A deservagem tornou-se habitual no meio urbano devido a
uma confusão cultural resultante da urbanização de populações rurais que
recusam, na cidade, todo o sinal de natureza “selvagem”, ligando isso ao
conceito de “sujidade”.
Não aceitam as “ervas daninhas”, não aceitam as folhas
das árvores no Outono, recusam jardins com espécies autóctones (as populares
Urzes, por exemplo), exigem a poda das árvores ornamentais, por similaridade
com o que, no campo, faziam anualmente às fruteiras e não veem com bons olhos a
realização de feiras urbanas de agricultores de proximidade.
Ao autóctone, preferem o exótico: em lugar de um Carvalho
ou de um Sobreiro, uma Palmeira ou uma Magnólia; em lugar de um económico prado
de sequeiro, bem mediterrânico, um relvado “à inglesa”, bem nórdico.
Não há, na maioria dos casos, qualquer outra razão para
“perseguir” as pequenas ervas que espontaneamente surgem nos nossos passeios e
taludes, até porque frequentemente tem utilidade:
• São importantes, especialmente nos taludes, para evitar
a erosão e perda do solo; devido à deservagem, os taludes frequentemente caiem;
• Absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, que
depois passam para o solo, e libertam oxigénio (O2), contribuindo para mitigar
as alterações climáticas;
• Proporcionam alimento a insetos, nomeadamente às
abelhas, e às aves insectívoras.
Argumentos como “as ervas criam bichos” são completamente
falsos pois se as ervas servissem de suporte a alguma comunidade animal, teria
que ser a fitófagos (animais que se alimentam de plantas), e nunca a “ratos e
cobras”, como frequentemente é dito.
Os ratos vivem do lixo que as pessoas depositam nos
passeios e espaços verdes (lixo doméstico mal-acondicionado, restos de comida,
etc.) e as cobras alimentam-se dos primeiros.
É verdade que as herbáceas também têm alguns
inconvenientes, como a alergia às gramíneas, mas a isso não é possível fugir
pois temos as gramíneas forrageiras, como os fenos e relvas, e árvores como
ciprestes e oliveiras; não é possível fugir, mas é possível tratar com o apoio
de um médico alergologista.
Do ponto de vista do ambiente e da nossa qualidade de
vida, é preferível suportar uma alergia de Primavera, a eliminar as herbáceas
da natureza (o que de todo seria impossível) trocando-as por potentes tóxicos a
que chamamos herbicidas, mas que, na realidade, são biocidas.
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