domingo, 5 de dezembro de 2021

Reflexão - «Empresas de relações públicas, obstrucionistas da ação climática»

Para a indústria de combustíveis fósseis, manter os seus lucros num modelo cada vez mais obsoleto para ela, precisa da cumplicidade de outros atores fora do setor. Um estudo publicado na revista Climatic Change aborda o papel fundamental das empresas de relações públicas a este respeito, partindo da premissa de que a sua importância tem sido negligenciada no debate sobre o clima.

Após uma investigação de cinco anos, o relatório conclui que o campo de relações públicas é uma força importante na obstrução da acção climática nos EUA. Ou seja, atrasam a implementação de políticas climáticas alinhadas com a mitigação das alterações climáticas - tal como as companhias petrolíferas ou os governos - na prossecução dos seus próprios interesses.

O estudo, de Robert Brulle e Cartie Werthman da Brown University, analisa algumas das principais empresas do setor: Edelman, Hill & Knowlton, Fleishman-Hillard ou Ketchum e Caplan. A Edelman, a maior empresa de relações públicas do mundo, foi destacou-se durante a COP26 numa declaração pública assinada por celebridades, peritos e activistas. A razão: ter como cliente a petrolífera ExxonMobil. Outra das empresas de relações públicas que trabalham com a indústria de combustíveis fósseis é a Weber Shandwick, que em 2014 fez parte de uma iniciativa de várias empresas de combustíveis fósseis para repudiar publicamente o trabalho com os negacionistas das alterações climáticas. "Não apoiaríamos uma campanha que negasse a existência e a ameaça representada pelas alterações climáticas ou os esforços para obstruir os regulamentos que reduzem as emissões de gases com efeito de estufa e/ou as normas de energia renovável", disse na altura a porta-voz da empresa, Michelle Selesky. Posteriormente, Weber Shandwick continuou a trabalhar com a ExxonMobil. Recentemente, um lobista da ExxonMobil minimizou o perigo da crise climática e defendeu a exploração comercial do rótulo "prémio verde".

No início dos anos 2000, a BP popularizou o conceito de "pegada de carbono". Um termo agora familiar foi utilizado por uma das grandes empresas de lóbi petrolífero para a lavagem da sua imagem. Para tentar convencer os consumidores de que eram mais ecológicos do que a concorrência, em 2005, criaram uma calculadora no seu website para que qualquer pessoa pudesse calcular a sua pegada de carbono, sempre com base nas suas atividades diárias.

A investigação da Universidade de Brown sugere que muitos termos climáticos vulgarmente utilizados são o resultado de campanhas de marketing. Por exemplo: carvão limpo, gás natural renovável ou a própria pegada de carbono, com a qual a BP quis tornar o público responsável pelo aquecimento global e assim distrair a atenção de quem são os principais culpados.

"A obstrução da indústria dos combustíveis fósseis à ação climática vai além da desinformação e da negação do clima. Uma parte importante deste esforço envolve a melhoria da reputação pública destas empresas", explica Robert Brulle, co-autor da investigação. Assim, "as empresas de relações públicas fazem parte da máquina de propaganda corporativa que orienta a forma como a população dos EUA pensa sobre o assunto", acrescenta.

Alba Mareca, Climática.

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