terça-feira, 26 de julho de 2022

Bico calado

  • "Em dezembro de 1975, enquanto Timor Leste (…) passava por um processo de descolonização a partir de Portugal, houve luta pelo poder. Um movimento de esquerda, a Fretilin, prevaleceu e declarou a independência de Timor Leste de Portugal. Nove dias mais tarde, a Indonésia invadiu Timor Leste. A invasão foi lançada no dia seguinte ao Presidente dos EUA Gerald Ford e o Secretário de Estado Henry Kissinger terem deixado a Indonésia depois de terem dado ao Presidente Suharto permissão para utilizar armas americanas, que, segundo a lei americana, não podiam ser utilizadas para a agressão. Mas a Indonésia era o aliado mais valioso de Washington no Sudeste Asiático e, em qualquer caso, os Estados Unidos não estavam inclinados a olhar com simpatia para qualquer governo da esquerda. A Indonésia rapidamente alcançou o controlo total sobre Timor Leste, com a ajuda do armamento americano e de outras ajudas militares, bem como o apoio diplomático da ONU. A Amnistia Internacional estimou que em 1989 as tropas indonésias tinham matado 20.000 pessoas de uma população entre 600.000 e 700.000, uma taxa de mortalidade que é provavelmente uma das mais altas de toda a história das guerras. Não é fantástico que nos numerosos artigos publicados na imprensa diária norte-americana após a morte do Presidente Ford em dezembro de 2006 não tenha havido uma única referência ao seu papel no massacre de Timor Leste? Uma pesquisa nas extensas bases de dados Lexis-Nexis e nos media encontra uma menção a este facto apenas em algumas cartas dos leitores ao editor; nem uma palavra sequer nos relatórios de qualquer uma das agências noticiosas, como a Associated Press, que geralmente se esquivam menos à controvérsia do que os jornais que servem; nem uma única menção nos principais programas noticiosos transmitidos. Imagine se, após a morte de Augusto Pinochet duas semanas antes, os media não tivessem feito qualquer menção ao seu derrube do governo Allende no Chile, ou ao assassinato e tortura em massa que se seguiu. Ironicamente, os artigos sobre Ford também se referiram a essa observação um ano após o golpe de Pinochet. O Presidente Ford declarou que os Estados Unidos tinham intervindo no Chile "no melhor interesse do povo do Chile e certamente no nosso próprio interesse"».  William Blum, America’s deadliest export – Zed Books 2014, pp 208-209.
  • «Alguém deveria informar Milhazes, e seus congéneres, que esta forma de combater o Partido Comunista Português não resulta. Estão a radicalizar quem tiver uma mera simpatia, a chamar para as trincheiras quem só estava a apanhar sol. Sá Carneiro disse algumas boas frases e não tenho nada o costume de as citar, mas aqui não resisto: “A melhor maneira de combater o comunismo é melhorar as condições dos trabalhadores.” Sá Carneiro ao menos sabia qual era – e é – a empreitada do PCP.» Carmo Afonso, José Milhazes deu início à Festa do Avante! – Público 22jul2022.
  • Cerca de 60% das reuniões do executivo camarário de Lisboa são de caráter extraordinário, queixa-se o PCP, alegando que este artifício reduz o tempo de intervenção dos vereadores da oposição, uma vez que as extraordinárias não têm período de antes da ordem do dia e o prazo de apresentação de propostas é de 48h em vez dos 7 dias.

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