Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
segunda-feira, 26 de julho de 2021
Bico calado
A deputada trabalhista Dawn Butler foi convidada a
abandonar o parlamento britânico depois de se recusar a retirar as acusações de
que Boris Johnson mentiu inúmeras vezes durante a pandemia de Covid-19. «É
perigoso mentir numa pandemia», disse a deputada. «Os pobres do nosso país
pagaram com as suas vidas porque o primeiro-ministro passou os últimos 18 meses
a enganar este parlamento e o país várias vezes». «Quando não é permitido dizer a verdade no parlamento, é
tempo de reconstruir a democracia a partir do zero. ... O governo não diz
mentiras para contradizer a verdade. Diz mentiras para o levar ao ponto de
pensar que a verdade não existe.» Richard Murphy. «Uma
das muitas formas pelas quais as nossas antiquadas e ridículas tradições
parlamentares frustram a democracia.» George Monbiot.
Otelo Saraiva de Carvalho (1936 – 2021) – Grande estratega
do 25 de abril de 1974.
«(…) Os portugueses que viveram em idade adulta o tempo
da ditadura salazarista não têm qualquer dúvida em distinguir democracia e
autoritarismo e em preferir a primeira ao segundo. Os que nasceram depois de 1974, ou pouco tempo antes, quando não aprenderam
dos pais o que foi a ditadura, muito provavelmente também não aprenderam na
escola. Estão, pois, disponíveis para confundir os dois regimes políticos. Por
sua vez, a realidade de muitos países considerados democráticos mostra que a democracia
atravessa uma profunda crise e que a distinção entre democracia e autoritarismo
é cada vez mais complexa. (…) Em vários países do mundo estão a ocorrer protestos
nas ruas para defender a democracia e lutar por direitos violados, direitos esses
quase sempre consagrados na Constituição. (…) São os casos do Brasil, Colômbia
e Índia, e foram também os casos da Espanha, Argentina, Chile e Equador em anos
recentes. Noutros casos, os protestos visam evitar a fraude eleitoral ou fazer
valer os resultados eleitorais, sempre que as elites locais e
as pressões externas se recusam a reconhecer a vitória de candidatos sufragados
pela maioria. Foi este o caso do México, durante anos, o caso da Bolívia, em tempos
recentes, e, agora, o caso do Peru.(…) A
perplexidade instala-se. Se, por um lado, é crucial manter a diferença entre democracia e
autoritarismo, por outro lado, os traços autoritários das democracias realmente
existentes agravam-se a cada dia que passa. Vejamos alguns deles. A Rússia prende autoritariamente o dissidente Alexei Navalny; as
democracias ocidentais deixam morrer na prisão, por pressão dos EUA, o jornalista
Julian Assange (…) Nos regimes autoritários, a comunicação social não é livre
para dar voz aos diferentes interesses sociais e políticos; nas democracias, a
preciosa liberdade de expressão está cada vez mais ameaçada pelo controlo dos
media por parte de grupos financeiros e outras oligarquias, bem como pelas redes
sociais que usam os algoritmos para impedir que ideias progressistas cheguem ao
grande público e para permitir que o contrário ocorra com ideias reaccionárias. Os governos autoritários eliminam
opositores que lutam pela democracia nos seus países; as democracias destroem
alguns desses países (Iraque, Líbia) e matam milhares de inocentes para defender a democracia. Os regimes autoritários eliminam a
independência judicial; as democracias promovem perseguições políticas por via
do sistema judicial, como dramaticamente ilustrado pela Operação Lava-Jato no Brasil. Nos governos autoritários,
os líderes não são escolhidos livremente pelos cidadãos; nas democracias é cada
vez mais preocupante o modo como os poderes fácticos inventam e destroem candidatos.
(…) Para além destes exemplos, entre muitos outros, é flagrante a dualidade de
critérios. São governos autoritários e, por isso, hostis, a China, a Rússia, o
Irão, a Venezuela; mas não são hostis, apesar de autoritários, a Arábia Saudita,
as monarquias do Golfo, o Egipto e, muito menos, Israel, apesar de sujeitar mais
de 20% da sua população (os árabes israelitas) à condição de cidadãos de segunda
classe, e submeter a Palestina a um regime de apartheid (…) A Europa faria bem,
se se convencesse de que a nova Guerra Fria tem pouco que ver
com democracia versus autoritarismo. É apenas uma nova fase de enfrentamento
entre o capitalismo multinacional dos EUA e o capitalismo de Estado da China (onde a Rússia se vai integrando). É uma
luta nada democrática entre um império declinante e um império ascendente. (…)»
Boaventura Sousa Santos, Democracia e autoritarismo – Público 23jul2021.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, o
trabalho escravo pode ser entendido como trabalho "realizado
involuntariamente e sob a ameaça de uma penalidade". É exatamente isso que
os trabalhadores de uma fábrica de processamento de batatas no Texas enfrentam,
revela uma investigação da Univision. Os trabalhadores da fábrica não confiam
nas autoridades e receiam represálias por se manifestarem. Mas para manterem os
seus vistos, 36.000 pessoas por ano têm de viver através desta forma de
escravatura moderna. A história está disponível em inglês e espanhol: Escravos da batata: o custo de um visto H-2A no Texas,
por Patricia Clarembaux e Almudena Toral . Univision.
«Se Cuba prova que o socialismo não funciona, será que o
Haiti prova que o capitalismo não funciona? Lembremo-nos de que Cuba está sob
um bloqueio há 60 anos dos EUA enquanto o Haiti recebe milhares de milhões em
ajuda dos EUA.» Medea
Benjamin.
Sem comentários:
Enviar um comentário