segunda-feira, 26 de julho de 2021

Bico calado

  • A deputada trabalhista Dawn Butler foi convidada a abandonar o parlamento britânico depois de se recusar a retirar as acusações de que Boris Johnson mentiu inúmeras vezes durante a pandemia de Covid-19. «É perigoso mentir numa pandemia», disse a deputada. «Os pobres do nosso país pagaram com as suas vidas porque o primeiro-ministro passou os últimos 18 meses a enganar este parlamento e o país várias vezes». «Quando não é permitido dizer a verdade no parlamento, é tempo de reconstruir a democracia a partir do zero. ... O governo não diz mentiras para contradizer a verdade. Diz mentiras para o levar ao ponto de pensar que a verdade não existeRichard Murphy. «Uma das muitas formas pelas quais as nossas antiquadas e ridículas tradições parlamentares frustram a democracia.» George Monbiot.
  • Otelo Saraiva de Carvalho (1936 – 2021) – Grande estratega do 25 de abril de 1974.
  • «(…) Os portugueses que viveram em idade adulta o tempo da ditadura salazarista não têm qualquer dúvida em distinguir democracia e autoritarismo e em preferir a primeira ao segundo. Os que nasceram depois de 1974, ou pouco tempo antes, quando não aprenderam dos pais o que foi a ditadura, muito provavelmente também não aprenderam na escola. Estão, pois, disponíveis para confundir os dois regimes políticos. Por sua vez, a realidade de muitos países considerados democráticos mostra que a democracia atravessa uma profunda crise e que a distinção entre democracia e autoritarismo é cada vez mais complexa. (…) Em vários países do mundo estão a ocorrer protestos nas ruas para defender a democracia e lutar por direitos violados, direitos esses quase sempre consagrados na Constituição. (…) São os casos do Brasil, Colômbia e Índia, e foram também os casos da Espanha, Argentina, Chile e Equador em anos recentes. Noutros casos, os protestos visam evitar a fraude eleitoral ou fazer valer os resultados eleitorais, sempre que as elites locais e as pressões externas se recusam a reconhecer a vitória de candidatos sufragados pela maioria. Foi este o caso do México, durante anos, o caso da Bolívia, em tempos recentes, e, agora, o caso do Peru.  (…) A perplexidade instala-se. Se, por um lado, é crucial manter a diferença entre democracia e autoritarismo, por outro lado, os traços autoritários das democracias realmente existentes agravam-se a cada dia que passa. Vejamos alguns deles. A Rússia prende autoritariamente o dissidente Alexei Navalny; as democracias ocidentais deixam morrer na prisão, por pressão dos EUA, o jornalista Julian Assange (…) Nos regimes autoritários, a comunicação social não é livre para dar voz aos diferentes interesses sociais e políticos; nas democracias, a preciosa liberdade de expressão está cada vez mais ameaçada pelo controlo dos media por parte de grupos financeiros e outras oligarquias, bem como pelas redes sociais que usam os algoritmos para impedir que ideias progressistas cheguem ao grande público e para permitir que o contrário ocorra com ideias reaccionárias. Os governos autoritários eliminam opositores que lutam pela democracia nos seus países; as democracias destroem alguns desses países (Iraque, Líbia) e matam milhares de inocentes para defender a democracia. Os regimes autoritários eliminam a independência judicial; as democracias promovem perseguições políticas por via do sistema judicial, como dramaticamente ilustrado pela Operação Lava-Jato no Brasil. Nos governos autoritários, os líderes não são escolhidos livremente pelos cidadãos; nas democracias é cada vez mais preocupante o modo como os poderes fácticos inventam e destroem candidatos. (…) Para além destes exemplos, entre muitos outros, é flagrante a dualidade de critérios. São governos autoritários e, por isso, hostis, a China, a Rússia, o Irão, a Venezuela; mas não são hostis, apesar de autoritários, a Arábia Saudita, as monarquias do Golfo, o Egipto e, muito menos, Israel, apesar de sujeitar mais de 20% da sua população (os árabes israelitas) à condição de cidadãos de segunda classe, e submeter a Palestina a um regime de apartheid (…) A Europa faria bem, se se convencesse de que a nova Guerra Fria tem pouco que ver com democracia versus autoritarismo. É apenas uma nova fase de enfrentamento entre o capitalismo multinacional dos EUA e o capitalismo de Estado da China (onde a Rússia se vai integrando). É uma luta nada democrática entre um império declinante e um império ascendente. (…)» Boaventura Sousa Santos, Democracia e autoritarismo – Público 23jul2021.
  • De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, o trabalho escravo pode ser entendido como trabalho "realizado involuntariamente e sob a ameaça de uma penalidade". É exatamente isso que os trabalhadores de uma fábrica de processamento de batatas no Texas enfrentam, revela uma investigação da Univision. Os trabalhadores da fábrica não confiam nas autoridades e receiam represálias por se manifestarem. Mas para manterem os seus vistos, 36.000 pessoas por ano têm de viver através desta forma de escravatura moderna. A história está disponível em inglês e espanhol: Escravos da batata: o custo de um visto H-2A no Texas, por Patricia Clarembaux e Almudena Toral . Univision.
  • «Se Cuba prova que o socialismo não funciona, será que o Haiti prova que o capitalismo não funciona? Lembremo-nos de que Cuba está sob um bloqueio há 60 anos dos EUA enquanto o Haiti recebe milhares de milhões em ajuda dos EUA.» Medea Benjamin.

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