Bico calado
- «(…) a máscara tornou-se uma peça obrigatória da farda civil deste novo tempo. Os políticos em campanha já não vão poder pronunciar aquela injunção que faz sempre acordar uma velha aliança entre a política e a mentira: “Read my lips”. (…) “Querer ser” ou “passar por” (isto é, envergar uma máscara mesmo quando se tem a cara totalmente destapada) faz parte da tarefa política, para a qual há os que têm muitas faculdades e outros têm poucas. E isso é uma condição essencial do sucesso. Mas o factor fisionómico é sempre essencial no teatro político. E é tão fundamental para o político da democracia liberal moderna como para aquelas três categorias de políticos de que falou Max Weber: o demagogo, o imbecil instintivo e o palhaço carismático. Não é por acaso que os chefes políticos mais resistentes ao uso da máscara foram Donald Trump e Jair Bolsonaro. É certo que eles defenderam desde o início a inocuidade da covid-19 e, portanto, agiram em conformidade com a sua atitude de negação. Mas havia também uma outra razão fundamental: com máscara, a performance fisionómica e os sinais que remetem para o corpo, para a significação do rosto na linguagem do poder, não funcionam. E, então, estes actores políticos vêem-se destituídos de uma das armas fundamentais que detinham. Se tiveram que continuar a usar máscara, precisam de inventar novos gestos.» António Guerreiro, A máscara como ornamento – Público 31jul2020.
- Katrina Robinson, 39, senadora democrata do estado do Tennessee, foi acusada de roubar mais de US $ 600.000 em verbas federais e usá-los para pagar eventos de campanha e despesas pessoais, incluindo casamento, lua-de-mel e subsequente divórcio. NYTimes.
- O conselho de ministros foi muito pesado. Mariana sentia-se mal junto daquela gente que há muito tempo a olhava de soslaio. Realmente só o seu optimismo e boa disposição permanentes a faziam aturar aquele ambiente mesquinho, em que a maioria dos presentes passava o tempo a bajular o primeiro-ministro, enquanto este, que tinha passado a semana a estudar os dossiers que eram discutidos na reunião, dizia de sua justiça. Mariana Belo já os tinha apanhado múltiplas vezes em falta. Isto é, Trigo Mendes sabia mais sobre as questões ali debatidas que os próprios interessados. Também, ele era nitidamente um homem de gabinete e não havia pormenor técnico que lhe passasse despercebido, enquanto a maior parte dos ministros o que queria, e o que fazia, era andar o dia todo a bambolear-se em inaugurações com discursos bombásticos para as televisões e jornais.» Helena Sanches Osório, Nana - Bizâncio 1998.
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