sábado, 23 de julho de 2022

Bico calado

  • O antigo chefe da CIA James Woolsey diz que os EUA se imiscuem nas eleições no estrangeiro mas, sempre por uma boa causa e pelo interesse da democracia. Relacionado com esta entrevista da insuspeitíssima Fox News, contextualização de alguns golpes.
  • A gigante mineira Rio Tinto resolveu uma disputa fiscal de uma década com o Instituto Australiano de Impostos, entregando quase mil milhões de dólares em impostos por pagar após uma investigação do seu centro de comercialização em Singapura. ABC.
  • Itália publica Relatório de Investigação sobre Questões de Xinjiang: Os Estados Unidos procuram benefícios geopolíticos em nome dos direitos humanos. Fonte.
  • Camberra quer uma nova corrida ao armamento na Ásia. O novo ministro da defesa da Austrália avisou que a região está a enfrentar uma perigosa pressão militar. A solução? Vamos armar-nos até aos dentes com a ajuda da América. Alex Lo, Pearls and Irritations.
  • O novo regime trabalhista da Austrália imita Blair com um governo mais de direita e imprudente na sua fome de guerra do que o seu antecessor extremista. O arquiteto é o ministro da "defesa", Richard Marles, um clone de Washington. John Pilger.
  • A Elbit Systems UK assumiu oficialmente a operação do Sistema de Formação do Complexo Marítimo da Marinha Real. Fonte. A Marinha Real está agora a ser treinada por uma empresa de armamento cúmplice no assassinato de palestinianos, diz Mark Curtis.

«(...) antes da construção do muro de Berlin, milhares de alemães de Leste deslocavam-se diariamente para o Ocidente em busca de emprego e depois regressavam ao Leste à noite; muitos outros iam e vinham por razões de compras ou outras. Portanto, não estavam claramente detidos no Leste contra a sua vontade. Então porque é que o muro foi construído? Havia duas razões principais. (1) O Ocidente estava a apoquentar o Leste com uma vigorosa campanha de recrutamento de profissionais e trabalhadores qualificados da Alemanha Oriental, que tinham sido educados à custa do governo comunista. Isto acabou por conduzir a uma grave crise de trabalho e de produção no Leste. (…) (2) Durante os anos 50, os adeptos da guerra fria na Alemanha Ocidental avançaram uma campanha de sabotagem e subversão contra a Alemanha Oriental destinada a lançar o caos no sistema económico e administrativo daquele país. A CIA e outros serviços secretos e militares americanos recrutaram, equiparam, treinaram e financiaram grupos e ativistas alemães, do Ocidente e do Leste, para levar a cabo ações que abrangiam o espetro desde a delinquência juvenil ao terrorismo; qualquer coisa que tornasse a vida difícil para o povo da Alemanha Oriental e enfraquecesse o seu apoio ao governo; qualquer coisa que fizesse os comunistas parecerem maus. Foi um empreendimento notável. Os Estados Unidos e os seus agentes utilizaram explosivos, fogo posto, curto-circuito e outros métodos para danificar centrais elétricas, estaleiros navais, canais, docas, edifícios públicos, estações de serviço, transportes públicos, pontes, etc.; descarrilaram comboios de mercadorias, ferindo gravemente trabalhadores; queimaram doze vagões de um comboio de mercadorias e destruíram mangueiras de pressão de ar de outros; utilizaram ácidos para danificar máquinas vitais de uma fábrica; colocaram areia na turbina de uma fábrica, paralisando-a; incendiaram uma fábrica de produção de azulejos; promoveram a desaceleração do trabalho nas fábricas; mataram por envenenamento 7.000 vacas de uma cooperativa leiteira; adicionaram sabão ao leite em pó destinado às escolas da Alemanha de Leste; estavam na posse, quando presos, de uma grande quantidade do veneno cantharidin, com o qual se planeava produzir cigarros envenenados para matar importantes individualidades alemães de Leste; detonaram bombas de mau cheiro para perturbar reuniões políticas; tentaram perturbar o Festival Mundial da Juventude em Berlim Oriental enviando convites falsos, falsas promessas de cama e comida grátis, falsos avisos de cancelamentos, etc.; realizaram ataques aos participantes com explosivos, bombas de fogo e equipamento de perfuração de pneus; forjaram e distribuiram grandes quantidades de senhas de racionamento de alimentos para causar confusão, escassez e ressentimento; enviaram avisos fiscais e outras diretivas e documentos governamentais falsos para fomentar a desorganização e ineficiência na indústria e sindicatos... tudo isto e muito mais. (...) Durante a década de 1950, os alemães de Leste e a União Soviética apresentaram repetidamente queixas aos antigos aliados dos soviéticos no Ocidente e às Nações Unidas sobre atividades específicas de sabotagem e espionagem e apelaram ao encerramento dos escritórios na Alemanha Ocidental que alegavam ser responsáveis, e pelos quais forneceram nomes e endereços. As queixas caíram em saco roto. Inevitavelmente, os alemães de Leste começaram a apertar a entrada no país a partir do Ocidente, conduzindo eventualmente ao famigerado Muro».  William Blum, America’s deadliest export – Zed Books 2014, pp 205-207.

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