quinta-feira, 13 de abril de 2017

Bico calado

Foto: Mario Tama/Getty Images
  • O Tribunal de Contas multou o ex-presidente da Associação de Municípios de São Miguel,  Ricardo Silva, e obrigou-o a repor 15.660 euros relativos a pagamentos indevidos. Em causa estão contratos de consultadoria jurídica e emissão de pareceres jurídicos que, no entendimento do Tribunal, não deviam ter sido pagos pela AMISM, mas sim por terceiros. AO.
  • «Durante o regime do presidente Hugo Chávez, Portugal intensificou as relações comerciais com a Venezuela, levando a petrolífera estatal sul-americana a escolher a sucursal do BES na Madeira para canalizar o dinheiro proveniente da maioria das suas transacções internacionais de crude, chegando a movimentar um fluxo diário de 100 milhões de euros através do banco de Ricardo Salgado.» João Pedro Martins, FB.
  • «Quarenta e oito horas e uns quantos Tomahawk disparados de um navio americano no Mediterrâneo, foi quanto bastou. Calaram-se todas as dúvidas. Recolheram-se quaisquer reticências. Apagaram-se de vez os últimos “alegados”. Sub-repticiamente, a narrativa dos media passara a assumir o ataque sírio com armas químicas contra Idlib como um facto comprovado e inquestionável. De mera suspeita, de hipótese entre outras, o “crime de guerra” passou a verdade assente e definitiva. Os Tomahawk tinham a bênção do concerto das nações. (…) A técnica está mais do que rodada.  Lembram-se do célebre massacre de Sarajevo de 28 de Agosto de 1995? No mesmo momento em que elementos da Forpronu e observadores militares apelavam à prudência, chamando a atenção para factos que desmentiam a hipótese de um morteiro sérvio, o general Rupert Smith, comandante da força de paz na Bósnia, concluía sem pestanejar: foram os sérvios, “beyond any reasonable doubt”. Foram os sérvios, foram os sérvios e pronto! – repetiram prontamente os media. Os caças da NATO tinham enfim via livre para bombardear os sérvios intervir de forma ainda mais aberta no conflito – e alterar definitivamente o curso da guerra na Bósnia. (…) A manipulação fez sempre parte da arte da guerra. A propaganda sempre procurou porém disfarçar-se minimamente de verdade. Tudo isso se alteraria neste nosso “glamoroso” mundo novo. A mentira passou a dispensar qualquer disfarce para se transformar em verdade. E nem precisa de ser repetida mil  vezes. Basta vir no telejornal. A manobra resultou uma vez mais em cheio na Síria. Os apelos a uma investigação rigorosa dos acontecimentos de Idlib calaram-se. Os media – repórteres, pivots, editores, comentadores, analistas, opinion makers, patrões e quejandos – cumpriram plenamente o seu papel.» Carlos Santos Pereira in Verdades alternativas.
  • «Que os telejornais da RTP 1 sejam quase sempre de uma enorme indigência, nas temáticas escolhidas, na hierarquização das sequências e nos tratamentos adoptados, são manifestamente considerações proibidas de fazer. Como não é permitido notar que os principais apresentadores estão cheios de tiques faciais, gestuais e de elocução, o mais inacreditável sendo o piscar de olho final de um deles. Ou que é perfeitamente insuportável a preferência doentia dada aos faits divers (brutais, sangrentos, desgarrados, gritados e carpidos se possível) e à futebolite aguda (a não confundir com o desporto em geral). Mas até há outras razões para crítica. Que em vez de explicações didácticas de temas obscuros, os jornalistas preferem mostrar-se a si próprios em locais que nem sempre têm a ver com o assunto, juntando muitas vezes imagens passe-partout e não-pertinentes. Que os comentários interpretativos são raramente assumidos por gente competente da redação, mas sim por “comentadores” exteriores todo-o-terreno, palradores raramente capazes de síntese. Que os “directos” são uma assoladora praga, quando na grande maioria dos casos a actualidade não justifica estas intervenções de pseudo-repórteres (que se abstêm aliás de proceder a etapas essenciais: filmar acontecimentos, seleccionar passagens significativas, montá-las e gravar o som que as deve acompanhar). Que são abusados por políticos, sindicalistas, dirigentes desportivos e demais actores sociais que, como por acaso, têm declarações a fazer à hora do telejornal, impondo “directos” desprovidos da mais elementar “edição” jornalística, assumindo o “repórter” de serviço a função de mero canalizador. (…) Que a maior parte das vezes os correspondentes no estrangeiro se abstêm de fazer a mais elementar reportagem (ou então esta é-lhes fornecida por instituições locais), tendo sobretudo a preocupação de se mostrarem a si próprios e dizendo-nos coisas para as quais não era preciso terem saído de Lisboa para poderem dizê-las até de maneira mais aprofundada e construída. Que a investigação, o dossiê e a grande reportagem são extremamente raros, porque isso supõe trabalho em equipa e, claro está, meios financeiros, técnicos e humanos.» J.-M. Nobre-Correia in O argueiro e a trave
  • «Como observou certa vez o senador norte-americano Hiram Johnson (1866-1945), “sempre que uma guerra se aproxima, a primeira vítima é a verdade”. Esta vez não é excepção. Os EUA, sobre os quais ainda se projecta a pesada sombra da colossal mentira das armas de destruição em massa com que tentaram justificar a última guerra do Iraque, têm dito tudo e o seu contrário. Há apenas uma semana atrás, pareciam conformados com a permanência de Assad no poder; agora, querem de novo afastá-lo, intimando a Rússia a deixar de o apoiar sob pena de mais isolamento. Os russos, por seu turno, falam de provocação, mas não me consta que tenham pressionado Assad a facilitar o necessário trabalho de investigação das Nações Unidas. Entretanto, quando o secretário de estado americano Rex Tillerson acusa Moscovo de ser o garante pelas destruição do arsenal químico da Síria está a dizer uma meia verdade. Moscovo foi o garante político do acordo, mas o responsável por esse trabalho – em que participaram também os americanos – foi a OPCW – a Organização para a Proibição das Armas Químicas – distinguida em 2013 com o Prémio Nobel da Paz. (…) No meio de tudo isto, uma voz tem faltado – a do novo secretário-geral da ONU. António Guterres falou de “crimes de guerra” e apelou à contenção, mas as suas intervenções têm passado despercebidas. Quando da crise de 2013, em que também esteve em causa a utilização de armas químicas na Síria, o antecessor de Guterres, Ban ki moon, foi mais veemente – interveio para lembrar que qualquer acção armada de um país contra outro sem autorização prévia do Conselho de Segurança constitui violação da Carta das Nações Unidas.» Carlos Fino in Crises na Síria e na Coreia – onde anda Guterres?Jornal Tornado.

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