domingo, 31 de dezembro de 2017

Bico calado

  • «(…) Lá, onde eu me sento a olhar o campo e as estrelas à noite, há sinais iniludíveis de que alguma coisa de grave e estranho está a acontecer. É verdade que as ribeiras secas, as barragens vazias, o terreno gretado, podem ser apenas consequência de um ano de seca, ou mesmo dois de seguida — que os há ocasionalmente e eu já vivi vários. Mas nunca tinha assistido ao silêncio absoluto das rãs, ao desaparecimento de toda a espécie de pássaros e aves no horizonte, à morte prematura de tantas árvores, enfim, aos sinais de vida que se vão esfumando. A grande questão é saber se o clima está mesmo a mudar de vez ou se estamos apenas perante um ciclo, repetido e reversível, mas que os homens vêem sempre como ameaça de catástrofe — pois a natureza humana, essa, nunca muda e só raramente é optimista. Mas, na dúvida, seria mais prudente ser pessimista e prestar toda a atenção aos cientistas que, fundados em estatísticas e dados de medição inatacáveis, não têm dúvidas de que estamos a entrar num território desconhecido e perigoso de alterações climáticas. (…)» Miguel Sousa Tavares, in Expresso 30dez2017 – Via Estátua de sal.
  • «(…) A comunicação social torna-se absolutamente aborrecida e repete todos os anos as mesmas reportagens. Gostava de saber o que é que aconteceria se houvesse uma estação de televisão em que nada tivesse que ver com o Natal, nem filmes infantis, nem reportagens sobre as consoadas nos hotéis, nem competições de árvores de Natal, nem corridas de Pais Natal, nem multidões nas compras, nem voos cheios e esperas nos aeroportos, nem as greves sazonais. Nem nada. Sem um átomo de “espírito natalício”. Infelizmente ninguém o vai fazer, pelo que estamos condenados a ter tudo igual. Na verdade, não é nada de diferente do que acontece todo ano, só que aqui nota-se mais. (…)» José Pacheco Pereira, in Um país encalhadoPúblico 30dez2017.
  • O Novo Banco perdoa 26 milhões na Estia aos irmãos Martins, accionistas da Martifer. JNegócios 29dez2017.
  • Os bancos Goldman Sachs, JP Morgan e Royal Bank of Scotland não pagaram impostos na Austrália. Em vez disso, fizeram doações ao partido Liberal e ao partido Trabalhista e ganharam contratos do governo. MW.
  • A companhia de aviação Qantas é a campeã australiana da «otimização fiscal»: em três anos bateu recordes de lucros e pagou poucos impostos. O truque: em 2016, declararam lucro estatutário de 1,424 biliões de dólares e admitiram 1.376 biliões de perdas de impostos em prejuízos fiscais (96,6% do lucro) para chegar a uma posição de imposto zero. MW.
  • «(…) Quando alguém como Puigdemont passa por herói da independência da Catalunha, Theresa May passa por estadista ou Donald Trump passa por líder do “mundo livre”, devemos ter medo: a loucura dos povos aliou-se à irresponsabilidade dos líderes. E quando o génio se solta da garrafa, será que é possível levá-lo de volta lá para dentro? A nossa história recente, a história da Europa e do mundo, diz-nos que sim, que é possível. Mas vários milhões de mortos e várias catedrais destruídas depois. (…)» Miguel Sousa Tavares, in Expresso 30dez2017 – Via Estátua de sal.

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