quinta-feira, 4 de junho de 2020

Bico calado

  • Equipa de reportagem da CNN detida enquanto filmava protestos em Minneapolis. Polícia de Minneapolis atira e ameaça prender repórter da Deutsche Welle, Youtube. A polícia dos EUA atacou jornalistas mais de 120 vezes desde 28 de maio, garante documentação reunida por Nick Waters, conta o Niemanlab. Polícia em protestos em todo o país apanhados a vandalizar propriedades, denuncia a Mint Press.
  • «O seu objetivo é polarizar, desestabilizar o governo local e inflamar os impulsos racistas. E não podemos deixar que ele o consiga. Quero apenas dizer duas palavras a Donald Trump: começa com 'F' e termina com 'você'. Não ficarei em silêncio enquanto esse homem tentar cinicamente transformar este momento incrivelmente doloroso para seu próprio ganho político.» Lori Lightfoot, president da Câmara de Chicago.
  • «Temos que aceitar o facto de que este presidente, se tiver a oportunidade, tentará ser um ditador.» Ruben Gallego, do Arizona, citado pelo NYTimes.
  • « (…) Não é preciso ir mais longe do que ver a forma como são tratados criminosos ou acusados de crimes de colarinho branco, com diferenças culturais e sociais sobre o modo como são apresentados, mesmo quando se enunciam os seus crimes. Ricardo Salgado nunca será tratado como Sócrates, Vara ou Lima, que têm em comum terem vindo “de baixo” e terem subido à custa da política e da corrupção. Aliás, esta é uma velha tradição de diferenciação social em que, por exemplo, o O Independente era exímio. Não tocava nos facilitadores que sabiam comer à mesa, e vestir-se à inglesa, mas atacava com desprezo social os políticos de “meia branca”, que vinham da província e que não tinham os pergaminhos daquilo a que o jornal chamava, de forma, aliás, errada e ignorante, a “velha riqueza”. (…) Os dias da pandemia mostraram, mais uma vez, a força dos preconceitos sociais no modo como duas comunidades atingidas pela crise económica são tratadas: a da cultura e a dos feirantes e itinerantes. Os artistas, trabalhadores da cultura, músicos, actores, “criativos”, etc., são um sector em que predomina o trabalho precário, e foram de imediato atingidos pelo confinamento e pelo encerramento dos espectáculos. Mas, sem contestar a dureza da crise, têm várias coisas a seu favor: uma é a grande visibilidade na comunicação social, um tratamento muito favorável (capas, variadas fotografias, artigos, etc., por exemplo só no PÚBLICO), que funciona como forma de pressão sobre o poder político, que tende a responder a quem tem mais voz mediática. Acresce que é um sector fortemente subsidiado por Governos e autarquias, em que não há qualquer escrutínio, porque este é difícil para certas actividades criativas, mas também porque a pequenez do meio favorece o silenciamento das críticas por parte dos pares. Se apenas uma pequena parte das críticas que são feitas em privado, em conversas, fosse pública, ver-se-ia como é feito um julgamento muito duro das qualidades criativas e do valor de muitas “obras” e “artistas”, mesmo descontando a inveja do sucesso alheio, que também é muita. Acresce o facto de muitos serem jovens e, queira-se ou não, os jovens têm sempre uma vantagem e mais oportunidades do que as pessoas mais velhas. Mas a cultura é hoje um sector económico e mesmo industrial, e pode e deve ser tratado sem o mito da intangibilidade da criação, que é também uma expressão corporativa. (…)» José Pacheco Pereira, in Os ignorados e os invisíveis – Público 30mai2020.
  • Como um “exército” de perfis falsos quer impor o Chega em Braga, revela O Minho.
  • EUA aprovam venda de US $ 1,4 milhar de milhões de mísseis Patriot ao Kuwait, diz o MEM.
