Bico calado
- «Diz-se que nos fica mal dizer mal de quem morre. Quando
morre alguém, deixamos de ter direito a ouvir verdades desagradáveis que lhe
dizem respeito? Se os lutos e exéquias se tornaram ocasião habitual para o
branqueamento da História, é justamente nesse momento que faz falta alertar o
público condoído. (…) E não se diga que, em 1957, ao visitar Salazar e ao passar
um atestado de bom comportamento à ditadura portuguesa, Isabel II abria um
parêntesis no seu indefectível democratismo. Não houve tal parêntesis: em sete
décadas de reinado, a rainha visitou ou recebeu incansavelmente ditadores de
todo o tipo, de Mobutu a Ceausescu, de Salazar a Hassan II, do general
Figueiredo a Putin. (…) Nos primeiros anos do pós-guerra, quando o imperialismo
britânico fazia massacrar o povo grego, lançava as bases do domínio sionista na
Palestina histórica e atiçava uma mortífera hostilidade entre muçulmanos e
hindus na Índia recém-descolonizada, Isabel II foi mantendo o perfil discreto
de quem treinava intensamente para o cargo em que o silêncio é de ouro. Mas, em
1953, poucos meses depois de ser coroada, assistiu impávida ao sangrento golpe
de Estado protagonizado pelo MI-5, que destruiu a democracia iraniana em nome
da indústria petrolífera britânica. E a impavidez seria daí em diante um
ingrediente essencial no seu comportamento, tal como a estudada ambiguidade dos
seus silêncios. Isabel II assistiu impávida à agressão
anglo-franco-israelita no Canal de Suez em 1956. Assistiu às violências
cometidas em nome da sua monarquia contra a população mais pobre da Irlanda do
Norte, numa guerra civil larvar que durou três décadas. Assistiu à guerra das
Malvinas, para salvaguardar a presença colonial britânica na América do Sul.
Assistiu ao envolvimento do execrável Tony Blair na invasão do Iraque, em busca
das mirabolantes armas de destruição massiva. Quando Margaret Thatcher ordenou
uma repressão implacável contra a longa greve dos mineiros do carvão, Isabel II
não se lembrou de enviar aos filhos dos grevistas acossados uma mensagem de
simpatia, como a tinha enviado em 1940 às crianças britânicas que a guerra
separara dos pais. Reinou sobre um sistema em que o genocida chileno Pinochet
gozava de protecção britânica contra o mandado de captura internacional emitido
pelo juiz Baltazar Garzón, mas o jornalista Julian Assange, por dizer verdades
incómodas, está na iminência de ser deportado para os Estados Unidos, ao
encontro de uma mais que certa morte em vida. A mestria da falecida rainha consistiu em encenar como
ninguém um consenso impossível. Teve sucesso nas encenações da sua vida e
continuamos ainda hoje a ouvir os ecos desse sucesso, com a desconvocação das
greves de comunicações e transportes que estavam agendadas para os próximos
dias. Mas nenhum sindicato reverencialmente inclinado perante a monarquia pode
decretar o fim da luta de classes. Morreu a rainha, mas a decadência do império
britânico vai continuar - e a luta também.» Francisco Louçã, Isabel II, ou a
arte de encenar o consenso – Esquerda.
- Algumas das piores atrocidades cometidas durante o
reinado de Isabel II: (1) A Revolta da Malásia, 1948-60 - As autoridades britânicas
lançaram uma campanha de guerra e terror com 12 anos de duração contra os
comunistas malaios, incendiando casas e terras agrícolas, deslocando 1 milhão
de pessoas para campos de concentração e pulverizando culturas com o agente
Laranja para matar à fome os insurretos. (2) Repressão da revolta Mau Mau, 1952-60 - Em Outubro de 1952,
os britânicos lançaram uma brutal contra-insurreição no Quénia para acabar com
a revolta anti-colonial Mau Mau. Em 1960, os britânicos tinham morto, mutilado
ou torturado 90.000 quenianos, e detido 160.000 em campos de concenetração. (3) Guerra encoberta no Iémen, 1962-69 - A Grã-Bretanha apoiou
os realistas que tentavam tomar o poder dos nacionalistas árabes, apoiados por
Nasser. Forneceram secretamente jactos de caça para ataques aéreos, e milhões
de libras de armas às forças realistas. Estima-se que 200.000 pessoas tenham
sido mortas na guerra. (4) Ofensiva de propaganda na Indonésia, 1965-66 - Os espiões
britânicos lançaram uma campanha de propaganda dirigida aos comunistas
indonésios, imprimindo boletins de imprensa instando os generais do exército a
"cortar" o "cancro comunista". Isto levou ao pior massacre
do século XX, com a morte de um milhão de pessoas. (5) Domingo Sangrento, 30 de Janeiro de 1972 - Durante uma
marcha em Derry, Irlanda do Norte, os militares britânicos abriram fogo sobre
uma multidão de manifestantes, disparando sobre 26, 14 dos quais morreram
devido aos ferimentos. Durante a luta, 108 munições foram disparadas por 21
soldados que dispararam as suas armas. (6) Operação Legacy - A partir dos anos 50-70, durante o auge
da descolonização, as autoridades britânicas lançaram a Operação Legacy, uma
campanha para destruir todos os registos governamentais nas administrações
coloniais antes da transição dos seus países para a independência. Os
administradores pediram que os registos fossem queimados ou atirados ao mar, a
fim de apagar qualquer prova que pudesse potencialmente embaraçar o governo de
Sua Majestade. Devido a esta operação e às provas destruídas, podemos nem
sequer conhecer a escala total das campanhas genocidas do império britânico.
Liberation.
- A Rainha Isabel II não foi monarca durante o auge do
Império Britânico, mas não faltaram atrocidades cometidas durante a sua vida.
Aqui estão apenas algumas delas.
- Curto cronograma que mostra a promoção do colonialismo
britânico durante o reinado de Isabel II.
- ‘Aviões britânicos bombardearam o Palácio La Moneda.
Armas britânicas mataram a revolução no Chile’. Jeremy Corbyn.
- Em 1971, os habitantes das Ilhas Chagos foram expulsos
pelos britânicos para dar lugar a uma base americana. Isto foi possível graças
a uma reunião dos Conselheiros Privados da Rainha e aprovado pessoalmente pela
Rainha. Usando o mesmo poder, Blair invadiu o Iraque em 2003. John Pilger.
- Os campos de concentração do governo britânico no Quénia
eram locais de execuções aleatórias e alguns eram torturados até à morte por se
revoltarem contra o domínio colonial. Segundo o KHCR, mais de 90 mil foram
executados e mutilados. Fonte.
- Em 1952 Churchill defendia que as férteis terras altas do
Quénia só deveria ser para colonos brancos e aprovou a relocalização forçada da
população local. Centenas de milhares de quenianos foram metidos em campos. Fonte.
- Ela foi torturada com machados durante a luta do Quénia
pela independência do domínio colonial britânico. Enquanto a Grã-Bretanha
celebra o Jubileu de Platina da sua rainha, esta velha combatente quer enviar-lhe
uma mensagem: "Que Elizabeth traga o que me pertence". Deutsche Welle.
1 comentário:
Olá pessoal sou do Brasil "Gostei e compartilhei nas minha redes sociais". Pois nós nesse momento de emoção e simpatia pela Rainha esquecemos das maldades horríveos dos Britânicos. Lembrei da Ilha Malvina, foi muito triste o que fizeram contra os Argentinos, até hoje existem soldados Argentinos doente com traúmas por causa da violência que os Igleses fizeram contra eles.
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