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quinta-feira, 14 de abril de 2022
Bico calado
As atuais coqueluches dos media ucranianos são o The Kyiv
Post e o The Kiev Independent, este último fruto de uma cisão com o primeiro em
novembro de 2021. Os seus repórteres
aparecem com frequência na CNN, Fox News, MSNBC, ABC e CBS, publicam artigos de
opinião no The New York Times e no The Washington Post e são amiúde promovidos
pelo Twitter. Embora apresentado como coletivo de jornalistas imparciais
produzindo conteúdo credível, a sua génese, fontes de financiamento e a
proximidade de muitos dos seus funcionários-chave aos governos ocidentais
sugerem que a organização noticiosa não é tão independente como o seu nome
sugere. Os 30 dissidentes do Post puderam arrancar com o
Independent mercê de um’donativo’ de $200.000 do governo canadiano, via Fundo
Europeu para a Democracia (European Endowment for Democracy), uma organização
criada em 2013 seguindo o modelo do U.S.
National Endowment for Democracy (NED). Apesar de se expressar na linguagem da "promoção da
democracia", existe para distribuir grandes somas de dinheiro, apoio e
formação a grupos políticos, jornalistas, e ONGs em países inimigos com o objetivo
de promover os interesses da UE, incluindo o derrube de governos hostis.Não
"promove a democracia" dentro da UE; as suas operações estão limitadas
à Europa Oriental e à região do Médio Oriente-África do Norte. Nos últimos
anos, tem apoiado movimentos anti-governamentais na Bielorrússia, Rússia,
Síria, e Líbano. Nenhuma destas informações, incluindo qualquer ligação ao
Canadá ou ao Fundo Europeu de Apoio à Democracia, consta da página do The
Kyiv Independent. A sua editora, Liliane Bivings, costumava trabalhar e
escrever para um laboratorio de ideias da NATO, The Atlantic Council, cobrindo
especificamente a Ucrânia. A produtora Elina-Alem Kent trabalhou para a
Embaixada dos EUA em Kiev em 2017; o diretor financeiro Jakub Parusinski colaborou
anteriormente com o International Center for Policy Studies, um grupo de
reflexão centrado na Ucrânia, patrocinado por numerosos governos ocidentais. Em
2020, o repórter cultural Artur Korniienko recebeu uma bolsa para trabalhar
para a Radio Free Europe/Radio Liberty, uma organização que o The New York
Times descreveu como uma "rede de propaganda mundial construída pela
CIA". A estrela inquestionável do The Kyiv Independent, é Illia
Ponomarenko, que passa imenso tempo integrado no Batalhão Azov, o grupo
Neo-Nazi que ele descreve como o seu "bom amigo" e os seus
"irmãos de armas". O NED foi criado pela administração Reagan nos anos 80
explicitamente como uma fachada para a CIA, cuja imagem pública tinha sido
seriamente manchada por uma série de escândalos. Tecnicamente uma organização
privada, e portanto não sujeita ao mesmo escrutínio público ou regulamentos
legais, o NED realizou as operações mais sujas da CIA no estrangeiro,
especificamente as de mudança de regime e interferência estrangeira. "Seria terrível que grupos democráticos em todo o
mundo fossem vistos como subsidiados pela CIA", disse o Presidente do NED,
Carl Gershman, explicando a sua criação. O co-fundador do NED, Allen Weinstein,
concordou: "Muito do que fazemos hoje foi feito secretamente há 25 anos
pela CIA", disse ao The Washington Post. O NED tem desempenhado um papel fundamental nas recentes
tentativas de mudança de regime por parte dos EUA. Em Hong Kong, canalizou
dinheiro para os líderes do movimento de protesto interno. Na Venezuela,
organizou concertos de música para minar a administração Maduro. No Verão
passado, fomentou uma campanha de manifestações a nível nacional em Cuba. E tem
atualmente 40 projetos ativos na Bielorrússia, todos com o objetivo de fazer
cair o Presidente Alexander Lukashenko. Contudo, a Ucrânia é a "prioridade
máxima" do NED, de acordo com o seu relatório anual de 2019. Em 2015, Daryna Shevchenko, atual CEO do The Kyiv
Independent e na altura colaboradora do The Kyiv Post, reconhecia abertamente o
quanto o NED tinha feito por ela e pelos seus colegas: "Sem o National
Endowment for Democracy não haveria nada". Embora estes jornalistas refiram com frequência a objetividade
e neutralidade, são, ao mesmo tempo, é claro que o objectivo do The Kyiv
Independent é "contrariar a narrativa russa", nas palavras do
editor-chefe Rudenko. Assim, eles vêem-se a si próprios como combatentes numa
guerra de informação. E, à medida que a batalha pela opinião pública se
desenrola, eles estão entre as armas mais potentes do Ocidente. Parece claro que a Rússia está a perder a guerra da
informação. O Presidente Putin foi amplamente condenado, deu um novo fôlego à NATO
e uniu os países europeus na resistência. Os media russos e as fontes pró-russos
foram varridos da Internet. Apesar de a Rússia ser o principal beligerante nesta
guerra e de algumas fontes russas divulgarem informações falsas, devemos ser céticos
em relação às afirmações feitas pelo outro lado. Na guerra, observou o antigo
dramaturgo grego Ésquilo, a verdade é sempre a primeira vítima. Alan Macleod,
Mint Press.
