Rembrandt. Imagem colhida aqui.
- «Eu sou dos que gastam dinheiro em álcool, mas confesso que a minha dúvida, quando vou para borga, é sempre a mesma: “bebo mais um Famous Grouse ou poupo para pagar uma tese de mestrado a um indivíduo que perceba disso e aldrabo o meu currículo?” (…) Resumindo, percebo que um indivíduo com o ar do Dijsselbloem ache que para ter mulheres é preciso pagar. Felizmente, não tenho esse problema. O meu problema tem sido o dinheiro que tenho gasto com homens, dado que não há banqueiros do sexo feminino. Em Portugal, temos um vício terrível em gastar dinheiro com malta do sexo masculino, basta dizer que o Mexia ganhou 5,5 mil euros por dia na EDP em 2016. Ou seja, acabo a gastar uma fortuna com um homem e depois não posso desfrutar do sexo feminino, na sua plenitude, porque tenho de apagar a luz porque está caríssima. No fundo, isto não passa de inveja. Temos boas praias, mulheres bonitas, bom vinho, boa comida e eles têm tulipas. E só não temos mais para gastar nos nossos belos vícios porque muitas das nossas empresas fogem para os “paraísos fiscais” na Holanda. Dá vontade de beber para esquecer.» João Quadros in O holandês errante – JNegócios 24mar2017.
- «Será então que o ministro holandês se limitou a exagerar os seus preconceitos, em contraste com a frieza equilibrante dos burocratas europeus, nada dados a exageros? A experiência diz que não. Afinal, tivemos a Grécia (vendam as ilhas, dizia um ministro alemão). Afinal, temos Guenther Oettinger, o comissário europeu promovido para dirigir o Orçamento e que exigia que os países endividados ficassem com a bandeira a meia haste (além de outras aleivosias racistas). Afinal, temos Juncker, que afirma que a França deve ser isenta das obrigações dos Tratados por ser a França. Se portanto nos perguntamos se Dijsselbloem é simplesmente uma anedota que se pode descartar com o abanar da mão, a prudência pede que se olhe para a floresta e não só para a árvore: o homem foi simplesmente a voz do governo europeu. Claro que em Portugal, apesar da indignação espraiada até entre os partidos de direita contra “as mulheres e os copos”, ainda sobrou a brigada conservadora que veio defender Dijsselbloem. Helena Garrido já tinha dito que o chefe dele, Schauble, tinha razão, aliás os chefes têm sempre razão e, se anuncia que vem um resgate, é porque sim e até é um favor que nos faz. Camilo Lourenço, um homem do CDS, alinhou imediatamente com Dijjselbloem, que andava tudo a exagerar e no fundo o homem tem razão. José Manuel Fernandes reconhece, pesaroso, que a frase é “infeliz”, para logo também concluir que tem razão. Mais ainda, entusiasmado com a ideia, Fernandes ensaia no Observador a sua própria versão do dijsselbloemês, advertindo-nos paternalmente: “a próxima vez que um filho vosso (ou um irmão) que está em riscos de chumbar o ano vos vier pedir dinheiro para ir ‘com a malta’ para ‘a noite’ na véspera de um exame decisivo, passem-lhe logo o cartão do multibanco e o respectivo código, não vá ele acusar-vos de ‘moralismo’ e ‘preconceitos’, talvez mesmo de ‘xenofobia’, porventura de ‘racismo’ e ‘sexismo’. Como sabem, assim ele irá longe na vida”. Este catálogo de pecados é maravilhoso e serve para explicar porque é que Dijsselbloem, no fim das contas, é como o nosso pai quando cuida de nós e não cede à tentação de nos deixar ir para a “noite”. Os conservadores continuam a lastimar a falta do Diabo, que vinha e não veio, e ficam-se por agora pela certeza de que “copos e mulheres” ou os “copos” e a “noite” na “véspera de um exame decisivo” nos levam pelo caminho da condenação aos infernos. Ainda não perceberam que de inferno sabemos todos muito, vivemos a caminho dele desde que Passos Coelho nos explicou que, com a troika, precisamos mesmo de empobrecer – sem “copos” e sem “mulheres”, diria o presidente do Eurogrupo.» Francisco Louçã in Em Roma já não sobra nada - Público, 24mar2017
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