segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Bico calado

  • «Diz-se que nos fica mal dizer mal de quem morre. Quando morre alguém, deixamos de ter direito a ouvir verdades desagradáveis que lhe dizem respeito? Se os lutos e exéquias se tornaram ocasião habitual para o branqueamento da História, é justamente nesse momento que faz falta alertar o público condoído. (…) E não se diga que, em 1957, ao visitar Salazar e ao passar um atestado de bom comportamento à ditadura portuguesa, Isabel II abria um parêntesis no seu indefectível democratismo. Não houve tal parêntesis: em sete décadas de reinado, a rainha visitou ou recebeu incansavelmente ditadores de todo o tipo, de Mobutu a Ceausescu, de Salazar a Hassan II, do general Figueiredo a Putin. (…) Nos primeiros anos do pós-guerra, quando o imperialismo britânico fazia massacrar o povo grego, lançava as bases do domínio sionista na Palestina histórica e atiçava uma mortífera hostilidade entre muçulmanos e hindus na Índia recém-descolonizada, Isabel II foi mantendo o perfil discreto de quem treinava intensamente para o cargo em que o silêncio é de ouro. Mas, em 1953, poucos meses depois de ser coroada, assistiu impávida ao sangrento golpe de Estado protagonizado pelo MI-5, que destruiu a democracia iraniana em nome da indústria petrolífera britânica. E a impavidez seria daí em diante um ingrediente essencial no seu comportamento, tal como a estudada ambiguidade dos seus silêncios. Isabel II assistiu impávida à agressão anglo-franco-israelita no Canal de Suez em 1956. Assistiu às violências cometidas em nome da sua monarquia contra a população mais pobre da Irlanda do Norte, numa guerra civil larvar que durou três décadas. Assistiu à guerra das Malvinas, para salvaguardar a presença colonial britânica na América do Sul. Assistiu ao envolvimento do execrável Tony Blair na invasão do Iraque, em busca das mirabolantes armas de destruição massiva. Quando Margaret Thatcher ordenou uma repressão implacável contra a longa greve dos mineiros do carvão, Isabel II não se lembrou de enviar aos filhos dos grevistas acossados uma mensagem de simpatia, como a tinha enviado em 1940 às crianças britânicas que a guerra separara dos pais. Reinou sobre um sistema em que o genocida chileno Pinochet gozava de protecção britânica contra o mandado de captura internacional emitido pelo juiz Baltazar Garzón, mas o jornalista Julian Assange, por dizer verdades incómodas, está na iminência de ser deportado para os Estados Unidos, ao encontro de uma mais que certa morte em vida. A mestria da falecida rainha consistiu em encenar como ninguém um consenso impossível. Teve sucesso nas encenações da sua vida e continuamos ainda hoje a ouvir os ecos desse sucesso, com a desconvocação das greves de comunicações e transportes que estavam agendadas para os próximos dias. Mas nenhum sindicato reverencialmente inclinado perante a monarquia pode decretar o fim da luta de classes. Morreu a rainha, mas a decadência do império britânico vai continuar - e a luta também.» Francisco Louçã, Isabel II, ou a arte de encenar o consensoEsquerda.
  • Algumas das piores atrocidades cometidas durante o reinado de Isabel II: (1) A Revolta da Malásia, 1948-60 - As autoridades britânicas lançaram uma campanha de guerra e terror com 12 anos de duração contra os comunistas malaios, incendiando casas e terras agrícolas, deslocando 1 milhão de pessoas para campos de concentração e pulverizando culturas com o agente Laranja para matar à fome os insurretos. (2) Repressão da revolta Mau Mau, 1952-60 - Em Outubro de 1952, os britânicos lançaram uma brutal contra-insurreição no Quénia para acabar com a revolta anti-colonial Mau Mau. Em 1960, os britânicos tinham morto, mutilado ou torturado 90.000 quenianos, e detido 160.000 em campos de concenetração. (3) Guerra encoberta no Iémen, 1962-69 - A Grã-Bretanha apoiou os realistas que tentavam tomar o poder dos nacionalistas árabes, apoiados por Nasser. Forneceram secretamente jactos de caça para ataques aéreos, e milhões de libras de armas às forças realistas. Estima-se que 200.000 pessoas tenham sido mortas na guerra. (4) Ofensiva de propaganda na Indonésia, 1965-66 - Os espiões britânicos lançaram uma campanha de propaganda dirigida aos comunistas indonésios, imprimindo boletins de imprensa instando os generais do exército a "cortar" o "cancro comunista". Isto levou ao pior massacre do século XX, com a morte de um milhão de pessoas. (5) Domingo Sangrento, 30 de Janeiro de 1972 - Durante uma marcha em Derry, Irlanda do Norte, os militares britânicos abriram fogo sobre uma multidão de manifestantes, disparando sobre 26, 14 dos quais morreram devido aos ferimentos. Durante a luta, 108 munições foram disparadas por 21 soldados que dispararam as suas armas. (6) Operação Legacy - A partir dos anos 50-70, durante o auge da descolonização, as autoridades britânicas lançaram a Operação Legacy, uma campanha para destruir todos os registos governamentais nas administrações coloniais antes da transição dos seus países para a independência. Os administradores pediram que os registos fossem queimados ou atirados ao mar, a fim de apagar qualquer prova que pudesse potencialmente embaraçar o governo de Sua Majestade. Devido a esta operação e às provas destruídas, podemos nem sequer conhecer a escala total das campanhas genocidas do império britânico. Liberation.
  • A Rainha Isabel II não foi monarca durante o auge do Império Britânico, mas não faltaram atrocidades cometidas durante a sua vida. Aqui estão apenas algumas delas.
  • Curto cronograma que mostra a promoção do colonialismo britânico durante o reinado de Isabel II.
  • ‘Aviões britânicos bombardearam o Palácio La Moneda. Armas britânicas mataram a revolução no Chile’. Jeremy Corbyn.
  • Em 1971, os habitantes das Ilhas Chagos foram expulsos pelos britânicos para dar lugar a uma base americana. Isto foi possível graças a uma reunião dos Conselheiros Privados da Rainha e aprovado pessoalmente pela Rainha. Usando o mesmo poder, Blair invadiu o Iraque em 2003. John Pilger.
  • Os campos de concentração do governo britânico no Quénia eram locais de execuções aleatórias e alguns eram torturados até à morte por se revoltarem contra o domínio colonial. Segundo o KHCR, mais de 90 mil foram executados e mutilados. Fonte.
  • Em 1952 Churchill defendia que as férteis terras altas do Quénia só deveria ser para colonos brancos e aprovou a relocalização forçada da população local. Centenas de milhares de quenianos foram metidos em campos. Fonte.
  • Ela foi torturada com machados durante a luta do Quénia pela independência do domínio colonial britânico. Enquanto a Grã-Bretanha celebra o Jubileu de Platina da sua rainha, esta velha combatente quer enviar-lhe uma mensagem: "Que Elizabeth traga o que me pertence". Deutsche Welle.

1 comentário:

Rivaldo R. Ribeiro disse...

Olá pessoal sou do Brasil "Gostei e compartilhei nas minha redes sociais". Pois nós nesse momento de emoção e simpatia pela Rainha esquecemos das maldades horríveos dos Britânicos. Lembrei da Ilha Malvina, foi muito triste o que fizeram contra os Argentinos, até hoje existem soldados Argentinos doente com traúmas por causa da violência que os Igleses fizeram contra eles.