quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Bico calado

  • «O ano de 2019 começa com a posse de um fascista. (…) Foi eleito contra a corrupção, apesar de ter assumido que o partido de que fez parte recebia subornos e que ele próprio fugia a todos os impostos que podia. Foi eleito contra o clientelismo, apesar de ter dito que se quisesse contratar a sua mãe para o seu gabinete, ninguém tinha nada a ver com isso. Foi eleito pela sua fé, apesar de citar a Bíblia para defender a pena de morte. Venceu democraticamente as eleições, apesar de ter dito que nada mudaria no Brasil através do voto. (…) A companhia de democratas não transforma o fascista em democrata, apenas o normaliza. É assim que a democracia há de morrer, sem um tiro: pelo voto livre do povo e o silêncio cúmplice dos democratas. (…) É o Brasil, é a Hungria, é a Itália, é a Polónia, são as Filipinas, são os Estados Unidos e, mais dia, menos dia, será a França. A maioria acredita que o fascismo não pode acontecer agora, em pleno século XXI. Só que está mesmo a acontecer, lentamente, sem que ninguém resista.» Daniel Oliveira, TSF.
  • «Na cerimónia de tomada de posse de Bolsonaro, nem maçãs deixaram entrar. Estranho. Então não fica toda a gente mais segura quando todos têm armas? Segundo a proposta de Bolsonaro, uma tomada de posse com a multidão armada até aos dentes seria o evento mais seguro do mundo, certo? (…) O mundo acabou de avançar mais um ano. O Brasil acabou de regredir várias décadas.» Uma página numa rede social, FB.
  • «(…) Para nós, portugueses, assistir ontem aos discursos de Bolsonaro, trouxe reminiscências dos discursos de um homem que saiu do poder em 1968, embora isso tivesse acontecido por doença: Oliveira Salazar. Bolsonaro traz agora para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos "vermelhos". (…) Tudo naquela cerimónia de posse foi um monumento à tragédia anunciada: o discurso do número 2, o general Hamilton Mourão, foi um regresso às cavernas que o povo aplaudiu em delírio; o fim do discurso de Bolsonaro, quando ergue a bandeira brasileira em conjunto com Mourão e grita: "Esta é a nossa bandeira, que jamais será vermelha, só será vermelha se for do nosso sangue derramado para a manter verde e amarela". Bolsonaro vem preencher um anseio profundo da população, o da segurança seja de que maneira for. "Temos o desafio de enfrentar a ideologia que descriminaliza bandidos, pune polícias e destrói famílias, vamos restabelecer a ordem no país", disse ontem, já depois de ter prometido liberalizar o acesso às armas. O anseio da "ordem" também foi o que levou Salazar ao poder. A democracia brasileira é demasiadamente jovem, mas também as democracias jovens podem morrer.» Ana Sá Lopes, Público.


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