O despejo ilegal de resíduos, muitos deles perigosos, a
maioria persistente, é agora uma crise maciça no Reino Unido, causada por
falhas chocantes do governo. Grandes áreas de terra e fontes cruciais de águas
subterrâneas estão a ser contaminadas por descargas ilegais, e quase ninguém no
poder parece importar-se com isso.
A eliminação de resíduos neste país depende, em grande
medida, da auto-regulação. Cabe-nos a nós verificar se a pessoa a quem
entregamos os resíduos é um transportador registado e responsável. Mas um
estudo sobre os transportadores de resíduos não registados em Inglaterra,
realizado por Ray Purdy da Faculdade de Direito da Universidade de Oxford e Mat
Crocker, antigo diretor adjunto dos resíduos na Agência do Ambiente, mostra que
a verificação é quase impossível. Centenas de empresas diferentes utilizam
nomes idênticos no registo oficial da Agência do Ambiente, que muitas vezes não
têm qualquer relação com os nomes sob os quais anunciam ou comercializam.
Muitas fornecem nomes falsos e localizações falsas, incluindo edifícios
abandonados, recintos desportivos, etc. As falhas técnicas, não corrigidas após
cinco anos, garantem que a plataforma é pouco funcional. Purdy e Crocker
descobriram que a Agência do Ambiente não tinha dados sobre o tráfego online,
nem pesquisa sobre quantas pessoas tinham conhecimento da existência do
registo. Não existe nenhuma secção no registo para denunciar empresas que
trabalham ilegalmente.
A investigação de Purdy e Crocker mostra que dois terços
das empresas não constavam da lista, portanto operavam ilegalmente. No seu
conjunto, estima-se que haja mais de um quarto de milhão de operadores de
resíduos não registados em Inglaterra.
Investigando anúncios colocados por pessoas que se
ofereceram para remover lixo, Purdy e Crocker relatam que muitos dos que
pareciam ser empresários individuais (homem e carrinha) pertenciam, de facto, a
redes organizadas. De 10.426 anúncios na Gumtree que seguiram, descobriram que
mais de 4.000 tinham sido comprados por apenas duas organizações, que juntas
gastam cerca de £300.000 por ano em publicidade na plataforma. No entanto,
estes anúncios afirmam estar a promover pequenas empresas locais. Os
investigadores estimam que cada uma das carrinhas de uma rede, poderia permitir
a evasão fiscal de £132.000. Segundo eles, o retorno do investimento para uma
empresa que gere 100 de falsos empresários individuais, está algures entre 40 a
1 e 80 a 1. Aqui, como em Itália, parece que temos uma máfia do lixo. Mas ao
contrário da máfia italiana, a nossa raramente precisa de recorrer à
intimidação ou à violência, porque ninguém lhe faz frente.
A investigação sugere que entre 1 e 6 milhões de
toneladas de resíduos em Inglaterra são tratados todos os anos fora do sistema
legal. Os resíduos despejados ilegalmente contaminam o solo, a água e - quando
são deliberada ou espontaneamente queimados - o ar com uma vasta gama de
toxinas, a maioria das quais é susceptível de não ser monitorizada e não
registada. Quanto mais perigosos forem os resíduos, maior é o incentivo para
cortar nas despesas.
George Monbiot, Negócio sujo: quem irá impedir a máfia britânica de despejar lixo ilegal? - The Guardian.
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