domingo, 25 de fevereiro de 2018

Bico calado

Imagem colhida aqui.

«(…) Conheci muita gente, e não é retórica o “muita”, que quando acede a um lugar ou um cargo deixa de ter a economia que a maioria das pessoas sem poder tem. Arranja maneira de quase todas as despesas pessoais e nalguns casos dos seus familiares e próximos serem cobertas por dinheiros públicos, aumenta-se a si própria, de forma directa ou indirecta, através de alcavalas ou de prebendas, usa o poder que tem para beneficiar amigos, familiares ou pessoas a quem se devem favores ou se quer que fiquem a dever favores. Os instrumentos usados são muitas vezes meios que seriam legítimos em si mesmos — na verdade, ninguém deve “pagar” para ter um cargo, suportando despesas que lhe são inerentes e tem direito a que lhe paguem viagens, despesas de deslocações e estadia ou outras do mesmo género. Mas outra coisa é usar cada um destes direitos para os “aproveitar” para melhorar o seu trem de vida, com mil e uma pequenas (às vezes grandes) entorses ao que devia ser, sendo pagos por viagens e despesas hipotéticas com critérios que maximizam o que se recebe, sem apresentação de documentação, porque se está muitas vezes numa posição em que existe um poder discricionário para decidir pagamentos e prescindir de comprovativos. É isso que muitas auditorias infelizmente revelam, mesmo quando não há aparentes ilegalidades. Essas pessoas acham que isso é “natural”, não pensam que exista qualquer problema e que é uma espécie de direito próprio e conhecem mil e um truques para maximizarem os seus “aproveitamentos”. No caso do Parlamento Europeu, eu só percebi muitas das práticas habituais que se passavam à minha volta quando estava para me vir embora, porque quem as conhecia escondia-as. Algumas eram conhecidas e muitas vezes motivo de escândalo, como seja o emprego de familiares como assessores, nalguns casos pagando a uma única pessoa que ganhava o que devia financiar um gabinete, assim como a utilização de transportes e viagens desnecessárias, quando estas eram pagas por um preço simbólico, acima do valor real. (…)» José Pacheco Pereira, in A zona cinzenta – Público  24fev2018.

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