Em 2017, em visita à Noruega, o presidente Temer recebeu um puxão de orelhas dado pela primeira ministra daquele país, reclamando do desmatamento da Amazônia. Disse, ainda, a dita primeira ministra, que o governo norueguês, em protesto, iria reduzir os recursos financeiros repassados a um tal de Fundo Amazônia. Houve, por aqui, uma boa repercussão do fato, pois boa parte de brasileiros é bem chegada a considerar ótimo tudo que vem de fora.
No caso das ONGs, por exemplo, muitos de seus colaboradores, gostam de ir a encontros internacionais para criticar comportamentos de empresas brasileiras, com especial predileção pelo agronegócio. Não tenho aqui, é claro, a intenção de defender o que está errado em nossas terras, mas de estranhar o que parece ser uma atitude seletiva quando se parte para reclamar de agressões ao meio ambiente. Vamos aos fatos.
Tenho procurado, há alguns dias já, nos sites ou portais de organizações da sociedade civil dedicadas a causas ambientais, uma condenação enfática da poluição provocada pela Hydro Alunorte em Barcarena, no Pará. Busca em vão. A referida empresa é uma das maiores indústrias da Noruega, sendo que o estado norueguês detém 34,7 % de seu capital acionário e o fundo de pensão do governo da Noruega outros 6,5 %. Fico pensando, então, que o tal Fundo Amazônia é como se fosse um termo preventivo de ajustamento de conduta para que a empresa norueguesa possa trabalhar na Amazônia sem maiores preocupações. Gostaria até de saber como os recursos do Fundo são aplicados: quem participa e para que tipo de atividade.
Muitas ONGs brasileiras são frequentemente acusadas de receberem recursos de entidades e governos estrangeiros para dificultarem o desenvolvimento nacional. O silêncio quando uma empresa multinacional vem aqui e coloca em risco a saúde de populações humildes só faz alimentar a crítica e a suspeição. Quanto à Noruega, é lamentável que o seu governo, tão firme na cobrança ao presidente Temer, venha agora tirar o corpo fora, dizendo ser apenas uma acionista minoritária da Norsk Hydro ASA, controladora da Hydro Alunorte, sediada no Brasil. Confesso não me surpreender, pois há uma forte hipocrisia nas críticas ambientais feitas por países que adotam comportamentos do tipo façam o que eu digo, mas não se espelhem no que eu faço fora do meu território.
O Ibama diz que multou a empresa em 20 milhões de reais, levando-me a crer que o desastre realmente aconteceu. Tal procedimento pouco significa, pois todos nós sabemos que multas ambientais acabam sendo pagas somente por empresas ou propriedades rurais pequenas. As grandes têm armas para protelarem e protelarem, com recursos e mais recursos até caírem em algum perdão ou renegociação altamente vantajosa. As pequenas, como não podem bancar os custos dos processos de contestação, acabam pagando.
Fica aqui, portanto, o meu sentimento de decepção em relação às mais conceituadas ONGs brasileiras. Mas vou continuar esperando que elas se manifestem, tanto no Brasil quanto em nível internacional. A coerência é sempre uma atitude que dignifica.»
Osvaldo Ferreira Valente é engenheiro florestal, especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas e professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa (UFV. É autor dos livros : “Conservação de nascentes – Produção de água em pequenas bacias hidrográficas” e “Das chuvas às torneiras – A água nossa de cada dia”; Colaborador e Articulista do EcoDebate.
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