«No meio da atual controvérsia e confusão, será útil
rever os acontecimentos anteriores mais importantes e analisar como é que isto
aconteceu. Seguem-se alguns acontecimentos chave e factos históricos que
conduziram à actual crise na Ucrânia.
Facto 1. Em fevereiro de 2014, um golpe de Estado derrubou o governo ucraniano que chegou ao poder numa eleição certificada pela OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação). O presidente, Viktor Yanukovich, foi forçado a fugir para salvar a pele. Esta situação foi analisada na altura por Seumas Milne, que escreveu: "A tentativa de levar Kiev para o campo ocidental, expulsando um líder eleito, tornou certo o conflito. Poderá ser uma ameaça para todos nós".
Facto 2. O golpe foi promovido por funcionários dos EUA. Neoconservadores como Victoria Nuland e John McCain apoiaram ativamente os protestos. Segundo uma chamada telefónica gravada secretamente, Nuland determinou a composição do futuro governo com semanas de antecedência.* Mais tarde, Nuland gabou-se de ter gasto 5 mil milhões de dólares nesta campanha ao longo de duas décadas. Antes do golpe ser "partejado", Nuland rejeitou veementemente um possível acordo de compromisso europeu que teria levado a um governo de compromisso. "Que se lixe a UE!", disse ela. Nuland geriu o golpe, mas o vice-presidente Biden controlava tudo, como aliás, no telefonema, ela admite que Biden daria o derradeiro OK de parabéns aos líderes do golpe. Subsequentemente, o filho de Joe Biden beneficiou pessoalmente do golpe. Victoria Nuland tem agora ainda mais poder como Subsecretária de Estado para os Assuntos Políticos. As forças secretas dos EUA, tais como a CIA, terão estado envolvidas.
Facto 3. O governo golpista agiu imediatamente com hostilidade para com os seus cidadãos de língua russa. Aproximadamente 30% dos cidadãos ucranianos têm o russo como primeira língua, no entanto, no primeiro dia no poder, o regime golpista agiu para que o russo deixasse de ser uma língua oficial do Estado. A isto seguiram-se mais ações de hostilidade. Como documentado no vídeo "Crimes dos Nazis Euromaidanos", uma caravana de autocarros que regressava para a Crimeia foi atacada. Em Odessa, mais detrinta adversários do governo golpista morreram quando foram atacados e a sala da sede dos sindicatos foi incendiada.
Facto 4. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve alguns simpatizantes nazis na Ucrânia ocidental, quando os alemães invadiram a União Soviética. Este elemento continua hoje em dia sob a forma de Svoboda e outros partidos nacionalistas de extrema-direita. O governo ucraniano até aprovou legislação que homenageava os colaboradores nazis enquanto retirava estátuas em homenagem aos patriotas anti-nazis. A situação foi descrita há três anos no artigo "Neo-nazis e a extrema-direita avançam naUcrânia". O autor questionava porque é que os EUA estavam a apoiar isto. Sob o Presidente Poroshenko (2014 a 2019), o nacionalismo aumentou e até a Igreja Ortodoxa se desmenbrou.
Facto 5. A secessão da Crimeia, Donetsk e Luhansk são um resultado direto do golpe de Estado de 2014. Na Crimeia, uma votação referendária foi rapidamente organizada. Com 83% de participação e 97% de votos a favor, a população da Crimeia decidiu separar-se da Ucrânia e reunificar-se com a Rússia. A Crimea fazia parte da Rússia desde 1783, mas em 1954 a sua administração foi transferida para a Ucrânia, integrando-se na União Soviética, o que foi feito sem consultar a população. Nas províncias de Luhansk e Donetsk, na fronteira com a Rússia, a maioria da população fala russo e não mostra hostilidade para com a Rússia. O regime golpista de Kiev foi hostil e adotou políticas com as quais discordava veementemente. Na Primavera de 2014, as Repúblicas Populares de Luhansk e Donetsk declararam a sua independência do regime de Kiev.
Facto 6. Os Acordos de Minsk de 2014 e 2015 foram assinados pela Ucrânia, rebeldes ucranianos, Rússia e autoridades europeias. O objetivo era pôr fim ao derramamento de sangue na Ucrânia oriental e manter a integridade territorial da Ucrânia, concedendo simultaneamente uma medida de autonomia a Luhansk e Donetsk. Estes acordos foram posteriormente repudiados pelo governo de Kiev e Washington, o que levou à decisão da Rússia, a 21 de fevereiro de 2022, de reconhecer as Repúblicas Populares de Donetsk (DPR) e Luhansk (LPR).
Mas a secessão não é ilegal à luz do direito internacional? Os EUA e a NATO têm pouca credibilidade para se oporem à secessão desde que promoveram a desintegração da Jugoslávia, a secessão do Kosovo da Sérvia, a secessão do Sul do Sudão do Sudão, e os esforços de secessão curda no Iraque e na Síria, etc. A secessão da Crimeia justifica-se pela sua história única e por um apoio popular esmagador. A secessão de Luhansk e Donetsk pode ser justificada pelo golpe ilegal de Kiev de 2014. A intervenção dos EUA, tanto conhecida como secreta, tem sido um dos principais motores dos acontecimentos na Ucrânia. Os EUA têm sido o principal instigador do conflito.»
Rick Sterling, Oriental Review. Via Global Politics.
* Transcrição da conversa telefónica divulgada pela BBC em 7fev2014. https://www.bbc.com/news/world-europe-26079957
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