«(…) Há cerca de dois meses a União Europeia ameaçava de
expulsão dois Estados, a Hungria e a Polónia, por não cumprirem os critérios
mínimos de transparência económica, independência do poder judicial, corrupção,
perseguição de minorias. A hipótese da Ucrânia cumprir os critérios de adesão
motivava há dois meses risada geral na União Europeia, de tal modo o regime da
oligarquia local estava muitos furos abaixo deles, com violência sobre
minorias, desrespeito pelos valores elementares de um Estado de Direito. Há dois meses a Ucrânia de Zelenski era um Estado mais
mafioso do que a Polónia e a Hungria e do que os Estados Bálticos. Um Estado na
categoria de iliberal, em que uma democracia formal justificava o poder de uma
minoria oligarca. Era uma Rússia em ponto mais pequeno. Ocorre a invasão russa e por milagre, e desfaçatez, tudo
muda em Bruxelas. A Ucrânia, que se dispunha a servir de base americana junto à
fronteira russa e a eliminar as populações de origem russa no Leste, para
facilitar a instalação de meios de ameaça ao vizinho, passa a ser o nec
plus ultra da democracia, da transparência, as suas forças armadas
dominadas por forças paramilitares de cariz nazi (o dito Batalhão Azov) passam
a ser heróicas defensoras da democracia e do Direito! Zelenski celebra missas
em todos os parlamentos, da ONU à Austrália. Falará, em breve, presumo,
no Speaker’s Corner, no Hyde Park de Londres, ao lado desse
exemplar de senso e respeitabilidade que é Boris Johnson. Irá a
um party em Downing Street! Porventura comprará o iate do Abramovitch
(a quem a UE atribuiu uma nacionalidade, através do governo português)! Com a invasão, a Polónia, uma teocracia reacionária
gerida por um gnomo antidemocrático — iliberal como se designam agora os
neofascistas — passa a ser milagrosamente um exemplo, porque acolhe refugiados,
recebe os gigantescos fundos da União Europeia (os nossos impostos) e autoriza
bases americanas, logísticas e operacionais para atacar a Rússia, incluindo
bases de misseis balísticos com ogivas nucleares! Um aliado abençoado! Ao lado da Polónia, um regime igualmente oligarca e
corrupto, o de Orbán, na Hungria, que fez outra análise dos seus interesses,
concluindo (para já) pela conveniência de não se meter debaixo do guarda-chuva
americano (aumentando o seu valor no mercado das alianças, porventura) e de lhe
servir de albergue, passou a ser execrável, anti-democrata, putinista. Pelo
menos por enquanto. Estamos assim conversados quanto à seriedade política da
União Europeia, quanto à invocação da ética e dos princípios por parte dos
dirigentes da UE. Gente que disfarça o mau cheiro com desodorizantes! (…)»
Carlos Matos Gomes, Ética e guerra – Medium.
E se Zelensky nos pedir para entrarmos na guerra à
Rússia? Pedro Tedeu, DN.
Paquistão: golpe parlamentar depõe primeiro-ministro
Imran Khan na sequência da sua posição anti-americana, pró-Rússia e pró-China
se ter tornado mais evidente. Denis Rogatyuk. Imran Khan é afastado depois de ter sido ameaçado pelos
EUA por recusar aceitar bases norte-americanas no Paquistão, escreve o TheDiplomat. O novo primeiro-ministro tem um passado de escândalos e
corrupção. São as insuspeitíssimas DW e CNN a dizer.
«Quem jura a pés juntos que pagou todos os impostos que
devia pagar quer que a gente não tope o que ficou por dizer, que é ‘depois de
fazer os possíveis por pagar menos’. O direito a pagar impostos fora da área de
residência foi legislado em 1799. Tudo para beneficiar o Império britânico.
Felizmente esse império acabou. O estatuto de contribuinte não residente também
devia ter sido eliminado. Mas se Sunak fizesse isso iria causar problemas à sua
esposa. E é por isso que ele não pode ser mais ministro das Finanças.» RichardMurphy.
«Quem julgava o velho salazarista remetido a cuidar dos
netos e a gerir as numerosas reformas que acumulou, algumas de forma suspeita,
e os pingues rendimentos que os negócios lhe proporcionaram, enganou-se. (…). Não
é o ódio do reacionário aos adversários, que considera inimigos, que surpreende
no político que aceitou constrangidamente a democracia, sendo o que mais
beneficiou dela, é a desfaçatez do cobarde a falar de coragem, do inculto que
aceitou ser catedrático de Literatura pela Universidade de Goa sem mostrar ter
lido uma única obra literária, do intriguista que escondeu a mão quando o seu
chefe da Casa Civil, Fernando Lima e o então diretor do Público se conluiaram
numa perfídia para destruir o PM. (…) O “grau de coragem política muito baixo”
de que acusa António Costa é a inaptidão deste para comprar ações não cotadas
na Bolsa, para si e família, a um dedicado amigo e futuro presidiário, de quem aceitou
chorudas mais valias, ou adquirir uma sumptuosa vivenda na praia da Coelha, de
origem suspeita, com trapalhadas fiscais e insólitos meandros na transação. (…)
O frustrado salazarista, que chegou ao 25 de Abril sem saber que vivia em
ditadura, diz de António Costa que “a retórica e a mentira não produzem
riqueza”, tendo experiência pessoal a abdicar apenas da retórica para
enriquecimento pessoal. (…) Cavaco sempre disse que não era político, e tinha
razão. Foi o anacronismo que alguns guindaram aos mais altos cargos, que o
levaram a jantar à vivenda de Ricardo Salgado para fazerem dele a mediocridade
nacional que alojaram dez anos em Belém.» Carlos Esperança.
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