terça-feira, 18 de abril de 2017

Bico calado

Foto de Sergei Gapon/AFP/Getty Images
  • A arte xávega vai passa a contar para as quotas de pesca, anunciou a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. Notícias de Aveiro. Alguns poderão deduzir que a xávega acabará, se esta ideia for concretizada. E que diriam se a xávega passasse a contar para as quotas das Finanças?
  • «Difícil crer que um professor catedrático de Direito, constitucionalista e, supostamente, incansável leitor, além de filho do último ministro do Ultramar (1973/74), que fora governador de Moçambique de 1968 a 1970 e, entre 1944 e 1947, secretário de Estado do ministro das Colónias Marcelo Caetano, desconheça esta tenebrosa realidade. É certo que, como os compêndios escolares, toda a tradição discursiva dos responsáveis políticos prolongou na democracia a piedosa fábula de um Portugal "pioneiro do abolicionismo" e "farol do humanismo". Mas ir a Gorée, ao principal entreposto de escravos de África, como fez o PR, repetir essa cartilha de factos alternativos à guisa de pedido de desculpas é simplesmente vergonhosoFernanda Câncio in Fomos sempre tão amigos dos pretinhos - DN 17abr2017.
  • Conselho de Redacção da RTP pede aos partidos acção legislativa para agressões a jornalistas, lê-se no Público. E os camionistas, taxistas, polícias, professores, enfermeiros, pedreiros etc, quando em serviço também não poderão ter o mesmo direito? Será que os jornalistas querem estar acima dos restantes cidadãos?

1 comentário:

OLima disse...

Uma carta aberta, sobre o mesmo tema tratado por Fernanda Câncio no DN de 17abr2017:

«No decorrer da sua visita de Estado ao Senegal ocorrida na passada semana, achou por bem o Sr. Presidente da República visitar a ilha de Gorée, um antigo entreposto nas rotas atlânticas do tráfico de escravos. (…)o Presidente escolheu não reconhecer em Gorée a longa e sinuosa história da responsabilidade portuguesa no comércio e escravização de africanos, nem as outras formas de opressão que em nome do país foram praticadas e legalmente sustentadas nas colónias africanas até à extinção do regime colonial português em 1974-75. (…)Declarou Marcelo Rebelo de Sousa que Portugal aboliu a escravatura "pela mão do marquês de Pombal, em 1761," e que "essa decisão do poder político português foi um reconhecimento da dignidade do homem, do respeito por um estatuto correspondente a essa dignidade". Esta visão idealista e excecionalista do legado colonial da história portuguesa, assente num alegado pioneirismo humanista, foi sendo construída ao longo do século XIX e popularizada durante o Estado Novo. Serviu como ferramenta retórica que permitiu mobilizar a opinião pública nacional a favor do projeto imperial que começou a desenhar-se em fins do século XIX e, por outro lado, responder aos ataques de potências rivais ou de instituições internacionais como a ONU, quando, a partir dos anos 50, o colonialismo passou a ser rejeitado como modelo de desenvolvimento económico, social e cultural. Além de não refletirem os consensos científicos vigentes sobre a história colonial portuguesa nem o estado da arte no conhecimento dos arquivos coloniais, as declarações do Presidente reavivaram o branqueamento da opressão colonial implícito na visão do projeto colonial português como "missão civilizadora", uma visão que é ainda muito popular nos setores mais retrógrados da sociedade portuguesa, mas que é inerentemente paternalista e particularmente atentatória da dignidade e da pujança cultural dos povos colonizados.» Carta aberta, Um regresso ao passado em Gorée. Não em nosso nome
- DN 19abr2017.
http://www.dn.pt/portugal/interior/um-regresso-ao-passado-em-goree-nao-em-nosso-nome-6228800.html