«(...) Um dos muitos exemplos possíveis da situação actual acontece junto ao rio, entre o Cais do Sodré e Santos. Alguém durante o reinado de Medina teve uma grande ideia reservar aquela zona para diversão nocturna, num exemplo datado e esgotado de planeamento urbano, colocando ali três discotecas a funcionar ao ar livre. Repito: ao ar livre. O som propaga-se pelas colinas, sendo frequentes as queixas, inclusive, da outra margem, porque o som, pois é, também desliza pela água. Até às 7 da manhã, de quarta a sábado, é assim. Não satisfeita, a freguesia da Estrela resolveu, durante o Inverno, e agora nas semanas que antecedem os Santos Populares, instalar ali uma feira de diversões, todos os dias, até às 2 da matina. De maneira que até certa hora se ouve o Quero cheirar o teu bacalhau, Maria do Quim Barreiros em competição desenfreada com o tecno do lado, e depois leva-se com três discotecas a ver quem provoca mais alarido até de manhã. Há quem chame “animação” a isto. Para os que não pregam olho é só um inconcebível sofrimento. (...)»
Vítor Belanciano, Lisboa, capital da chinfrineira – Público 29mai2022.
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