sábado, 28 de dezembro de 2019

Reflexão - «O presente da morte - O consumo patológico tornou-se tão normalizado que mal o notamos»


«Não há nada que eles precisem, nada que eles já não tenham, nada que eles queiram. Mas você compra-lhos. (…) Eles parecem divertidos no primeiro dia de Natal, idiotas no segundo, embaraçosos no terceiro. No décimo segundo jazem em aterros sanitários. (…) ninguém vai usá-los, ou mesmo olhar para eles, depois do dia de Natal. Eles são projetados para provocar agradecimentos, talvez um ou dois esgares e depois são descartados. (…) 
À superficialidade dos produtos corresponde a profundidade dos impactos. Materiais raros, eletrónica complexa, a energia necessária para o fabrico e o transporte são extraídos e refinados e combinados em compostos de total inutilidade. Quando se toma em consideração os combustíveis fósseis cujo uso encomendamos em outros países, o fabrico e o consumo são responsáveis por mais da metade de nossa produção de dióxido de carbono. (…) 
Este boom não aconteceu por acidente. As nossas vidas foram cercadas e moldadas para o estimular. As regras do comércio mundial forçam os países a participar no festival do lixo. Os governos reduzem impostos, desregulamentam os negócios, manipulam as taxas de juros para estimular o consumo. Raramente os engenheiros dessas políticas param e perguntam "gastar em quê?" Quando todos os desejos e necessidades concebíveis foram satisfeitos (entre os que têm dinheiro disponível), o crescimento depende da venda dos produtos inúteis. (…) 
Homens e mulheres adultos dedicam as suas vidas a produzir e comercializar esse lixo e a dissimular a ideia de viver sem ele. (...) 
As melhores coisas da vida são gratuitas, mas descobrimos uma maneira de as vender. O crescimento da desigualdade que acompanhou o boom consumista garante que a crescente maré econômica já não pode elevar todos os barcos. Nos EUA em 2010, apenas 15 da população acumulou 93% do crescimento dos rendimentos. A velha treta de que devemos destruir o planeta para ajudar os pobres, já não pega. (…) Faça-lhes um bolo, escreva-lhes um poema, dê-lhes um beijo, conte-khes uma piada, mas, pelo amor de Deus, pare de destruir o planeta para dizer que gosta de alguém.(…)».
George Monbiot, The gift of Death.

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