quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Bico calado

  • Portugal esteve ao longo de várias décadas no epicentro da guerra de propaganda entre os Estados Unidos e a União Soviética. Glória, no Ribatejo, acolheu a RARET, uma central de transmissão norte-americana, com poucos a darem por ela. Chamava-se Radio Free Europe e entre 1951-1996 constituiu-se como a espinha dorsal de um sistema de comunicações em onda curta, responsável pela difusão dos conteúdos produzidos pelos exilados dos países satélites da URSS a partir de Nova Iorque e Munique com o objetivo de combater o comunismo. Tudo com o apoio do Departamento de Estado e da CIA, que contou com a cobertura técnica da Emissora Nacional e da Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones e a cunha de Ricardo Espírito Santo. A exposição pública verificada nos media norte-americanos em torno desta conluio luso-americano, contrastava com a ausência de referências em periódicos portugueses. O desconhecimento público sobre a existência e a missão da RARET prolongou-se até meados da década de sessenta. A instalação do Centro Emissor da RARET permitiu a alteração de modos de vida ancestrais através do acesso a infraestruturas básicas inexistentes, como estradas alcatroadas, luz elétrica, água canalizada e uma escola industrial inaugurada no ano letivo de 1967-68. A chegada ao poder de Marcello Caetano, em setembro de 1968, registou uma alteração efectiva na forma como a comunicação social desenvolvia a sua actividade. A RARET foi de certa forma “vítima” desta nova abertura marcelista, quando uma reportagem do Século divulgou os contornos secretos da missão da RARET. Vitor Madail Herdeiro, RARET: Portugal no epicentro da propaganda na guerra fria - Setente e Quatro.

  • As famílias reais em todo o mundo não são alheias aos escândalos sexuais. Porém, acontecimentos recentes envolvendo o Príncipe André do Reino Unido e as suas ligações ao agora falecido traficante sexual Jeffrey Epstein, muitos acreditam ser maiores do que todos eles. Até os seus alegados crimes podem empalidecer em comparação com uma outra figura que se sentou no coração da primeira família britânica durante décadas - Lord Louis Mountbatten. Mountbatten é uma figura imponente na história recente da Família Real e das Ilhas Britânicas. Tio do falecido Príncipe Phillip e primo em segundo grau da Rainha Elizabeth, Mountbatten serviu como Comandante Supremo Aliado na Ásia Oriental, Chefe do Estado-Maior da Defesa e Primeiro Senhor do Mar. Ainda elogiado pela imprensa britânica como herói nacional, em parte devido ao seu assassinato pelo IRA em 1979, era também um pedófilo bem documentado e acusado. Em 2019, um dossier do FBI sobre Mountbatten revelou que os Estados Unidos tinham profundas reservas e aversão pela realeza. O dossier afirma que tanto ele como a sua esposa Edwina eram "pessoas de moral extremamente baixa" e que Mountbatten era um pedófilo com "uma perversão para jovens rapazes". As consequências foram rápidas, e o Times tentou fazer passar a pedofilia de Mountbatten por mera "luxúria por jovens rapazes". Michael East, Front Page Detectives 30out2021.
  • «(...) O monarca dissolve o parlamento, nomeia e demite os primeiros-ministros, aprova a legislação, assina tratados, declara guerra e nomeia juízes. Estes poderes são geralmente exercidos pelo primeiro-ministro, sob prerrogativa real. Usando esta prerrogativa, um primeiro-ministro britânico pode declarar guerra sem um debate no parlamento. Foi neste quadro que Margaret Thatcher proibiu os sindicatos no 'centro de espionagem' de Cheltenham, GCHQ, em 1984. Todas as áreas do direito derivado são tratadas pelo Conselho Privado - cujos membros têm nomeação vitalícia, e estas "ordens no conselho" nunca chegam ao parlamento. Os deputados fazem um juramento de lealdade à Rainha e não ao povo que representam. As forças de segurança e de informações juram lealdade ao monarca, não ao parlamento ou ao governo. Isso permite-lhes operar evitando o escrutínio parlamentar quando necessário.  (...) A religiosidade declinou em grande medida durante o reinado de Elizabeth II. A Igreja de Inglaterra (da qual o monarca é chefe titular) e a Igreja da Escócia sofreram reduções nas suas congregações, escândalos públicos, posições financeiras enfraquecidas e uma importância decrescente como reprodutores de ideologia. Na sua situação difícil, tornaram-se frequentemente críticos em relação a outros setores do sistema. (…)». Chris Bambery, Conter.
  • Um novo documentário da plataforma HBO Max revela como toda a engrenagem estatal funcionou durante anos para proteger o rei Juan Carlos I das suas próprias ações e para esconder os seus escândalos. A plataforma oferece material até agora desconhecido acerca do monarca, no qual ele fala com as suas amantes sobre assuntos de estado e sobre líderes políticos como os antigos primeiros-ministros Felipe González e José María Aznar. O documentário refere ainda trafulhices fiscais detetadas pelas Finanças. EP.

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