quarta-feira, 2 de maio de 2018

Bico calado

  • «Depois de Bernie Sanders e Jeremy Corbyn falarem em classe trabalhadora (em vez de nação, género e etnia) é a vez do New York Times publicar um artigo defendendo a totalidade dialéctica contra a fragmentação. (…) Mas parece ser cada vez mais claro que estamos finalmente a entrar numa nova era nos países centrais. Como sempre quanto mais ricos, mais centrais, mais contraditórios e por isso dinâmicos na essência. Bela homenagem aos 200 anos de nascimento de Marx, “parabéns Marx, tinhas razão” - é o título do artigo do New York Times. Os tempos estão a mudar. Que ninguém se lembre de pensar que Portugal é viável sem o compromisso de luta por um mundo igual e livre dos trabalhadores de Berlim e Chicago. A xenofobia dos pobres é uma forma de medo; politicamente é auto mutilante. Num mundo global não podemos dispensar os que têm mais força pela posição onde geograficamente e economicamente se encontram. As revoluções em países atrasados foram derrotadas de forma desastrosa; as dos países semi periféricos como o nosso tiveram importantes ganhos. Como será quando for Londres e Nova Iorque ?» Raquel Varela, FB.
  • «Se tiver que prestar depoimento perante um magistrado, há alguns conselhos úteis que não deve ignorar. É divórcio, é multa de estrada, é crime de colarinho branco, é roubo, é facada, não é nada, é coisa miúda ou graúda, em todos os casos deve tomar algumas precauções. Leve a sua advogada, em primeiro lugar: é útil e é de lei. Depois, não esquecer a maquilhagem e talvez mesmo cuidar do penteado, a filmagem a partir de cima, que institui uma representação de modéstia, tem esse defeito de revelar a permanente. Se se tiver esquecido, um pouco de pó-de-arroz faz maravilhas, tira os brilhos e permite um aspeto saudável e até descontraído. Está pronto? Pode entrar, o senhor magistrado vai ouvir o seu depoimento. Mais um detalhe: leve também o agente artístico ou pelo menos o representante da agência de comunicação. Para o efeito que interessa, a advogada de pouco serve, ela ocupar-se-á de leis e detalhes aborrecidos, a lei é uma pasmaceira, mas a fama, o dinheirinho, o essencial da essência, isso é com o agente. É ele que vai negociar os direitos de imagem e em que dia e em que canal é que as filmagens serão transmitidas. Em TV-Justiça nem tudo é em direto, bem sabe, os programas mais vistos são até os que têm montagem, rapidez, gráficos, esgares, gritos bem escolhidos e não só aquela modorra de longa conversa que, com franqueza, é péssima para as audiências. Se o seu agente for esperto, e a comissão ajuda, negociará um prime-time, assim uma hora do jantar, criancinhas à mesa. Os direitos serão mais confortáveis e todos ficam a ganhar. É verdade que o Código do Processo Penal ainda não foi alterado para incluir esta justiça-entretenimento, mas a jurisprudência da vida vai sempre à frente do que os coitados dos políticos conseguem imaginar, não é assim?» Francisco Louçã, in Leve pó de arrozExpresso 30abr2018.

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