Bico calado
- « A quem se dispõe a ver e ouvir os principais
noticiários televisivos, à noite, pelas 20h, em qualquer um dos principais
canais (RTP1 — salva-se a RTP2 — SIC e TVI) é-lhe infligida uma dose
superlativa e alongada de notícias e reportagens sobre o Covid-19 que são
exactamente iguais às notícias e reportagens do dia anterior, quase iguais às
da semana anterior e horizontalmente encadeadas, sem picos nem descontinuidades,
nas do mês anterior. A única coisa que difere é o teor de dramatismo, a
acentuação, a mímica dos jornalistas (categoria na qual o vencedor absoluto é
o clown José Rodrigues dos Santos). (…) Este jornalismo da mesmice —
dos mesmos factos, das mesmas pessoas e do mesmo tom — que encena pela
redundância uma ilusão de totalidade (e que, por isso, precisa sempre de muito
tempo, é uma espécie de roman-fleuve diário) coloca-nos perante um
enigma: os jornalistas fazem-no por genuína convicção, por convicção induzida
através de um mecanismo coercivo, ou sem nenhuma convicção, mas enquanto
funcionários pragmáticos? Ficaríamos a saber alguma coisa de útil e mais
aprofundada se eles se dispusessem a falar da sua profissão e das
circunstâncias em que trabalham sem ser para cantar hinos e celebrar os
sucessos da instituição que lhes dá emprego. (…) Atentemos no seguinte: o canal de televisão que à
segunda-feira, num programa de fact checking chamado Polígrafo,
traça “uma linha em nome dos factos”, dizendo-nos “onde acaba a verdade e
começa a mentira”, é o mesmo que levou uma hora e meia a mentir-nos
no Jornal da Noite que antecede esse programa. Não mente por dizer
mentiras ou falsear imagens, (…) Mente pelo encadeamento de palavras e de
imagens, pela poluição discursiva e visual que produz, pelo tom adoptado (…)
arrastando-nos para uma das regiões mais poluídas do planeta. (…)» António Guerreiro, A mentira no pequeno ecrã – Público
5fev2021.
- A Rússia expulsou diplomatas da Polónia, Alemanha e
Suécia por terem participado em protestos de apoio a Navalny. Euronews.
- O Tribunal Criminal Internacional decidiu que tem
jurisdição sobre crimes de guerra ou atrocidades cometidas nos Territórios
Palestinos, abrindo a porta para possíveis investigações contra as objeções de
Israel. Reuters.
- Há 10 anos a Patrulha de Fronteira espancou um imigrante
até a morte e depois encobriu tudo. Os ex-supervisores do DHS dizem que o
homicídio e o seu encobrimento fazem parte de um padrão. Ryan Devereaux, The Intercept.
- A Patrulha de Fronteira autodenomina-se organização
humanitária. Um relatório recente diz que isso é falso. Grupos de ajuda do Arizona
analisaram milhares de chamadas para as emergências para a Patrulha de
Fronteira e descobriram inação, indiferença e obstrução. Ryan Devereaux, TheIntercept.
Sem comentários:
Enviar um comentário