sábado, 12 de junho de 2021

Bico calado

  • A Guerra Suja contra o Serviço Nacional de Saúde (NHS) foi transmitida pela primeira vez na Grã-Bretanha na ITV a 17 de Dezembro de 2019. A notável presciência do filme tornou-se clara quando a COVID atacou, e o NHS, debilitado pela escassez de camas, a fome de recursos e a aceleração da privatização, não conseguiu enfrentá-lo. Este foi o aviso do filme - um aviso também emitido em 2016, quando um teste a uma pandemia mostrou que o NHS mal sobreviveria a uma tal emergência. Os políticos e gestores não fizeram nada; o relatório dos resultados do exercício foi suprimido. O ataque ideológico ao primeiro serviço de saúde pública do mundo continuou no auge da crise da COVID, com empresas privadas ineptas a receberem contratos lucrativos e testes em massa. O Secretário da Saúde, Matt Hancock, um paladino da privatização, anunciou em agosto de 2020 que, no futuro, a maioria das consultas dos médicos de clínica geral estariam em linha. A associação de Hancock com a empresa de tecnologia, Babylon Health, é tratada em The Dirty War.
  • «(…) Para isto será necessária uma estrutura eficaz e profissionalizada? Naturalmente que sim. Quatro anos de duração é muito? A Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses durou dezasseis. Dirigir esses trabalhos implica gente remunerada a tempo inteiro? Ninguém pôs em causa que assim tivesse de ser na Expo ’98, na Porto Capital Europeia da Cultura ou em eventos que não têm menos (nem mais) dignidade do que a celebração da nossa democracia. (…) estamos a falar do mesmo país em que nesta mesma semana foi anunciada a candidatura à coorganização do Mundial de Futebol 2030 sem que tivesse havido qualquer debate público adequado ou se tivesse levantado um sobrolho, ou seja, como se pudéssemos sequer imaginar que o Mundial 2030, como antes o Euro 2004, não nos fosse custar dinheiro nenhum. O futebol, já se sabe, usufrui no nosso país de um regime de isenção de escrutínio superior ao do próprio regime democrático. (…)» Rui Tavares, A futebolização do regime em curso é uma coisa muito perigosa – Público 9jun2021.
  • A China pode não ser um membro do G7, mas está a dominar a agenda. Nectar Gan e Ben Westcott, CNN.
  • «O ouro começara a fluir no momento exato em que Portugal assinava o tratado de Methuen, em 1703, com Inglaterra. Este foi o corolário de uma longa série de privilégios obtidos pelos comerciantes britânicos em Portugal. Em troca de algumas vantagens para os seus vinhos no mercado de inglês, Portugal abria o seu próprio mercado e o das suas colónias às manufaturas britânicas. Dado o desnível de desenvolvimento industrial já então existente, a medida implicava uma condenação à ruína das manufaturas locais. Não era com vinho que se pagariam os tecidos ingleses, mas ouro com o ouro do Brasil, e, pelo caminho, os teares de Portugal ficariam paralisados. Portugal não se limitou a matar no ovo a sua própria indústria. Aniquilou também, de caminho, os germes de qualquer tipo de desenvolvimento manufatureiro no Brasil. O Reino proibiu funcionamento das refinarias de açúcar em 1715; em 1729, declarou que era crime a abertura de novas vias de comunicação na região mineira; em 1785, mandou incendiar os teatros e as criações brasileiras.» Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina (1971) – Antígona 2017.

Sem comentários: