quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Bico calado

  • «Em finais de junho, conduzi até Berlim, fui buscar Adelheid, e partimos para Espanha e Portugal, através da Côte d'Azur, vivendo a baixo custo, chegando mesmo a dormir no carro algumas vezes. Portugal era o nosso principal destino, pois em abril do ano anterior tinha havido um golpe militar que derrubara 48 anos de fascismo. Oficiais militares numa nação ocidental que falavam como socialistas era ficção científica para a mente americana, mas tinha-se tornado uma realidade em Portugal - nacionalização das grandes indústrias, controlo operário, salário mínimo, reforma agrária, e muito mais, estavam em vias de se concretizar. O centro de Lisboa estava cheio desde manhã até à noite, com pessoas a discutir as mudanças, tal como no Chile. O símbolo visual da revolução portuguesa era a imagem de uma criança enfiando uma rosa no cano de uma espingarda nas mãos de soldado amigo, e nós fomos apanhados por manifestações e desfiles cheios de gente, incluindo nós próprios, de pé em tanques e atirando cravos, com a multidão a aplaudir os soldados. Era uma cena inebriante, e eu teria adorado acreditar, mas eu e a maioria das pessoas com quem falei ali não tínhamos grandes dúvidas de que o Império Americano não podia deixar uma lufada de ar fresco como aquela durar muito tempo. O derrube do governo chileno tinha aumentado não só o nível de paranóia, mas também a consciência política coletiva do mundo. As impressões digitais da CIA já eram evidentes em Portugal, e antes do fim do ano, o Partido "Socialista", fortemente financiado pela CIA, tinha chegado ao poder. A revolução portuguesa estava morta, nado-morta.» William Blum, West-block dissent: a cold war memoir – Soft Skull Press 2002. pp 188-189

  • A semana de quatro dias está de volta ao debate público graças a experiências em França e no estrangeiro. Entre a resposta ao desemprego em massa, o bem-estar e as vantagens ecológicas, os argumentos a favor de uma redução do tempo de trabalho estão a encontrar cada vez mais apoio. Na Nova Zelândia, Suécia, Islândia e Japão, filiais de grandes grupos como a Unilever e a Microsoft, assim como empresas mais pequenas, experimentaram temporariamente a semana de quatro dias com o apoio dos seus governos. A partir de 2022 e durante um período de três anos, 200 empresas espanholas irão experimentá-lo. Enzo Dubesset, Reporterre.
  • «Boris Johnson é o primeiro-ministro mais perigoso que já tivemos em toda a era democrática. Ele cria esta impressão de ser relaxado e engraçado e espontâneo e incompetente. É tudo calculado e ele desarma as pessoas com esta impressão de incompetência desastrosa. Mas ele é absolutamente impiedoso quando se trata da conquista do poder e sente fraqueza no nosso sistema político como um tubarão cheira sangue e por isso, avança e explora essa fraqueza com grande eficácia. Se há uma coisa que a história dos últimos 100 anos nos diz é que temos de ter cuidado com os palhaços. Na política, as pessoas que parecem ridículas são as pessoas mais perigosas de todas. Não estávamos suficientemente conscientes dos perigos dos palhaços e elegemos um como primeiro-ministro. Todo a força do poder irresponsável é que se pode fazer coisas que outras pessoas não podem. Não temos de obedecer às regras porque somos poderosos, estamos acima de tudo isso, as outras pessoas é que obedecem e por isso temos esta situação neste país onde o primeiro-ministro e os seus comparas nos gozam por cumprirmos as regras que eles ignoram e riem-se na nossa cara enquanto o fazem e impõem-nos a legislação mais draconiana de que há memória. É assim que a ditadura funciona, e estamos a cair para lá no momento em que o poder motriz da ditadura mostra que há uma lei para a elite e uma lei completamente diferente para o povo.». George Monbiot.

1 comentário:

OLima disse...

The government has suffered a series of defeats in the House of Lords over its plans to clamp down on disruptive and noisy protesters.

Opposition peers voted against a range of measures in the Police, Crime, Sentencing and Courts Bill, with Labour calling some of the plans "outrageous".

Peers also voted to make misogyny a hate crime in England and Wales.

No 10 said it was disappointed peers voted against measures to combat the "guerilla tactics" of some protesters.
The bill is a huge piece of legislation that covers major proposed changes on crime and justice in England and Wales.

The most controversial part of it is on the planned changes to protests - which the government proposed in response to environmental activists who have blocked roads, glued themselves to trains and stopped printing presses in recent years.

The government was hoping to get the Lords to support its proposals, but in a series of votes lasting until the early hours of Tuesday morning, peers repeatedly voted against the government.Ministers were defeated, by 261 votes to 166, over plans to give the police new powers to stop protests in England and Wales if they are deemed to be too noisy and disruptive.

And the Lords also backed, by 238 votes to 171, a Liberal Democrat amendment to strip out the power to impose conditions on protests on noise grounds.
https://www.bbc.com/news/uk-politics-60032465