sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Bico calado

  • «(…) Os administradores da NOS envolvidos na investigação, entre os quais o advogado de Isabel dos Santos, vão ser ouvidos pelas comissões de ética e “governance” na próxima semana. Mas a comissão de ética da NOS é presidida por António Lobo Xavier, que é conselheiro de Estado, a convite do Presidente, defende os interesses da Mota Engil, em Portugal e em Angola, de que é administrador. É advogado na Morais Leitão, escritório de advogados que defende Manuel Vicente, no processo Fizz ou José Penedos, no Face Oculta. É também vice-Presidente do BPI, onde defende os interesses espanhóis do CaixaBank. Fala semanalmente na “Circulatura do Quadrado", onde contracena com Jorge Coelho, também da Mota-Engil. A sua posição de comentador e de conselheiro é um lugar privilegiado para defender os interesses dos clientes da sua sociedade advogados, da Mota, de angolanos corruptos ou de banqueiros espanhóis. Como é Lobo Xavier presidente da Comissão de Ética? Como ele bem diz - e sabe! -“existem redes mafiosas de tráfico de influência” na política. Um artista dos negócios e da política.(…)» Paulo de Morais.
  • O Índice de Perceção de Corrupção relativo a 2019 revela que a maior parte dos países analisados pouco ou nada melharam no combate à corrupção. Mais do que dois terços dos países pontuam abaixo de 50, sendo a média de apenas 43.
  • «A integridade em casa nem sempre se traduz em integridade no exterior, e vários escândalos em 2019 demonstraram que a corrupção transnacional é frequentemente facilitada, possibilitada e perpetuada por países nórdicos aparentemente limpos. Em novembro, a investigação da Fishrot Files revelou que Samherji, um dos maiores conglomerados de pesca da Islândia, terá subornado funcionários do governo na Namíbia e de Angola por direitos a cotas de pesca em massa. A empresa estabeleceu empresas de fachada em paraísos fiscais como os Emirados Árabes Unidos, Ilhas Maurícias, Chipre e Ilhas Marshall, algumas das quais supostamente foram usadas para lavar o produto de negócios corruptos. Muitos dos fundos parecem ter sido transferidos através de um banco estatal norueguês, DNB, como parte desse esquema. A gigante sueca das telecomunicações, Ericsson, concordou em pagar mais de US $ 1 bilião para resolver um caso de suborno estrangeiro durante a sua campanha de 16 anos em dinheiro por contratos na China, Djibuti, Kuwait, Indonésia e Vietname. No Canadá, um ex-executivo da construtora SNC-Lavalin foi condenado por subornos que a empresa pagou na Líbia. Após o escândalo de lavagem de dinheiro no Danske Bank, o maior banco da Dinamarca, grandes bancos como o Swedbank na Suécia e o Deutsche Bank na Alemanha, terão sido investigados em 2019 pelo seu papel no tratamento de pagamentos suspeitos de clientes de alto risco não residentes, principalmente da Rússia, através da Estónia. Na Suíça, as autoridades estão a investigar vários escândalos internacionais de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo empresas e organizações com sede na Suíça, especialmente nos setores financeiro e de commodities e desportes internacionais. O comerciante de commodities baseado em Genebra Gunvor foi condenado a pagar um valor recorde de 94 milhões de francos suíços por subornos de funcionários e agentes seus a funcionários públicos no Congo e Costa do Marfim. Transparency International.
  • «Espanta-me que a principal preocupação do Ministério Público seja castigar Rui Pinto e não investigar o que ele revelou». João Cravinho à RR.
  • «(…) O homem meteu as mãos, ou melhor, o computador e o software, no mundo do futebol. (...) no mundo do futebol de milhões, de muitos milhões, em que circula a elite dos clubes, dos negócios, dos fundos de investimento, da advocacia, das agências de publicidade, da banca, dos agentes e intermediários detentores de passes de jogadores, etc. Um mundo em que os crimes de lavagem de dinheiro e as fugas ao fisco, várias manipulações fiscais no limite da legalidade, violações dos próprios códigos de ética das associações de futebol, publicidade disfarçada, acordos de silenciamento, entendimentos secretos para manipular os mercados de jogadores, a utilização generalizada de offshores, a publicitação de valores falsos de transacções de jogadores, são o habitual. Nem tudo são crimes, mas tudo são procedimentos proibidos pelas próprias regras de ética que os clubes aceitaram, incluindo a falta de transparência e a manipulação da opinião pública por jornalistas e comentadores que actuam por conta dos clubes. Foi isso que revelaram e continuam a revelar os chamados “Football Leaks”, com a colaboração dos jornalistas de investigação da imprensa europeia de referência, com a hostilidade e a censura mesmo de muitas autoridades nacionais, que aceitam com facilidade suspeita calar estas denúncias. (…) O que não percebo, ou melhor percebo demasiado bem, é a desproporção de tratamento, a sanha persecutória contra um criminoso cujas vítimas foram outros criminosos, ou gente gananciosa na zona cinzenta da lei, que nunca andariam de algemas, os grandes clubes como o Mónaco, o Real Madrid, o Tottenham, o Manchester City, o Paris Saint Germain, o Sporting, várias federações nacionais de futebol, incluindo a portuguesa, a FIFA e pessoas como Ronaldo, Neymar, Mourinho, e só cito os nomes mais sonantes porque não sei muito de futebol. A sanha contra Rui Pinto não passa apenas pela justa condenação pelos seus crimes – revela uma enorme duplicidade, a mesma duplicidade que explica a complacência popular face às malfeitorias do futebol e que explica por que razão um jogador pode fugir ao fisco com milhões e, se for do nosso clube ou uma emanação da pátria, ninguém quer saber. Na verdade, ninguém queria nem quer saber das revelações dos “Football Leaks”, recebidas com um encolher de ombros, mas atira-se com violência face ao delator, em particular se a denúncia for do “nosso” clube. (…)» José Pacheco Pereira, in Se se metem com o futebol, levam! - Público 18jan21020.

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