«(…) até onde se deve intervir na paisagem com
passadiços, trilhos, baloiços e pontes? Um passadiço de madeira tem méritos
inquestionáveis, ao facilitar o acesso a outros grupos etários e de mobilidade,
ao desencorajar o pisoteio e ao democratizar a caminhada, mas é sempre uma
agressão. E, com frequência, não é mais do que uma marca criada em cima de um
percurso pedestre que já existia ou que podia ser feito sem artifícios.
Em Nisa, por exemplo, o novo Trilho da Barca da Amieira
sobrepõe-se ao velho PR1-NIS Trilho das Jans. Um amigo geólogo queixa-se que a
insensibilidade foi tanta que quem montou o novo projecto (com passadiços,
baloiços e modelos de aves em ferro) ignorou os velhos muros de sirga
utilizados no passado para vencer os cachões do Tejo.
Não sou totalmente avesso a passadiços até porque eles
têm a vantagem de um dia poderem ser removidos sem grandes repercussões na
paisagem. Uma ponte de betão ficará lá para sempre, como uma cicatriz da nossa
época.
Mas consulto o Portal Base e verifico que, nos últimos dez anos, foram adjudicadas 721 obras públicas relacionadas com passadiços.... 721! Já passámos o ponto da loucura.»
Gonçalo Pereira Rosa, 18set2021.
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