terça-feira, 10 de março de 2020

Bico calado

  • Corona parou Marcelo, Tubo de Ensaio-TSF.
  • «(…) A pandemia da gripe de Hong Kong de 1968/9 foi a última pandemia de gripe realmente grave que varreu o Reino Unido. Elas parecem extraordinariamente regulares - 1919, 1969 e 2020. As epidemias de gripe têm uma pontualidade muito melhor do que os comboios (embora eu tenha deixado passar a "gripe asiática" de 1958). Atualmente, a "gripe de Hong Kong" é conhecida como H3N2. As estimativas de mortes causadas em todo o mundo variam entre 1 e 4 milhões. No Reino Unido, matou cerca de 80.000 pessoas. Se o Coronavírus atual tivesse aparecido em 1968, teria sido chamado de "gripe", provavelmente "gripe Wuhan". (...) Mas não houve pânico maciço, nem histeria mediática segundo a segundo, sobre a gripe de Hong Kong. Deixem-me ser ser impopular. "O homem de 80 anos já não está muito bem, morre de gripe" não é e não devia ser uma manchete de jornal. A cobertura é pornográfica, intrusiva, desequilibrada e projetada para causar histeria. (...) Devo esclarecer que o meu coração e os meus pulmões estão danificados e em más condições, após várias pulmonares bilaterais que quase me mataram em 2004, que apareceram misteriosamente precisamente no momento em que os governos do Reino Unido e dos EUA tentavam desesperadamente livrar-se de mim como embaixador, poucas semanas depois de finalmente ter sido absolvido de todas as falsas acusações com as quais o governo britânico tentou tramar-me. Estive em coma durante alguns dias e, posteriormente, deram-me no máximo três anos de vida (leiam Murder in Samarkand para conhecerem a estória toda). (…) Tenho tido uma vida incrivelmente cheia e satisfatória. Não tenho nenhum desejo de morrer - tenho esposa e filhos que amo profundamente e tenho importantes batalhas políticas que quero travar. Mas os seres humanos não podem viver para sempre e um dia chegará a minha hora. O que me preocupa com a reação atual ao Coronavírus é que parece refletir uma crença de que a morte é uma aberração, e não uma parte da ordem natural das coisas. À medida que a espécie humana continua a aumentar maciçamente em número e à medida que continua a extinguir outras espécies, é inevitável que a população humana excessiva e lotada se torne suscetível a doenças. Ao vermos os efeitos catastróficos dos seres humanos sobre o ambiente, inclusive sobre outras espécies e o clima, estou genuinamente perplexo quanto às assunções e objetivos subjacentes à humanidade. Acreditamos realmente que a ciência médica pode e deve eliminar todas as doenças? Há muitos cientistas médicos bem-financiados investigando a ideia de que o envelhecimento em si é um processo que pode ser evitado. Como essa é uma noção muito atraente para os ocidentais ricos, está a gastar-se mais dinheiro na prevenção do envelhecimento do que no combate à malária e outras doenças tropicais. Onde é que isso vai chegar? Queremos de facto um mundo - ou pelo menos um mundo rico - em que todos cheguem a centenários? Quais são os efeitos disso na população em geral, na demografia, na economia e na alocação de recursos finitos, incluindo alimentos e habitação? A histeria generalizada à volta do Coronavírus está sendo estimulada por uma rejeição social da ideia de que a espécie humana faz parte de uma ecologia mais ampla e que a morte e a doença são factos inevitáveis que temos que aceitar. (...)» Craig Murray, in Momento Mori – Unpopular Thoughts on Corona Virus
  • Várias companhias de aviação cancelaram voos entre New York e Milão e medidas mais exigentes foram introduzidas nas viagens para a Alemanha, Polónia e outros países europeus. Mas isto não impede de 20 mil soldados norte-americanos se deslocarem para vários aeroportos europeus para os exercícios militares Defender Europe 20, na maior movimentação de tropas dos últimos 25 anos na Europa, alerta Manlio Dinucci, na Rede Voltaire. Atualização 12mar2020: operação cancelada.
  • O ministro da Defesa israelita pondera encerrar todo o território ocupado da Faixa de Gaza. Os palestinianos não vão incomodar-se: há anos que estão habituados a viver cercados. A hipocrisia pode ficar à porta.
  • «(…) Sabem quanto custou a entrada nas urgências do hospital onde me sentei na capital americana? Mais de três mil dólares. A entrada, sublinho. Quando finalmente, após 10 horas de espera, cheguei à dita sala de urgências olhei em redor. Havia cerca de doze camas, um médico e três enfermeiras. Não foi difícil entender por que motivo os doentes entravam a conta-gotas na urgência. (…) A minha conta final foi bastante explícita deste sintoma: analises ao sangue – 1200$, farmácia (em concreto, soro e um anti-inflamatório) – próximo de 400$, uma ressonância magnética – quase 4000$ e, por fim, as três horas disponibilizadas pelo médico – cerca de 500$. Três horas dentro das urgências que resultaram em cerca de oito mil dólares. Perguntei-me muitas vezes: quanto custaria uma cirurgia? É para isso que serve o seguro de saúde, pensarão muitos. Correcto. Mas o Sistema de saúde americano é mais complexo do que se prevê. Não é apenas o seu valor. Um plano básico de saúde para uma pessoa individual em início de carreira custa pelo menos 200 dólares por mês (valor que varia de acordo com o estado em que se encontre). Razão plausível pela qual cerca de 28 milhões de pessoas nos Estados Unidos vive sem seguro de saúde, um número que tem vindo a aumentar nos últimos anos, sobretudo com a revogação do Affordable Care Act, mais conhecida como Obamacare. (…) A complexidade e o custo de um seguro tornou os Estados Unidos num país onde pessoas que caem na rua e precisam de assistências hospital recusam uma ambulância, porque o custo do transporte em ambulância em Washington DC, por exemplo, é 2500 dólares. Por isso, perdoem-me, mas, sim, bendito SNS, pensei eu, recordando as idas ao hospital em Portugal, onde não esperei 10 horas (apesar de saber que acontece) e cujo atendimento em nada ficou a dever ao que recebi num dos hospitais da primeira potência mundial. Bendito Portugal pequenino que, apesar de não figurar nos tops das economias mundiais, percebe a importância de um estado social. Bendito SNS que apesar das suas grandes lacunas e das suas fragilidades não faz com que o paciente se questione se tem dinheiro antes de chamar uma tão necessária ambulância. Bendito.» Paula Alves Silva, in Bendito SNS - Visão 23fev2020.

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