Foto: Bay Ismoyo/AFP/Getty Images
- «Uma parte da nação, alguns jornalistas patrióticos e uma senhora que co-preside a uma instituição chamada Confederação de Pais ficaram chocados porque mil estudantes de liceu portugueses foram expulsos de um hotel em Torremolinos por mau comportamento. Não, não foi o mau comportamento, empolado ou não, que os chocou: foi o castigo, a expulsão. (…) Segundo nos explicaram organizadores, participantes e narradores, foi tudo “normal” para este tipo de “viagens” de finalistas de liceu. (…) Pois então, se é tudo normal, porque se transforma isto em assunto nacional? Primeiro porque a comunicação social e as redes sociais assim decidiram, e já se sabe que o que as redes sociais decidem a imprensa acompanha, pois vive no terror de perder a “opinião pública” (ou, na definição do jornalista espanhol Eric Frattini, essa massa de “imensos idiotas a quem é fácil formar a opinião pública”). (…) Os agentes de viagens tratam de corromper os meninos (começam cedo!), transformando-os no que sintomaticamente chamam dealers — isto é, agenciadores de clientes para as viagens a troco de não pagarem a própria viagem ou de receberam dinheiro pelo trabalho. Mas, melhor ainda, vão directamente à fonte, aos candidatos às associações de estudantes dos liceus, cujas “campanhas eleitorais” financiam, com a contrapartida de, depois, uma vez eleita a lista que bancaram, esta lhes outorgar a viagem de finalistas. Como disse o senhor da agência envolvida na viagem a Torremolinos, “eles querem é ganhar as eleições” e são as coitadas das agências que não têm mãos a medir para tantos pedidos de apoio! E sabem quem são, regra geral, estas listas para as associações de estudantes dos liceus? Exactamente: as juventudes partidárias. Ó pátria, começas cedo a deseducar os teus filhos!» Miguel Sousa Tavares, in De pequeninos se deseducam os meninos -Expresso, 14/04/2017 Via A estátua de sal.
- «A Diocese do Mindelo, Cabo Verde, não viu uma moeda de cêntimo dos 245.719 euros com que os católicos da Diocese de Lisboa contribuíram para a chamada Renúncia Quaresmal de 2011, um peditório anual que o então cardeal patriarca, José Policarpo, anunciara ter como destino “outras igrejas mais pobres”, em especial a do Mindelo. O destino dos donativos da Renúncia Quaresmal constitui um dos segredos das Finanças do Patriarcado de Lisboa, cujos responsáveis se recusaram a fornecer ao PÚBLICO quaisquer esclarecimentos sobre o assunto. (…) “Ninguém sabe quanto é que foi para a Diocese do Mindelo, nem sequer se foi alguma coisa. Num outro ano anunciaram que era tudo para uma associação de apoio a crianças, mas o dinheiro só apareceu muito depois e foi quase arrancado a ferros. Em 2015 disseram que era para a Comunidade Vida e Paz e para a Casa do Gaiato do Tojal, mas a Vida e Paz só recebeu 50 mil euros dos 250 mil recolhidos”, contou ao PÚBLICO, recusando ser identificado, um membro influente de uma paróquia de Lisboa. Outros católicos preocupados com a pouca transparência da gestão financeira e patrimonial da Igreja, e que pediram igualmente para não ser identificados, apontam o veterano ecónomo do Patriarcado, o cónego Álvaro Bizarro, como o principal responsável por estas situações. Conhecido como o “ministro das Finanças” da instituição, Bizarro é definido como alguém que “faz o que quer com os bens da Igreja, sem prestar contas a ninguém, nem ao próprio patriarca”. Álvaro Bizarro foi, aliás, um dos alvos de uma denúncia por alegada burla qualificada na Cáritas Diocesana de Lisboa, cujo fundamento está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, conforme o PÚBLICO revelou em Março.» Público 14abr2017.
- «Nasceu uma estrela. Trump passou a ser um estadista, falou pelo mundo. Trump passou a ter sentimentos, ficou incomodado com as imagens do ataque químico a Khan Sheikhoun. Trump passou a ser ponderado, não reagiu pelo Twitter mas sentou-se no gabinete de crise. Trump deixou de ser amigo dos russos, ou pelo menos amigo dos amigos dos russos, é cá dos nossos. Trump passou a ser melhor do que Obama, porque Obama acabou por aceitar a sugestão de Trump (vire as costas à guerra na Síria) e Trump não seguiu Obama que tinha seguido Trump. Trump passou a ser bem informado, ouviu os conselheiros. Trump passou a ser confiável, é o nosso escudo, é o nosso líder. Trump bombardeou o Iraque, que afinal é a Síria, mas o que importa é que bombardeou. Trump bombardeou a Síria, que afinal não é o Iraque, e logo depois o Afeganistão, o Iraque bem pode esperar pela demora. Trump, quando bombardeia, usa logo a “mãe de todas as bombas”. No Observador, sempre na vanguarda, o homem já é um novo Ronald Reagan e salva o “Ocidente“. Para esta ressurreição, bastou bombardear com uns Tomahawks uma base militar síria (alguém se lembrou de perguntar aos “índios” se apreciam a escolha sinistra deste nome?) e depois usar a “mãe” para concluir a semana.» Francisco Louçã in Santificado seja o teu nome, Donald – Público 14abr2017.
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