segunda-feira, 9 de março de 2020

Bico calado

  • «(…) A qualidade do futebol português é inversamente proporcional aos negócios que nele se fazem. No mercado transacionam-se jogadores por €126 milhões, mas no campo só há mediocridade, violência, disparates e polémicas. O negócio é mais importante do que o jogo. Neste faroeste vigora a lei do mais forte, do clube mais influente, do dirigente mais manhoso. As instituições que deviam mandar não mandam. Um Governo que devia agir está parado. Os clubes, quase todos mais ou menos falidos, sobrevivem através de esquemas, uns mais criativos, outros nem tanto. O futebol é, em larga medida, o espelho do país.(…)» Luís Marques, in Pode a Justiça mudar o futebol? – Expresso.
  • «(…) tendo em conta que a saúde privada nem quer ouvir falar de encargos com esta epidemia voltando a demonstrar quão inútil se revela quando poderia justificar a sua existência, há a antevisão do que pode significar se os Estados Unidos vieram a ser afetados numa dimensão semelhante à da Itália: sem seguros de saúde os eventuais contaminados ver-se-ão abandonados à sua sorte, tornando-se focos difusores da epidemia. A socióloga Nadia Urbinati  formula a hipótese de Trump ter no covid-19 o maior obstáculo á reeleição. Porque, de um momento para o outro, os discursos de Bernie Sanders sobre um Serviço Nacional de Saúde replicado dos melhores exemplos europeus - entre os quais citou Portugal - poderá ecoar nos que comprovam a incapacidade da atual Administração para contrariar uma crise sanitária de enorme dimensão». Jorge Rocha, in O covid-19, os populismos e os infiltrados nas polícias - Ventos semeados.
  • (…) Como, inevitavelmente, os reguladores independentes acabam por executar políticas económicas, muitos argumentam que lhes falta legitimidade democrática. Adicionalmente, são estruturas bastantes dispendiosas, bastante mais caras do que as direções-gerais do século passado que vieram substituir, e que tinham a virtude de ter um responsável político bem definido. A falta de legitimidade democrática e os custos acrescidos só fazem sentido se, em compensação, as reguladoras entregarem valor à sociedade: a sua independência tem de servir para assegurar que as empresas reguladas se comportam concorrencialmente, ou seja, que não se aproveitam da sua posição dominante para criar barreiras à inovação ou para cobrar preços excessivos e que não atuam em cartel mais ou menos informal. Nós temos o pior dos dois mundos. Por um lado, temos todos os custos de uma regulação independente; por outro, os reguladores não são independentes; às vezes, mais parecendo agências de apparatchiks. (…) Susana Coroado mostra que apesar de, na letra da lei, os reguladores financeiros serem dos mais independentes, de facto, este sector é um daqueles onde o risco de captura é maior. Mais do que portas giratórias, falamos de um autêntico carrossel entre poder político e regulados, regulador e regulados e poder político e regulador. (…)» Luís Aguia-Conraria, in Regulação à portuguesaExpresso.

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