Bico calado
- «(...) para além de desastres como a fome na Irlanda, a
depressão na Inglaterra, a guerra civil, a rebelião, a repressão brutal, a
peste bovina, o fracasso das colheitas, o desemprego, a inflação, as más
colheitas associadas à recessão climática da pequena idade do gelo, a
subnutrição e o "Inverno Negro" de 1771-2, a condenação criminal foi
um dos principais motores da emigração imperial. Segundo Eric Richards, as
autoridades gostavam de enviar "prostitutas, pobres e criminosos"
para as colónias, ameaçando-os de enforcamento se se atrevessem a regressar.
Entre 1661 e 1700 cerca de 4.500 criminosos ingleses foram transportados, e
quando a Grã-Bretanha perdeu as suas colónias em 1776 a nação encontrou
rapidamente um local alternativo de despejo na Nova Gales do Sul. Entretanto, a
"emigração organizada de crianças", ou "rapto
filantrópico", como disse um crítico, grassava entre o final do século XIX
e o início do século XX, com a Dr Barnardo’s a transportar 28.000 crianças para
o Canadá entre 1870 e 1914.» Sathnam Sanghera, Empireland – Penguin 2021.
- «(…) Os Jogos 20–21 foram a vitória de Pirro dos que
iludem os seus semelhantes sobre a vitória da humanidade contra a natureza.
Desta vez a chama olímpica ainda conseguiu tornar invisíveis as fontes das
calamidades que inundam a Europa e a Ásia, do degelo nas zonas polares, dos
incêndios na Austrália, na Califórnia, na Grécia, das secas, das migrações de
milhões de seres sem condições de sobrevivência. Desta vez os senhores dos
Jogos ainda conseguiram calar qualquer manifestação que acusasse as políticas que
conduziram ao desastre resultante da sobrexploração de recursos naturais e da
iníqua distribuição deles. Nem sequer foi permitido um minuto de silêncio a
recordar as duas bombas atómicas lançadas sobre o Japão, a prova de que é
possível aos dirigentes da humanidade conduzirem-na a um harakiri apocalítico
e evitar reclamações. (…) Não resisto a lembrar que, para a apanha dos morangos,
do melão ou do tomate, Portugal importou e importa delegações de atletas do
Bangladesh, da Tailândia, mas aos racistas só os incomodou o cubano do triplo
salto!(…)» Carlos Matos Gomes, Ainda houve Jogos! – Medium.
- Porque é que algumas catástrofes nos perturbam mais do que outras? Tudo começa com a cobertura das agências noticiosas cujo pessoal se concentra em certas zonas, constituindo assim um primeiro filtro entre um evento que ocorre no estrangeiro e o público de outros países. O segundo filtro é os media nacionais, que podem ou não optar por publicar informação sobre eventos longínquos. Um terceiro fator será o contexto sócio-cultural: quanto mais próxima a notícia estiver do modo de vida, organização política ou religião de um país, mais o leitor ou espetador se sentirá preocupado. Alexandre-Reza Kokabi, Reporterre.
- O Wikileaks, em associação com a Contralínea, divulgou mais de 17 mil ficheiros das organizações espanholas de extrema direita Hazte Oír e Citizen Go: os seus doadores, a sua agenda e as suas estratégias de penetração nas sociedades e governos de 50 países do mundo. El Ciudadano.
Sem comentários:
Enviar um comentário