Bico calado
- «Samantha Power, chefe da Agência Americana para o Desenvolvimento
Internacional, celebrou a adesão do Sudão ao Tribunal Penal Internacional em
Haia. Ironicamente, os próprios Estados Unidos não aderiram ao Tribunal Penal
Internacional. Além disso, em 2002, o Presidente George W. Bush assinou uma lei
autorizando os militares dos EUA a invadir os Países Baixos para libertar
qualquer americano que esteja sob a alçada do tribunal. Em segundo lugar, a
administração Biden opôs-se veementemente às investigações do TPI sobre as
ações de Israel (e palestinianos) na Cisjordânia e Gaza e dos EUA (e dos
Talibãs e do antigo governo afegão) no Afeganistão. Terceiro, em 2014, quando
Samantha Power era embaixadora dos EUA na ONU durante a administração Obama,
tentou pessoalmente impedir a Autoridade Palestiniana de aderir ao TPI - ou
seja, exatamente o que elogia agora o Sudão por ter feito. Ao mesmo tempo, ela
apoiou em voz alta uma tentativa do Conselho de Segurança da ONU de remeter a
Síria para o TPI para uma investigação de atrocidades de todos os lados durante
a guerra civil do país.» Jon Schwarz, The Intercept.
- Se alguém disser que está a chover, e outra pessoa
disser que não, o jornalista não deve citar ambos. Deve olhar pela janela e confirmar
a verdade. Agora mais do que nunca. Andrea Junker.
- Winston Churchill estava num exército britânico que
invadiu o Afeganistão em 1897 e disse: "Depois de hoje, começamos a
queimar aldeias. Todas. E as que resistirem serão mortas sem apelo nem agravo.
Os Mohmands precisam de uma lição, e não há dúvida de que somos um povo muito
cruel". Via Justin Podur.
- "(...) as provas do imperialismo foram por vezes
deliberadamente destruídas ou manipuladas. Em 1961, o Secretário de Estado das
Colónias, Iain Macleod, ordenou que aos governos pós-independência fosse negado
o acesso a qualquer material que "pudesse envergonhar" o governo de
Sua Majestade ou membros da polícia, forças militares ou funcionários públicos,
ou que pudesse comprometer as fontes de informação, ou que "pudesse ser
utilizado de forma antiética pelos ministros do governo sucessor".
Entretanto, um inquérito oficial concluiu em 2012 que milhares de documentos
detalhando atos deploráveis cometidos durante os últimos dias do império
britânico tinham sido destruídos, enquanto outros foram mantidos selados, violando
obrigações legais de os passar para o domínio público. Entre estes documentos
ilegalmente escondidos, guardados durante meio século num arquivo do Ministério
dos Negócios Estrangeiros, fora do alcance de historiadores, jornalistas e outros
setores interessadas, havia registos que provavam que os ministros em Londres
tinham conhecimento dos horrores infligidos aos insurgentes Mau Mau no Quénia,
incluindo o assassinato de um homem que terá sido "assado vivo";
relatórios dos serviços secretos sobre a "eliminação" dos opositores ao
regime colonial na década de 1950 na Malásia; e pormenores sobre a forma como o
Reino Unido deslocalizou à força insulares de Diego Garcia no Oceano Índico por
volta de 1970». Sathnam Sanghera, Empireland – Penguin 2021.
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