setores do
sistema. (…)». Chris Bambery, Conter.
- Um novo documentário da plataforma HBO Max revela como
toda a engrenagem estatal funcionou durante anos para proteger o rei Juan
Carlos I das suas próprias ações e para esconder os seus escândalos. A
plataforma oferece material até agora desconhecido acerca do monarca, no qual
ele fala com as suas amantes sobre assuntos de estado e sobre líderes políticos
como os antigos primeiros-ministros Felipe González e José María Aznar. O
documentário refere ainda trafulhices fiscais detetadas pelas Finanças. EP.
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