quinta-feira, 17 de março de 2022

Bico calado

  • «(...) Nos últimos dias, funcionários dos EUA e da NATO destacaram a utilização pela Rússia de armas proibidas, incluindo munições de fragmentação, e afirmaram que a sua utilização constitui uma violação do direito internacional. Isto é indiscutivelmente verdade. O que praticamente não é mencionado em grande parte dos relatórios sobre este tema é que os EUA, tal como a Rússia e a Ucrânia, recusam-se a assinar a Convenção sobre Munições de Fragmentação. Os EUA têm usado repetidamente bombas de fragmentação, desde a guerra no Vietname e os bombardeamentos "secretos" do Camboja. Mais recentemente, tanto os presidentes Bill Clinton como George W. Bush utilizaram-nas. O Presidente Barack Obama usou bombas de fragmentação no Iémen, num ataque em 2009 que matou cerca de 55 pessoas, a maioria das quais mulheres e crianças. Apesar da proibição em vigor desde 2010, os EUA continuaram a vender bombas de fragmentação a nações como a Arábia Saudita, que as tem utilizado com frequência nos seus ataques no Iémen. (...) Vladimir Putin e os políticos russos responsáveis por esta invasão da Ucrânia devem enfrentar a justiça. Uma vez reunidas as provas, todos os crimes de guerra devem ser investigados, acusados e processados. O local óbvio para tal seria perante o Tribunal Penal Internacional. No entanto, há um facto inconveniente: os EUA recusaram-se a ratificar o Estatuto de Roma, que criou o TPI. Em 2002, Bush assinou legislação que autoriza os EUA a conduzir literalmente operações militares em Haia para libertar qualquer pessoal americano levado a julgamento por crimes de guerra. É indefensável que os EUA tenham estabelecido um precedente de que as nações poderosas não precisam de ser responsabilizadas pelos seus crimes. É um precedente que a Rússia conhece bem, explora regularmente, e certamente utilizará repetidamente»Jeremy Scahill, The Intercept.
  • A França oferece asilo a jornalista que protestou na televisão russa. Euractiv. Julian Assange denuncia crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos. Nenhum país lhe oferece asilo politico e ele acaba apodrecendo numa prisão.
  • «(...) Os países ocidentais são suspeitos de esquecer todas as suas invasões passadas e de pensar como sempre apenas na defesa dos seus interesses e domínio. O problema é que o sistema jurídico e financeiro posto em prática pelo Ocidente durante várias décadas tem como principal objetivo proteger os ricos, venham eles de onde vierem, à custa de outros. Se um russo comum perder metade da sua pensão ou salário devido à queda do rublo e à inflação causada pelas sanções, então não há recurso, não há tribunal a quem se possa queixar. Por outro lado, se se privar um oligarca com 100 milhões de euros de metade da sua fortuna, existem então múltiplos procedimentos para contestar a decisão, e quase sempre não paga nada. Estamos tão habituados a isto que já não lhe damos atenção, mas na realidade é uma regra de direito totalmente tendenciosa e assimétrica. É indo muito mais longe no direito e na justiça que os países ocidentais poderão contribuir para a construção de um mundo pós-militarista e pós-colonial». Thomas Pichetty, Confronting war, rethinking sanctions – Le Monde.
  • Segundo a ONU, cerca de 377.000 pessoas morreram na guerra apoiada pela NATO no Iémen até ao final de 2021, 70% das quais crianças com menos de cinco anos. Aljazeera. Esta tragédia recebeu menos cobertura nos últimos sete anos do que a guerra na Ucrânia recebeu em duas semanas.

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