Por que cobrir o ambiente é uma das missões mais perigosas do jornalismo?
por Eric Freedman, no NiemanLab.
«(…) 40 repórteres em todo o mundo morreram entre 2005 e setembro de 2016 por causa das suas reportagens ambientais – mais do que foram mortos cobrindo a guerra dos EUA no Afeganistão .
As polémicas ambientais geralmente envolvem negócios influentes e interesses económicos, batalhas políticas, atividades criminosas, rebeldes contra o governo ou corrupção. Outros fatores incluem distinções ambíguas entre “jornalista” e “ativista” em muitos países, bem como lutas pelos direitos indígenas à terra e aos recursos naturais. Tanto nos países ricos como nos países em desenvolvimento, os jornalistas que cobrem essas questões encontram-se no fio da navalha. A maioria sobrevive, mas muitos sofrem traumas graves, com efeitos profundos em suas carreiras.
Por exemplo, em 2013, Rodney Sieh , um jornalista independente na Libéria, divulgou o envolvimento de um ex-ministro da Agricultura num esquema corrupto que utilizou mal as verbas destinadas a combater a doença parasitária e infeciosa do verme da Guiné. Sieh foi condenado a 5 mil anos de prisão e multado em 1,6 milhão de dólares por difamação. Esteve três meses numa prisão da Libéria antes que um clamor internacional pressionasse o governo a libertá-lo.
No mesmo ano, o repórter canadiano Miles Howe foi designado para cobrir os protestos dos Índios Elsipotog em New Brunswick contra a fraturação hidráulica do gás natural. “Muitas vezes, eu fui o único jornalista credenciada que presenciou prisões violentas, mulheres grávidas sendo algemadas, pessoal dertrubado”, lembra ele. Howe foi preso várias vezes , e durante um protesto, um membro da Real Polícia Montada do Canadá apontou-o a dedo e gritou: “Ele está com eles!” O seu equipamento foi apreendido e a polícia revistou a sua casa. Chantagearam-no, oferecendo-se para pagá-lo por fornecer informações sobre os próximos “eventos” – por outras palavras, espiando os manifestantes.
Enquanto alguns jornalistas são capazes de lidar e recuperar, outros vivem num estado de medo de futuros incidentes, ou sofrem de culpa do sobrevivente se eles escapam e deixam parentes e colegas trás. A maioria dos jornalistas não procurou terapia, geralmente porque não havia serviços disponíveis ou por causa do fator machismo da profissão.
Apesar dos códigos profissionais exigirem uma cobertura equilibrada e imparcial, alguns repórteres podem sentir-se compelidos a tomar partido nessas histórias. “Isso aconteceu no Standing Rock”, diz Tristan Ahtone , membro do conselho da Associação de Jornalistas Índios Americanos, referindo-se aos protestos na Reserva Índia Standing Rock, em Dakota do Norte, contra o Dakota Access Pipeline.
Penso que cada vez mais os jornalistas ambientais precisam do mesmo tipo de formação em termos de segurança que muitos correspondentes de guerra e estrangeiros recebem atualmente.
Não houve condenações no homicídio de 2017 da jornalista de rádio colombiana Efigenia Vásquez Astudillo , que foi atingida enquanto cobria um movimento indígena para recuperar terras ancestrais que tinham sido convertidas em fazendas, resorts e plantações de açúcar. Como o Comitê para a Proteção dos Jornalistas observa , “o assassinato é a forma final de censura».
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