quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Bico calado

  • Tínhamos andado a operar uma maldita Murder Inc. nas Caraíbas, afirmou Lyndon Johnson, pouco depois de ter tomado posse como presidente dos EUA. Referia-se à atuação da CIA nos EUA e um pouco por todo o mundo, inclusive em Cuba. Sobre este tema, valerá consultar esta fonte elaborada e disponibilizada por Eric Karlstrom, Professor Emérito de Geografia da California State University, Stanislau. A propósito de um artigo publicado por  ALEXANDER COCKBURN na CounterPunch de 24 de julho de 2009. E também a propósito do 75º aniversário desta organização.
  • «Com a tão celebrada mais antiga aliança do mundo, o Reino Unido nunca teve outro objetivo que não fosse a defesa dos seus exclusivos interesses e o aumento da sua esfera de influência mesmo que à custa da humilhação do seu mais velho aliado. (…) Em 1703, o Tratado de Methuen, celebrado no quadro da guerra da sucessão espanhola, levou ao abandono da indústria têxtil nacional a favor dos produtos têxteis ingleses, livres de direitos em Portugal e principalmente no Brasil, tendo como contrapartida o favorecimento da exportação de vinhos portugueses para a Grã-Bretanha, criando uma situação comercial profundamente desigual e gravemente lesiva da economia nacional. (…) É significativo que tenha sido sob a tutela britânica que foram enforcados o general liberal Gomes Freire de Andrade e outros “mártires da Pátria” acusados de sedição e que a revolução liberal portuguesa de 1820 tenha surpreendido o regente de facto, William Beresford, na sua viagem de regresso do Rio de Janeiro, onde tinha recebido de Dom João VI plenos poderes para a governação de Portugal, o que só a Revolução impediu. Em 1890, o célebre ultimato britânico constituiu uma humilhação nacional que se tornou reconhecidamente no princípio do fim da monarquia portuguesa. Perante o choque entre as pretensões coloniais portuguesas e britânicas em África, a ameaça militar direta constante do ultimato contra o seu fiel aliado fez levantar uma onda de repúdio nacional para com a traição nacional que constituiu a cedência ao ultimato feito pela “pérfida Albion”. Apesar da troca posterior dos bretões pelos canhões na letra do hino nacional, bem sabemos que “A Portuguesa”, de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, nasceu dos protestos contra o ultimato e tem uma origem totalmente antimonárquica e antibritânica. No final da II Guerra Mundial, apesar da falsa neutralidade salazarista, que disfarçava mal o alinhamento com a Alemanha nazi, o Reino Unido não só não contribuiu com uma palha para o isolamento internacional do fascismo português como o acolheu como membro fundador da NATO, em 1949. Aliás, em 1957 o fascismo português teve a oportunidade de se enfeitar com a visita de Estado da Rainha Isabel II e foi precisamente ao Reino Unido que Marcello Caetano fez provavelmente a última das suas deslocações ao estrangeiro, quase em vésperas do 25 de Abril, sendo recebido com manifestações de oposicionistas portugueses em Londres e com uma manifestação de apoio grotescamente orquestrada pelo regime no seu regresso. (…)» António Filipe, in Expresso Diário 19set2022.
  • Os EUA estão a protelar a aprovação da venda do sistema de defesa antimísseis Arrow 3 à Alemanha por parte de Israel. O Chanceler alemão Ulf Schulz tinha tentado, durante a sua visita a Israel há seis meses, adquirir mísseis israelitas, desenvolvidos em coordenação com os EUA e com o financiamento dos EUA. A aprovação dos EUA "é necessária uma vez que 80% dos custos de desenvolvimento do sistema, estimados em 2,2 mil milhões de dólares, são provenientes do dinheiro dos contribuintes americanos. Além disso, o Arrow 3 inclui componentes tecnológicos desenvolvidos nos EUA. O preço de uma única unidade é de três milhões de dólares. Ariel Kahana, Israel Hayom.

  • «Os curdos são considerados uma ferramenta para fazer pressão sobre os regimes em Bagdade quando necessário. No início da década de 1960, por exemplo, os britânicos começaram a encorajar uma nova insurreição curda no Iraque para desestabilizar o regime nacionalista de Abdul Qasim. Ficheiros secretos mostram que o embaixador britânico em Bagdade estava bastante disposto a ‘manter um espírito aberto’ sobre as possibilidades da revolta curda ‘provocar a queda de Qasim’. Sugeriu em setembro de 1962 que a Grã-Bretanha não deveria, por isso, encorajar um acordo entre Bagdade e os curdos, mas que, pelo contrário, permanecesse à margem. A Grã-Bretanha não deveria prestar assistência direta aos curdos, dizia ele, ‘mas talvez não precisamos de nos preocuparmos muito se outros o fizerem’. Porém, assim que Qasim caiu em 1963 e um regime privilegiado assumiu o poder em Bagdade, a política britânica mudou para um apoio total ao governo. Os EUA seguiram a mesma política, fornecendo armas aos curdos entre 1961 e 1963 para minar Qasim; dois dias após a sua queda, os EUA começaram a armar o novo regime militar para lutar contra os mesmos curdos que tinha armado anteriormente. A sequência foi repetida no essencial com Saddam Hussein. Nos anos 80, quando ele era um aliado privilegiado, o seu massacre dos curdos foi tacitamente aceite. Depois de se ter tornado um inimigo oficial aquando da sua invasão do Kuwait em 1990, os curdos foram mais uma vez favorecidos e apoiados dissimuladamente. Agora que os EUA controlam as coisas em Bagdade, os curdos são considerados uma ameaça a ser mantida no seu reduto.» Mark Curtis, Unpeople, Britains’s secret human rights abuses – Vintage 2004, pp 26-27.

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