«(…) Desde o primeiro dia da guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia, quando as tropas russas capturaram o local da catástrofe nuclear de Chernobyl, o presidente do país Volodymyr Zelenskyy e os seus funcionários alertaram para uma repetição da explosão que espalhou a fuga radioativa pela Europa. Na quarta-feira, a empresa nuclear ucraniana Energoatom disse que um corte de energia em Chernobyl significava que os sistemas de refrigeração seriam desligados e que "ocorreria a libertação de substâncias radioativas no ambiente. O vento pode transferir a nuvem radioactiva para outras regiões da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Europa".
Estas declarações fazem parte de uma ofensiva mediática ucraniana alarmista altamente eficaz para combater a barragem de mísseis e falsas declarações da Rússia. É fácil perceber por que razão a Ucrânia, frustrada pela compra contínua de petróleo russo por parte da Europa e pela recusa de implementar uma zona de exclusão aérea, considera que ainda precisa de fazer pressão sobre outros europeus para se concentrarem na brutalidade da investida russa, e nos perigos que esta representa. O problema é que os avisos nucleares criaram um dilema para os aliados da Ucrânia e para as autoridades de segurança nuclear.
Segundo as autoridades nucleares internacionais e
nacionais, a conduta da Rússia é perigosa, mas as instalações nucleares da
Ucrânia não representam uma ameaça iminente à escala europeia. A situação está
a ser tratada com extrema seriedade, mas a concepção de instalações nucleares
modernas significa que a maioria dos piores cenários levaria a precipitações
localizadas - devastadoras para a Ucrânia, mas não um perigo para a Europa em
geral.
O chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) Rafael Mariano Grossi expressou repetidamente as suas preocupações sobre a segurança nuclear à medida que o conflito se desenrola, mas em nenhum momento a organização alertou para um perigo explícito e imediato fora da Ucrânia. O Gabinete Federal Alemão de Proteção contra as Radiações disse na quarta-feira que, com base nas informações disponíveis sobre a situação em Chernobyl, "não havia risco de efeitos radiológicos na Alemanha". As agências de segurança nuclear belgas, finlandesas e polacas emitiram declarações semelhantes. (…)
Embora a Rússia seja o agressor e possa estar a utilizar as centrais nucleares para suscitar a ansiedade no Ocidente, as autoridades ucranianas têm contribuído para fomenter o medo do público. (…) Alguns aliados começaram a contradizer diretamente os ucranianos. Pouco depois do aviso desta semana da Energoatom sobre o corte de energia a Chernobyl, a Secretária da Energia dos EUA, Jennifer Granholm, considerou que "a perda de energia não representa um risco a curto prazo de fuga radiológica".
Por outro lado, as autoridades também não poderão minimizar os riscos num conflito rápido e imprevisível em que a informação e as motivações são difíceis de apreender plenamente. O instinto é o de errar no sentido de uma cautelça extrema e mesmo de alarme quando se trata de energia atómica. (...)»
LOUISE GUILLOT, KARL MATHIESEN e ZIA WEISE, The politics behind Ukraine’s alarming nuclear warnings - Politico.
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