«Após um ano repleto de anúncios recordes de promessas de emissões zero líquidas (net-zero) de corporações e governos, um recente relatório revela que os planos climáticos de algumas das principais indústrias poluidoras são baseados em medidas falsas, inalcançáveis ou insuficientes.
O documento destaca a atuação de grandes poluidores para
influenciar a metodologia de pesquisas sobre “net zero” em universidades de prestígio,
incluindo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Universidade de Princeton,
Universidade de Stanford e Imperial College London.
O documento intitula-se “The Big Con: Como as poluidoras gigantes avançam com uma agenda climática de descabonização para adiar, enganar e negar”. Todas as universidades citadas têm projetos climáticos financiados por grandes produtores de petróleo, com destaque para a cooperação de longa data entre Shell e o Imperial College London. A publicação mostra ainda que as instituições académicas patrocinam investigadores climáticos que são ou já foram funcionários dessas empresas, além de promover eventos sobre clima patrocinados por petrolíferas ou com funcionários destas entre os palestrantes.
Além de cooptar setores académicos, as maiores poluidoras
têm influenciado legislações com objetivos climáticos para que sejam ineficazes
ou que acabem por beneficiá-las. Nos EUA, indústrias de aviação e de
combustíveis fósseis pressionaram massivamente para ajudar a assegurar um crédito
fiscal, chamado 45Q, que subsidia a captura e o armazenamento de carbono.
Segundo o documento, é provável que essas empresas tenham lucrado milhões com a
manobra, apesar de não terem uma atuação que as qualifiquem para obter o
crédito.
O estudo também destaca o papel da Associação
Internacional de Comércio de Emissões (IETA). Fundada e controlada por grandes
produtores de petróleo, a organização tem trabalhado para fortalecer as suas
concepções de “net-zero”, influenciar o mercado de créditos de carbono e
enfraquecer medidas para redução de emissões nas negociações internacionais
pelo clima.
De acordo com o estudo, o compromisso da JBS, feito em
março deste ano, de eliminar o desflorestação na sua cadeia de suprimentos até
2035 significa, na prática, que a empresa continuará contribuindo para o
desflorestação nos próximos 14 anos. Erradicar imediatamente a desflorestação
associada à sua cadeia de suprimentos seria a maneira mais eficaz e rápida para
a JBS diminuir as suas emissões, afirma o texto.
Já a Shell planeia comprar mais créditos de carbono para
compensar as suas emissões até 2030 do que estavam disponíveis em todo o
mercado global de compensação voluntária no ano de 2019. A empresa também
promete reflorestar 700 milhões de hectares, uma área quase do tamanho do
Brasil. O plano fantasioso da companhia mereceu uma condenação em maio num
tribunal da Holanda.
O plano climático do Walmart negligencia totalmente as
suas emissões da cadeia de valor, o que, estima-se, responde por 95% da pegada
de carbono da corporação. Enquanto isso, a BlackRock, a maior gestora de ativos
do mundo, comprometeu-se em 2020 a vender a maior parte das suas emissões
fósseis no ‘futuro próximo’, mas ainda possui 85 mil milhões em ativos de
carvão.
“Este relatório mostra que planos ‘net zero’ de grandes
poluidores nada mais são do que um grande golpe”, afirma Sara Shaw,
coordenadora do programa Justiça Climática e Energia da Friends of the Earth
International. Para ela, empresas como a Shell não têm interesse em agir
genuinamente para resolver a crise climática. “Em vez disso, elas planeiam
continuar os negócios como de costume, ao mesmo tempo em que falam de plantio
de árvores em esquemas de compensação que nunca poderão anular a mineração e a
queima de combustíveis fósseis.”»
Cínthia Leone, Instituto ClimaInfo. Via EcoDebate.
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