Como salvar um porco de uma serpente?
- «Ana Gomes já reagiu ao pedido de alargamento do Mandado de Detenção Europeu, feito pelo Ministério Público à Hungria, para assim poder acusar o colaborador do Football Leaks, Rui Pinto por novos factos apurados na investigação relacionada com a Doyen e o Sporting. Em declarações ao Jornal Económico a ex-deputada do Parlamento Europeu refere que esta medida “só demonstra encarniçamento do Ministério Público, contra Rui Pinto, enquanto deixa à solta grandes criminosos que ele expôs”». O Jornal Económico.
- A escritora egípcia Ahdaf Soueif demitiu-se do conselho de administração do British Museum. Primeiro, porque discordava do patrocínio da petrolífera BP, segundo porque discordava da política de trabalho precário privilegiada pela fundação e, finalmente, pelo facto de o British Museum nunca aceitar debater a devolução de património roubado pelo império britânico a alguns países. LRB blog.
- «E se amanhã ninguém exceto os Estados Unidos usasse o dólar americano? Cada país usaria a sua própria moeda para o comércio interno e internacional (…) poderiam ser as moedas tradicionais ou as novas criptomoedas controladas pelo governo (…) Acabariam as transações monetárias internacionais controladas por bancos dos EUA e pelo sistema de transferência internacional controlado por dólares norte-americanos, SWIFT, o sistema que permite e facilita todo o tipo de sanções financeiras e econômicas dos EUA - confisco de fundos estrangeiros, interrupção de negociações entre países, chantagem sobre nações relutantes em submeterem-se. O que aconteceria? (…) estaríamos certamente um passo mais perto da paz mundial, longe da hegemonia financeira americana financeira, em direção à soberania dos Estados nacionais, em direção a uma estrutura geopolítica mundial de mais igualdade. Ainda não chegámos lá, mas pode-se ler grafitos nas paredes dizendo que estamos a avançar nessa direção. E Trump sabe disso e os seus manipuladores também e é por isso que as sanções, guerras comerciais, confiscos de reservas e roubos, tudo em nome de "Make America Great Again", têm avançado impunes. O que surpreende é que as hegemonias anglo-saxónicas não parecem entender que todas as ameaças, sanções, barreiras comerciais estão a provocar o contrário do que devia contribuir para a grandeza americana. As sanções económicas,sob qualquer forma, só são efetivas enquanto o mundo usar o dólar americano para negociar e como moeda de reserva. Quando o mundo se cansar dos ditames de Washington e dos esquemas de sanções para aqueles que não querem mais seguir as regras opressivas dos EUA, acabarão por saltar para outro barco, ou barcos, abandonando o dólar e valorizando as suas próprias moedas. Ou seja, comerciando entre si nas próprias moedas e fora do sistema bancário dos EUA, que até agora controla as negociações em moedas locais, desde que os fundos tenham que ser transferidos de uma nação para outra via SWIFT. Muitos países já perceberam que o dólar está cada vez mais a servir para manipular o valor da sua economia. O dólar dos EUA pode vergar as economias nacionais para cima ou para baixo, dependendo das simpatias para com u mdeterminado país. (…) Hoje, o dólar vale menos do que o papel em que é impresso. O PIB dos EUA é de US $ 21,1 triliões em 2019 (estimativa do Banco Mundial), com uma dívida atual de 22 triliões de dólares, ou cerca de 105% do PIB. O PIB mundial está projetado para 2019 em US $ 88,1 triliões (Banco Mundial). De acordo com a Forbes, cerca de US $ 210 triliões são “passivos não financiados” (valor presente líquido de obrigações futuras projetadas mas não financiadas (75 anos), principalmente a segurança social, a Medicaid e juros acumulados sobre dívidas), um valor 10 vezes superior ao PIB dos EUA, ou duas vezes e meia a produção económica mundial. (…) Esta dívida monstruosa é parcialmente detida sob a forma de títulos do tesouro como reservas cambiais por países em todo o mundo. A maior parte é devida pelos EUA a si mesmos - sem planos de “pagar de volta” - mas sim criar mais dinheiro, mais dívidas, com as quais pagar pelas guerras ininterruptas, fabricando armas e propaganda de mentiras para manter o povo quieto e em sintonia. (…) O mundo está cada vez mais consciente desta ameaça real, uma economia construída sobre um castelo de cartas e os países querem sair da armadilha, libertar-se das garras do dólar americano. Não é fácil com todas as reservas e ativos denominados em dólares investidos em todo o mundo. Uma solução pode ser gradualmente desinvestindo-os (liquidez e investimentos em dólares americanos) e migrando para moedas não dependentes do dólar, como o Yuan Chinês e o Rublo Russo, ou um pacote de moedas orientais desvinculadas do dólar e do seu esquema de pagamento internacional, o sistema SWIFT. Cuidado com o euro, é o filho adotivo do dólar dos EUA! Há cada vez mais alternativas de tecnologia blockchain disponíveis. A China, s Rússia o Irão e a Venezuela já estão a experimentar criptomoedas controladas pelo governo para construir novos sistemas de pagamento e transferência fora do domínio dólar para contornar as sanções. A Índia pode ou não participar neste clube (…) A lógica sugere que a Índia se orienta para o oriente, já que a Índia é uma parte significativa do enorme mercado económico e da massa de terra da Eurásia. A Índia já é um membro ativo da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) - uma associação de países que desenvolvem estratégias pacíficas para o comércio, a segurança monetária e a defesa, incluindo a China, a Rússia, a Índia, o Paquistão, a maioria dos países