sexta-feira, 10 de julho de 2020

EDP e projeto de Hidrogénio – trapalhadas e megalomanias


O debate aconteceu na SIC Notícias, pelas 23h de quarta, 8 de julho.
  • José Gomes Ferreira (aos 27’) é perentório: a continuação das rendas garantidas para as grandes empresas de energia – capítulo 4 «financiamento e mecanismos de apoio do projeto de hidrogénio», segundo o qual os contratos que garantem a rentabilidade no horizonte temporal devem ser atribuídos a quem produzir hidrogénio.
  • Mira Amaral: o hidrogénio não se impôs porque as tecnologias não têm evoluído. O poder político virou-se para o hidrogénio cavalgando o programa europeu da descarbonização. Alta perigosidade, não precisa de ignição para explodir, pelo que a sua manipulação segura só pode ser feita por técnicos qualificados. As refinarias da Galp já produzem hidrogénio a partir do gás natural, mas emitindo carbono. A sua produção custa 1,5 euro por Kg, sem a captura do carbono, será de 2 euros por Kg se o carbono for extraído do hidrogénio. Na refinaria da Galp isto ainda não se faz. Pode ser produzido a partir da eletrólise da água, custando 6 euros por Kg. Projeto irrealista, megalómano de 7 mil milhões de euros que vai envolver tecnologias ainda incipientes.
  • Luís Rosa, do Observador (aos 36’): Em 2004 a EDP foi alvo da teoria da engorda do porco, foi engordada com rendas garantidas para ser mais atraente quando era maioritariamente pública e para ser depois vendida. 
  • Jorge Costa (BE, aos 38’): O lado positivo deste problema é que ele está a ser debatido abertamente, em público, ao contrário de outros projetos que foram debatidos no segredo dos gabinetes de Durão Barroso e Santana Lopes, tendo o próprio regulador impedido de os tornar públicos. O projeto do governo carece de concretização da sua viabilidade económica e das suas repercussões tarifárias. As verbas do Fundo Ambiental que têm sido aplicadas para a redução do défice tarifário, que é uma das rendas que tem vindo a repercutir-se nas faturas aos consumidores e que estava a ser diminuída, vão deixar de ser transferidas, e isso é preocupante. Isto é, as verbas do Fundo Ambiental passam a ser canalizadas para o projeto do hidrogénio.
  • João Paulo Batalha (Transparência e Integridade, aos 43’): Este projeto cheira a esturro. O estado português tem mostrado que não tem capacidade para negociar, em defesa do interesse público, grandes concessões, grandes negócios de contratação pública. O estado português é sempre mais frágil nas negociações, por omissão de recursos e de competências ou por ação dos próprios decisores, é sempre enganado. 

A estratégia de hidrogénio da EU é um presente para as empresas de combustíveis fósseis, escreve Mauro Anatásio no European Environmental Bureau.
Os 200 mil milhões de euros previstos para apoiar esta estratégia também cobrem a produção de hidrogénio a partir de combustíveis fósseis.  
«Investir em hidrogénio fóssil, cuja produção já está disponível em escala industrial, corre o risco de tornar o hidrogénio verdadeiramente limpo e livre de fósseis não competitivo para o mercado da UE e criar ativos ociosos», considera Barbara Mariani, do EEB, cuja opinião é partilhada por Tara Connelly, dos Friends of the Earth Europe
A Comissão Europeia e muitas ONGs concordam que apenas o hidrogénio produzido por eletrólise usando eletricidade renovável pode ser definido como limpo. Mas há uma questão a salientar. Atualmente, em todo o mundo, o hidrogénio é produzido principalmente a partir de combustíveis fósseis, incluindo gás e carvão usado para gerar eletricidade ou como matéria-prima. 
A Comissão planeia investir imenso na produção e armazenamento de carbono (CCS) e num processo muito inicial conhecido como pirólise, que pode atenuar as emissões de carbono resultantes da produção de hidrogénio a partir de gás fóssil. Para o EEB, isto é um grande erro. «Em primeiro lugar, para ser comercialmente escalável e lucrativo, tanto o CCS como a pirólise exigem o uso continuado de combustíveis fósseis à custa de soluções renováveis. Em segundo lugar, o CCS não pode capturar todas as emissões de carbono e tem que se ter em consideração as fugas frequentes.
«Se investirmos em soluções falsas como hidrogénio a partir de combustíveis fósseis e da tecnologia da captura de carbono iremos aprofundar a dependência da Europa em relação aos combustíveis fósseis», diz Mariani. 
Para o EEB, o desenvolvimento desta estratégia deverá privilegiar setores como o aço, o cimento, a navegação e a aviação. 
Em junho passado, empresas e operadoras de gás pressionaram a Comissão Europeia a incluir um financiamento substancial para o hidrogénio fóssil. Numa carta, os grupos de lóbi afirmaram que a Europa deve continuar a queimar combustíveis fósseis para obter zero emissões de carbono. Isto significa que a indústria do gás não só vai embolsar enormes quantias de dinheiro em investimentos públicos e privados, mas, se não for controlada, também dominará em grande parte as próximas discussões políticas sobre hidrogénio.

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