Bico calado
- «(...) Nos últimos dias, funcionários dos EUA e da NATO
destacaram a utilização pela Rússia de armas proibidas, incluindo munições de
fragmentação, e afirmaram que a sua utilização constitui uma violação do
direito internacional. Isto é indiscutivelmente verdade. O que praticamente não
é mencionado em grande parte dos relatórios sobre este tema é que os EUA, tal
como a Rússia e a Ucrânia, recusam-se a assinar a Convenção sobre Munições de
Fragmentação. Os EUA têm usado repetidamente bombas de fragmentação, desde a
guerra no Vietname e os bombardeamentos "secretos" do Camboja. Mais
recentemente, tanto os presidentes Bill Clinton como George W. Bush utilizaram-nas.
O Presidente Barack Obama usou bombas de fragmentação no Iémen, num ataque em
2009 que matou cerca de 55 pessoas, a maioria das quais mulheres e crianças.
Apesar da proibição em vigor desde 2010, os EUA continuaram a vender bombas de
fragmentação a nações como a Arábia Saudita, que as tem utilizado com
frequência nos seus ataques no Iémen. (...) Vladimir Putin e os políticos
russos responsáveis por esta invasão da Ucrânia devem enfrentar a justiça. Uma
vez reunidas as provas, todos os crimes de guerra devem ser investigados,
acusados e processados. O local óbvio para tal seria perante o Tribunal Penal
Internacional. No entanto, há um facto inconveniente: os EUA recusaram-se a
ratificar o Estatuto de Roma, que criou o TPI. Em 2002, Bush assinou legislação
que autoriza os EUA a conduzir literalmente operações militares em Haia para
libertar qualquer pessoal americano levado a julgamento por crimes de guerra. É
indefensável que os EUA tenham estabelecido um precedente de que as nações
poderosas não precisam de ser responsabilizadas pelos seus crimes. É um
precedente que a Rússia conhece bem, explora regularmente, e certamente
utilizará repetidamente». Jeremy Scahill,
The Intercept.
- A França oferece asilo a jornalista que protestou na
televisão russa. Euractiv. Julian Assange denuncia crimes de guerra cometidos por
militares norte-americanos. Nenhum país lhe oferece asilo politico e ele acaba
apodrecendo numa prisão.
- «(...) Os países ocidentais são suspeitos de esquecer
todas as suas invasões passadas e de pensar como sempre apenas na defesa dos
seus interesses e domínio. O problema é que o sistema jurídico e financeiro
posto em prática pelo Ocidente durante várias décadas tem como principal
objetivo proteger os ricos, venham eles de onde vierem, à custa de outros. Se um russo comum perder metade da sua pensão ou salário
devido à queda do rublo e à inflação causada pelas sanções, então não há
recurso, não há tribunal a quem se possa queixar. Por outro lado, se se privar
um oligarca com 100 milhões de euros de metade da sua fortuna, existem então
múltiplos procedimentos para contestar a decisão, e quase sempre não paga nada.
Estamos tão habituados a isto que já não lhe damos atenção, mas na realidade é
uma regra de direito totalmente tendenciosa e assimétrica. É indo muito mais
longe no direito e na justiça que os países ocidentais poderão contribuir para
a construção de um mundo pós-militarista e pós-colonial». Thomas Pichetty, Confronting war, rethinking sanctions –
Le Monde.
- Segundo a ONU, cerca de 377.000 pessoas morreram na
guerra apoiada pela NATO no Iémen até ao final de 2021, 70% das quais crianças
com menos de cinco anos. Aljazeera. Esta tragédia recebeu menos cobertura nos últimos sete
anos do que a guerra na Ucrânia recebeu em duas semanas.
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