sábado, 7 de maio de 2022

Bico calado

  • «O Papa Francisco afirmou que quem andou a atear fogueiras à porta dos vizinhos é responsável pelas más respostas dos vizinhos — em claro, falava da Ucrânia de Zelenski e das provocações que fez à Rússia a mando dos Estados Unidos. Uma pedrada no charco das breaking news. Rapidamente abafada. Também tu, Francisco? (…) O Papa Francisco e Lula são duas personalidades do que se designou Terceiro Mundo, dois latino-americanos, que têm uma visão do mundo anti-imperialista e conhecem bem a estratégia dos Estados Unidos — o apoio às ditaduras sul americanas, a violenta exploração de recursos, a elevação de criminosos e ditadores aos mais altos postos da política das suas colónias sul-americanas. A pulsão totalitário do império mundial. Nem o argentino Bergoglio, agora papa, nem o brasileiro Lula têm qualquer ilusão sobre a bondade das intervenções dos EUA em qualquer parte do mundo. Sabem que Zelenski é apenas mais uma marioneta entre tantas que conheceram, Somoza, Videla, Figueiredo, Pinochet… se quisermos ir mais longe, Mobutu, do Congo, os Saud da Arábia, o Marcos das Filipinas (…) O Papa Francisco é o primeiro chefe de uma Igreja Mundial originário de fora da Europa. Ele pretende que o catolicismo sobreviva ao neoliberalismo — o sistema imposto pelos EUA — e ao islamismo — a religião que mais cresce no planeta. Um caminho minado. O papa católico não pode colocar o catolicismo ao serviço do complexo militar industrial dos EUA, do Pentágono, de Wall Street ou do quartel general de Bruxelas da NATO. Ele não pode aparecer aos olhos do mundo como um chefe da religião dos brancos europeus e americanos contra a Rússia. Francisco não pode ser uma nova versão papa polaco Wojtyla (JPII) ao serviço da estratégia americana contra a URSS nos anos 80 do século passado e não pode perder o tal Terceiro Mundo que aspira a relações equilibradas entre potências, porque essa relação de equilíbrio de poderes lhe é vantajosa… A guerra da Ucrânia ameaça romper um relativo equilíbrio de poderes. Um sistema triangular é uma aspiração razoável dos povos de todo o mundo, que o Papa defende (…) Para os interessados as declarações de Lula da Silva podem ser consultadas aqui. As declarações do Papa podem ser consultadas, em português, num site do Vaticano – para não haver dúvidas quanto à autenticidade ou à tradução do italiano -, aqui.» Carlos Matos Gomes, Lula, o Papa e a Ucrânia – Medium.
  • Os países que bombardearam a Sérvia não têm o "direito moral" de pedir a Belgrado que siga a sua linha e imponha sanções contra Moscovo, disse o ministro sérvio dos Assuntos Internos Aleksandar Vulin. Spiros Sideris, EurActiv.
  • Enquanto faz uma guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia, a aliança militar da NATO liderada pelos EUA planeia cercar a China e expandir-se para a região da Ásia-Pacífico, colaborando com o Japão, Coreia do Sul, Austrália, e Nova Zelândia. Benjamin Norton, Multipolarista.
  • «O regime de ‘assientos’ produziu também as primeiras grandes fortunas na história do tráfico de escravos no Atlântico. Um caso exemplar é o de António Fernandes Elvas, cristão-novo e um dos homens mais ricos de Lisboa, casado com uma mulher também de origem judaica, Elena Rodrigues de Solís, cujo irmão havia sido preso numa masmorra, em Cartagena, pela Inquisição espanhola. António tinha sido tesoureiro de uma das filhas do rei Filipe II, a infanta Maria. Em 1616, Elvas concordou em pagar 120 mil ducados por ano à Coroa espanhola pelo direito de fornecer entre 3,5 mil e 5 mil cativos anualmente ao Império Colonial Espanhol. Ele também já tinha um contrato similar com a Coroa portuguesa para comercializar escravos entre Angola e o Brasil, pelo qual tinha pagado 24 milhões de réis. Por fim, comprou de um primo, Duarte Pinto D’Elvas, uma terceira concessão, para o transporte de escravos de Cabo Verde para a América. Dessa maneira, Elvas tornou-se virtualmente o monopolista do tráfico de escravos durante um determinado período. Estima-se que só ele tenha transportado para o Novo Mundo, num período de nove anos, entre 1616 e 1625, um total de 37 mil escravos, em 264 navios. O fim da sua vida, no entanto, não foi nada próspero: acusado de trapacear nos números de viagens e escravos transportados, e enganar o rei, acabou por morrer na prisão.»  Laurentino Gomes, Escravidão – Porto Editora 2021, p 154

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