Bico calado
- «O Papa Francisco afirmou que quem andou a atear
fogueiras à porta dos vizinhos é responsável pelas más respostas dos vizinhos —
em claro, falava da Ucrânia de Zelenski e das provocações que fez à Rússia a
mando dos Estados Unidos. Uma pedrada no charco das breaking news. Rapidamente
abafada. Também tu, Francisco? (…) O Papa Francisco e Lula são duas
personalidades do que se designou Terceiro Mundo, dois latino-americanos, que
têm uma visão do mundo anti-imperialista e conhecem bem a estratégia dos
Estados Unidos — o apoio às ditaduras sul americanas, a violenta exploração de
recursos, a elevação de criminosos e ditadores aos mais altos postos da
política das suas colónias sul-americanas. A pulsão totalitário do império
mundial. Nem o argentino Bergoglio, agora papa, nem o brasileiro Lula têm qualquer
ilusão sobre a bondade das intervenções dos EUA em qualquer parte do mundo.
Sabem que Zelenski é apenas mais uma marioneta entre tantas que conheceram,
Somoza, Videla, Figueiredo, Pinochet… se quisermos ir mais longe, Mobutu, do
Congo, os Saud da Arábia, o Marcos das Filipinas (…) O Papa Francisco é o primeiro chefe de uma Igreja
Mundial originário de fora da Europa. Ele pretende que o catolicismo sobreviva
ao neoliberalismo — o sistema imposto pelos EUA — e ao islamismo — a religião
que mais cresce no planeta. Um caminho minado. O papa católico não pode colocar
o catolicismo ao serviço do complexo militar industrial dos EUA, do Pentágono,
de Wall Street ou do quartel general de Bruxelas da NATO. Ele não pode aparecer
aos olhos do mundo como um chefe da religião dos brancos europeus e americanos
contra a Rússia. Francisco não pode ser uma nova versão papa polaco
Wojtyla (JPII) ao serviço da estratégia americana contra a URSS nos anos 80 do
século passado e não pode perder o tal Terceiro Mundo que aspira a relações
equilibradas entre potências, porque essa relação de equilíbrio de poderes lhe
é vantajosa… A guerra da Ucrânia ameaça romper um relativo equilíbrio de
poderes. Um sistema triangular é uma aspiração razoável dos povos de todo o
mundo, que o Papa defende (…) Para os interessados as declarações de Lula da Silva
podem ser consultadas aqui. As declarações do Papa podem ser consultadas, em
português, num site do Vaticano – para não haver dúvidas quanto à autenticidade
ou à tradução do italiano -, aqui.» Carlos Matos Gomes, Lula, o Papa e a Ucrânia – Medium.
- Os países que bombardearam a Sérvia não têm o
"direito moral" de pedir a Belgrado que siga a sua linha e imponha
sanções contra Moscovo, disse o ministro sérvio dos Assuntos Internos
Aleksandar Vulin. Spiros
Sideris, EurActiv.
- Enquanto faz uma guerra por procuração contra a Rússia na
Ucrânia, a aliança militar da NATO liderada pelos EUA planeia cercar a China e
expandir-se para a região da Ásia-Pacífico, colaborando com o Japão, Coreia do
Sul, Austrália, e Nova Zelândia. Benjamin Norton, Multipolarista.
- «O regime de ‘assientos’ produziu também as primeiras
grandes fortunas na história do tráfico de escravos no Atlântico. Um caso
exemplar é o de António Fernandes Elvas, cristão-novo e um dos homens mais
ricos de Lisboa, casado com uma mulher também de origem judaica, Elena
Rodrigues de Solís, cujo irmão havia sido preso numa masmorra, em Cartagena,
pela Inquisição espanhola. António tinha sido tesoureiro de uma das filhas do
rei Filipe II, a infanta Maria. Em 1616, Elvas concordou em pagar 120 mil
ducados por ano à Coroa espanhola pelo direito de fornecer entre 3,5 mil e 5
mil cativos anualmente ao Império Colonial Espanhol. Ele também já tinha um
contrato similar com a Coroa portuguesa para comercializar escravos entre
Angola e o Brasil, pelo qual tinha pagado 24 milhões de réis. Por fim, comprou
de um primo, Duarte Pinto D’Elvas, uma terceira concessão, para o transporte de
escravos de Cabo Verde para a América. Dessa maneira, Elvas tornou-se virtualmente
o monopolista do tráfico de escravos durante um determinado período. Estima-se
que só ele tenha transportado para o Novo Mundo, num período de nove anos,
entre 1616 e 1625, um total de 37 mil escravos, em 264 navios. O fim da sua
vida, no entanto, não foi nada próspero: acusado de trapacear nos números de
viagens e escravos transportados, e enganar o rei, acabou por morrer na
prisão.» Laurentino Gomes, Escravidão – Porto Editora 2021, p 154
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