da Ásia Central e com o Irão em vias de se tornar um membro de pleno direito. Desta forma, a SCO representa cerca de metade da população mundial e um terço da produção económica mundial. O oriente não precisa do ocidente para sobreviver. Não é de admirar que os média ocidentais raramente mencionem a SCO, o que significa que o público médio ocidental em geral não faz ideia do que a SCO representa, e quem são os seus membros. A tecnologia blockchain controlada e regulamentada pelo governo pode tornar-se a chave para combater o poder financeiro coercivo dos EUA e para resistir às sanções. Qualquer país pode aderir a esta nova aliança de países e a uma abordagem nova, mas de rápido crescimento, ao comércio alternativo - e reencontrar a sua soberania política e financeira nacional. Na mesma linha de desdolarização estão os “bancos de troca” indianos. Eles trocam, por exemplo, chá indiano por petróleo iraniano. Essas trocas de mercadorias pelo petróleo iraniano são realizados através de “bancos de troca” indianos, onde as moedas, isto é, os riais iranianos e as rúpias indianas são administrados pelo mesmo banco. A troca de mercadorias é baseada em uma lista do volume monetário indiano mais alto, contra produtos de hidrocarbonetos iranianos, por exemplo, a grande importação de chá indiano do Irã. Nenhuma transação monetária ocorre fora da Índia. Por isso, as sanções dos EUA podem ser contornadas, uma vez que nenhum banco dos EUA ou interferência do Tesouro dos EUA pode interromper as atividades comerciais bilaterais. O Facebook quer introduzir uma criptomoeda de abrangência global, a Libra. Pouco se sabe sobre como funcionará, exceto que abrangeria biliões de membros do Facebook em todo o mundo. Segundo o Facebook, existem 2,38 biliões de membros ativos. Se apenas dois terços - cerca de 1,6 bilião - abrissem uma conta de Libra no Facebook, a comporta da Libra abrir-se-ia em todo o mundo. A Libra seria uma criptomoeda de propriedade privada e, vinda do Facebook, poderia acabar por substituir o dólar pelas mesmas pessoas que agora estão abusando do mundo com o dólar americano. A Libra pode ter sido desenhada como antídoto contras as criptomoedas controladas pelo governo, contornando assim o impacto da desdolarização. Cuidado com a Libra! Apesar das sanções dos EUA e da UE, os investimentos alemães na Rússia estão a bater recordes, com os negócios alemães injetando mais de € 1,7 biliões na economia russa nos primeiros três meses de 2019. Segundo a Câmara de Comércio Russo-Alemã , o volume de investimentos das empresas alemãs na Rússia aumentou 33% - 400 milhões de euros - desde o ano passado (…). Apesar das sanções que atingiram cerca de 1 bilião de euros (…) e, apesar da pressão ocidental contra a Rússia, o comércio entre a Rússia e a Alemanha aumentou 8,4% e atingiu quase 62 bilhões de euros em 2018. Além disso, apesar dos protestos e ameaças dos EUA com sanções, Moscovo e Berlim continuam com o seu projeto de gasoduto para o transporte de gás natural Nord Stream 2, que deverá estar concluído antes do final de 2019. A proximidade de acesso a este recurso energético trará à Alemanha e À Europa a independência da Europa em relação aos agressivos métodos de venda dos Estados Unidos. E os pagamentos não serão feitos em dólares americanos. (…) A guerra comercial do presidente Trump contra a China acabará por ter um efeito de desdolarização, já que a China buscará - e já adquiriu - outros parceiros comerciais, principalmente asiáticos, asiático-pacíficos e europeus, com os quais a China negociará fora da esfera do dólar e do sistema de transferência SWIFT, por exemplo, usando o Sistema Internacional de Pagamentos da China (CIPS) que está aberto ao comércio internacional de qualquer país do mundo. (…) Nos últimos 20 anos, os ativos em dólar nos cofres das reservas internacionais diminuíram em mais de 90% para menos de 60% e irão diminuir rapidamente, à medida que as políticas financeiras coercitivas de Washington prevalecerem. As reservas em dólares são rapidamente substituídas por reservas em Yuan e ouro, até mesmo em países leais do Ocidente, como é a Austrália. Washington também lançou uma guerra financeira contraproducente contra a Turquia, porque a Turquia está a criar relações amigáveis com a Rússia, o Irão e a China, e acima de tudo, porque a Turquia, uma fortaleza da NATO, está a comprar o sistema de defesa aérea russo S-400, uma nova aliança militar que os EUA não podem aceitar. Como resultado, os EUA estão a sabotar a moeda turca, a Lira, que perdeu 40% desde janeiro de 2018. (…) As sanções monetárias dos EUA são, a longo prazo, uma bênção. Dão à Turquia um bom argumento para ela abandonar o dólar americano e gradualmente associar-se a moedas do leste, principalmente o yuan chinês, colocando assim mais um prego no caixão do dólar americano. (…) Os investimentos da Iniciativa Faixa e Estrada Chinesa (BRI), também chamada de Nova Rota da Seda, serão feitos principalmente em Yuan e moedas locais dos países envolvidos e incorporados numa ou mais rotas terrestres e marítimas da BRI que eventualmente se venham a formar. (…) A Nova Rota da sede promete tornar-se, nas próximas décadas ou século, a próxima revolução económica, um esquema de desenvolvimento económico sem dólar, ligando povos e países - culturas, investigação e ensino sem impôr a uniformidade, mas promovendo a diversidade cultural e a igualdade humana - e tudo isso fora da dinastia do dólar, quebrando a nefasta hegemonia do dólar.»
Peter Koenig, in The World is Dedollarizing - New Eastern Outlook.
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