  • «(…) desde o início de maio que sabemos, por trabalhos da Escola Nacional de Saúde Pública, que os concelhos com maiores taxas de desemprego e maiores desigualdades de rendimento eram os que tinham mais casos de covid-19. Olhando para o que está a acontecer em Lisboa, percebemos que são os mais pobres que estão a sofrer mais com o desconfinamento. (…) enquanto continuarmos a ser uma das sociedades mais desiguais da Europa não seremos exemplo de nada. O que corra bem deixará sempre de fora demasiada gente. Os outros, o país que se trama, são os moradores do Bairro da Jamaica ou os trabalhadores da Plataforma Logística da Azambuja. E, para tornar tudo um pouco mais chocante, uns e outros ainda são apontados como responsáveis pelo seu próprio infortúnio.» Daniel Oliveira, in Expresso 1jun2020.
  • A maior produtora de porcos do Iowa, a Iowa Select Farms, tem usado um método cruel para matar milhares de porcos que se tornaram comercialmente inúteis devido à pandemia de coronavírus. Trata-se de um método de extermínio em massa conhecido como «corte da ventilação» ou VSD, através do qual se selam todos os respiros aéreos das pocilgas e se insere vapor nelas, intensificando o calor e a humidade interna e deixando-os morrer durante a noite. Glenn Greenwald, na The InterceptVideo.
  • «(…) O 24 de maio pode vir a ficar assinalado como o dia em que o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se sentou no banco dos réus, acusado de crimes de corrupção: fraude, suborno e abuso de confiança. Sentado no banco dos réus” no seu sentido literal porque, apesar de sucessivas manobras dilatórias, não conseguiu que o Supremo Tribunal – honra lhe seja feita – o dispensasse do julgamento presencial. Em contrapartida consentiu que se mantivesse nas funções de primeiro-ministro, o que é inédito em Israel. Se fosse um mero ministro teria de se demitir. Este é um verdadeiro case study. Depois de um frustrado processo eleitoral em que se repetiram consultas populares sem que delas saísse uma solução governativa, os líderes partidários chegaram a um acordo para um governo de coligação entre o Likud, de Netanyahu e o Partido Azul e Branco, de Benny Gantz. Na solução a que chegaram, um governo de presidência bicéfala, mostraram estar bem um para o outro. Em pleno período pandémico refugiaram-se no argumento de que “não se vivem dias normais”. A pandemia tem as costas largas e vai continuar a ter. (…) O objetivo de Netanyahu é ganhar tempo, no que é exímio, porque, segundo Rahat, o processo judicial arrastar-se-á por vários anos e, dentro de 14 meses, haverá eleições presidenciais às quais se candidatará e, se vencer, contará com uma imunidade de 7 anos, no mínimo! Benny Gantz deu-lhe a mão. Maquiavélico? Não surpreende se olharmos o mundo de hoje. Comparado com os tiranetes que por aí medram o pensador florentino é um menino de coro. Como manobra de diversão Netanyahu vai-se entretendo a tentar anexar a Cisjordânia executando o “acordo do século”, ou melhor o “aborto do século” de Trump. Ou, se tanto for necessário, tem ali Gaza mesmo à mão para umas rápidas ações militares “preventivas” que garantam a segurança a que Israel tem direito. E aí Benny Gantz também não lhe negará apoio.» Pedro Pezarat Correia, in Os bandidos ao poder, via Clube de Jornalistas.
  • «(…) Gonçalo foi sempre um patriota, monárquico, antifascista e profundamente democrata. Trabalhei de perto com ele em 1979 na preparação da Aliança Democrática liderada por Sá Carneiro. Recordo uma discussão entre os três protagonistas da AD — Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo — sobre a estratégia a seguir. Alguém perguntou quem era o nosso inimigo principal. Para Freitas era o projeto do PCP, para Sá Carneiro era o eanismo. Ribeiro Teles não hesitou: o nosso inimigo principal é o eucalipto.(…)» Helena Roseta, Público 26mai2020.

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