Lago Erie. Foto de Dave Sandford.
- «Obama decidiu expulsar 35 diplomatas russos por alegada interferência nas eleições presidenciais norte-americanas. Ao não aplicar o clássico princípio da reciprocidade, que levaria à expulsão de 35 diplomatas norte-americanos, Putin agiu como se estivesse num combate de karaté, fazendo que o ainda presidente americano se estatelasse no chão, desequilibrado pelo facto de o seu próprio impulso não ter encontrado resistência. Se é verdade que Trump é o mais atípico presidente-eleito da história norte-americana, Obama parece destinado a uma das mais desastradas saídas de cena. A sua russofobia é um sinal de profunda fraqueza. Primeiro, um estadista não confunde a política eleitoral e partidária com a política externa. Admitir que os russos podem ter mudado a trajetória eleitoral em novembro de 2016, é uma confissão pública de fragilidade da democracia americana, inadmissível em alguém que já ensinou direito constitucional. Segundo, se é verdade que os russos, ou quaisquer outros serviços estrangeiros, têm acesso a informações domésticas delicadas, um verdadeiro estadista faz rolar cabeças nos serviços de segurança, como já deveria ter sido o caso quando a chanceler Merkel descobriu que os aliados de Washington gostavam tanto de si que não se cansavam de lhe escutar todas as conversas telefónicas. (…) Não foi a Rússia que conduziu a UE para a agonia lenta de uma união monetária onde uma parte significativa dos Estados integrantes se sente como num avião capturado por piratas do ar. (…) Não foi a Rússia que armou fundamentalistas islâmicos no Afeganistão e na Bósnia, as escolas dos terroristas que hoje flagelam o Ocidente. Não foi a Rússia que iniciou esta vaga ingovernável de sofrimento humano, traduzida nas multidões rompendo as fronteiras da Europa em 2015, forçando a UE a acordos com Ancara que nos envergonham. Foram G.W. Bush e Blair com a ignóbil invasão do Iraque, em 2003. Foram Sarkozy e Cameron, com a cumplicidade de uma NATO que há muito entrou em roda livre, derrubando e assassinando Kadafi (com quem a UE tinha assinado em 2010 um positivo acordo sobre refugiados). Foi o próprio Obama, deixando Hillary Clinton ensarilhar-se, ao lado de Hollande e Cameron, no caos da Líbia e no inferno da Síria. (…) Mas a Rússia, além do seu arsenal nuclear, só vale 10% do PIB da UE e tem pouco mais de um quarto da população dos 28! A Rússia só mete medo a uma Europa à deriva, governada por líderes imaturos, que não sabem quem são, quem representam, nem para onde devem ir.» Viriato Soromenho Marques in A culpa não é da Rússia – DN 4jan2017.
- «Não embandeirei em arco. Não alinhei na costumada saloiice, tão à portuguesa, de me sentir feliz, honrado ou vingado na nossa pequenez por haver alguém, Guterres ou Durão, presidente bancário ou CEO de multinacional, agente da Goldman Sachs ou sequaz do FMI, que ande lá por fora a lutar pela vidinha. A dúvida que me assalta é sempre a mesma: será que os "grandes" do mundo, os senhores da alta finança, os homens que, tal como os cães, mijam em Portugal, na Grécia, no Iraque, na Síria, no Chile, na Argentina, no Brasil, para marcar território, fizeram eleger tão unanimemente Guterres para que ele combata os seus interesses, os seus planos de domínio do mundo, de contínua escravização das plebes? Ou querer-se-á que Guterres não passe de um Durão Barroso, um pau-mandado das grandes corporações e centros de decisão financeiros?» Manuel Cruz in Oxalá me engane – Quatro almas.
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