domingo, 7 de fevereiro de 2021

Bico calado

  • « A quem se dispõe a ver e ouvir os principais noticiários televisivos, à noite, pelas 20h, em qualquer um dos principais canais (RTP1 — salva-se a RTP2 — SIC e TVI) é-lhe infligida uma dose superlativa e alongada de notícias e reportagens sobre o Covid-19 que são exactamente iguais às notícias e reportagens do dia anterior, quase iguais às da semana anterior e horizontalmente encadeadas, sem picos nem descontinuidades, nas do mês anterior. A única coisa que difere é o teor de dramatismo, a acentuação, a mímica dos jornalistas (categoria na qual o vencedor absoluto é o clown José Rodrigues dos Santos). (…) Este jornalismo da mesmice — dos mesmos factos, das mesmas pessoas e do mesmo tom — que encena pela redundância uma ilusão de totalidade (e que, por isso, precisa sempre de muito tempo, é uma espécie de roman-fleuve diário) coloca-nos perante um enigma: os jornalistas fazem-no por genuína convicção, por convicção induzida através de um mecanismo coercivo, ou sem nenhuma convicção, mas enquanto funcionários pragmáticos? Ficaríamos a saber alguma coisa de útil e mais aprofundada se eles se dispusessem a falar da sua profissão e das circunstâncias em que trabalham sem ser para cantar hinos e celebrar os sucessos da instituição que lhes dá emprego. (…) Atentemos no seguinte: o canal de televisão que à segunda-feira, num programa de fact checking chamado Polígrafo, traça “uma linha em nome dos factos”, dizendo-nos “onde acaba a verdade e começa a mentira”, é o mesmo que levou uma hora e meia a mentir-nos no Jornal da Noite que antecede esse programa. Não mente por dizer mentiras ou falsear imagens, (…) Mente pelo encadeamento de palavras e de imagens, pela poluição discursiva e visual que produz, pelo tom adoptado (…) arrastando-nos para uma das regiões mais poluídas do planeta. (…)» António Guerreiro, A mentira no pequeno ecrã – Público 5fev2021.
  • A Rússia expulsou diplomatas da Polónia, Alemanha e Suécia por terem participado em protestos de apoio a Navalny. Euronews.
  • O Tribunal Criminal Internacional decidiu que tem jurisdição sobre crimes de guerra ou atrocidades cometidas nos Territórios Palestinos, abrindo a porta para possíveis investigações contra as objeções de Israel. Reuters.
  • Há 10 anos a Patrulha de Fronteira espancou um imigrante até a morte e depois encobriu tudo. Os ex-supervisores do DHS dizem que o homicídio e o seu encobrimento fazem parte de um padrão. Ryan Devereaux, The Intercept.
  • A Patrulha de Fronteira autodenomina-se organização humanitária. Um relatório recente diz que isso é falso. Grupos de ajuda do Arizona analisaram milhares de chamadas para as emergências para a Patrulha de Fronteira e descobriram inação, indiferença e obstrução. Ryan Devereaux, TheIntercept.

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