terça-feira, 27 de julho de 2021

Reflexão – Sobre deservagem urbana

A deservagem tornou-se habitual no meio urbano devido a uma confusão cultural resultante da urbanização de populações rurais que recusam, na cidade, todo o sinal de natureza “selvagem”, ligando isso ao conceito de “sujidade”.

Não aceitam as “ervas daninhas”, não aceitam as folhas das árvores no Outono, recusam jardins com espécies autóctones (as populares Urzes, por exemplo), exigem a poda das árvores ornamentais, por similaridade com o que, no campo, faziam anualmente às fruteiras e não veem com bons olhos a realização de feiras urbanas de agricultores de proximidade.

Ao autóctone, preferem o exótico: em lugar de um Carvalho ou de um Sobreiro, uma Palmeira ou uma Magnólia; em lugar de um económico prado de sequeiro, bem mediterrânico, um relvado “à inglesa”, bem nórdico.

Não há, na maioria dos casos, qualquer outra razão para “perseguir” as pequenas ervas que espontaneamente surgem nos nossos passeios e taludes, até porque frequentemente tem utilidade:

São importantes, especialmente nos taludes, para evitar a erosão e perda do solo; devido à deservagem, os taludes frequentemente caiem;

• Absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, que depois passam para o solo, e libertam oxigénio (O2), contribuindo para mitigar as alterações climáticas;

Proporcionam alimento a insetos, nomeadamente às abelhas, e às aves insectívoras.

Argumentos como “as ervas criam bichos” são completamente falsos pois se as ervas servissem de suporte a alguma comunidade animal, teria que ser a fitófagos (animais que se alimentam de plantas), e nunca a “ratos e cobras”, como frequentemente é dito.

Os ratos vivem do lixo que as pessoas depositam nos passeios e espaços verdes (lixo doméstico mal-acondicionado, restos de comida, etc.) e as cobras alimentam-se dos primeiros.

É verdade que as herbáceas também têm alguns inconvenientes, como a alergia às gramíneas, mas a isso não é possível fugir pois temos as gramíneas forrageiras, como os fenos e relvas, e árvores como ciprestes e oliveiras; não é possível fugir, mas é possível tratar com o apoio de um médico alergologista.

Do ponto de vista do ambiente e da nossa qualidade de vida, é preferível suportar uma alergia de Primavera, a eliminar as herbáceas da natureza (o que de todo seria impossível) trocando-as por potentes tóxicos a que chamamos herbicidas, mas que, na realidade, são biocidas.

Nuno Gomes Oliveira.

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