Serra do Gerês. Foto de Lília Jorge 26jan2017.
- «Já vemos por aí grupos folclóricos, grupos culturais, bandas de música, a comprar carros de bombeiros no âmbito da Protecção Civil. Acho que isto qualquer dia vai criar uma barafunda que ninguém se entende», Jaime Soares, presidente do conselho executivo da LBP. Público 29jan2017.
- «Uma coisa são os afectos e a proximidade com os cidadãos, outra é essa tendência para ser árbitro e jogador ao mesmo tempo. E a confusão de géneros entre uma coisa e outra ameaça comprometer a identificação afectiva que os portugueses têm estabelecido consigo. Se reconheço como genuína a sua afectividade, também não ignoro a sua tentação pelo jogo político-partidário que você tende por vezes a confundir com uma legítima preocupação de estabilidade. A propensão para “ir a todas” — como aconteceu com a sua descabida intervenção no caso da Cornucópia — poderá conduzi-lo a um excesso de exposição prejudicial à distância institucional que se espera de um Presidente e à autenticidade da sua relação afectiva com os portugueses.» Vicente Jorge Silva in Carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa – Público 29jan2017.
- «(…) A ironia por trás das preocupações sobre a interferência de nações estrangeiras nos assuntos políticos internos dos Estados Unidos é que os Estados Unidos têm interferido de forma flagrante nas eleições de muitas outras nações, com métodos que incluem não só o apoio financeiro aos partidos preferidos e a circulação de propaganda, mas também assassinatos e derrubes de regimes democraticamente eleitos. Excertos da entrevista a Chomsky: «Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos empenharam-se na reestruturação da tradicional ordem conservadora. Para atingir esse objetivo, era necessário destruir a resistência antifascista, muitas vezes em benefício dos colaboradores nazis e fascistas, para enfraquecer os sindicatos e outras organizações populares e para bloquear a ameaça de uma democracia radical e de reformas sociais (…), por vezes, através da brutalidade. Na Coreia do Sul, cerca de 100 mil pessoas foram mortas no final da década de 1940 pelas forças de segurança instaladas e dirigidas pelos Estados Unidos. (…) Na Grécia, na mesma altura, centenas de milhares de pessoas foram mortas, torturadas, detidas ou expulsas durante uma operação de contra-insurgência, organizada e dirigida pelos Estados Unidos, que restaurou as elites tradicionais no poder, incluindo colaboradores de nazis, e eliminou grupos de operários e camponeses liderados por comunistas que tinham lutado contra os nazis. (…) Há provas de envolvimento da CIA num golpe que derrubou o governo trabalhista de Whitlam na Austrália em 1975, quando se temia que Whitlam pudesse interferir nas bases militares e de informações de Washington na Austrália. A interferência da CIA na política italiana foi tornada pública pelo Relatório Pike ao Congresso em 1976, mencionando a doação de mais de 65 milhões de dólares para determinados partidos políticos entre 1948 e o início dos anos 70. Em 1976, o governo de Aldo Moro caiu após se saber que a CIA gastara 6 milhões de dólares para apoiar candidatos anticomunistas. (…) O Plano Marshall na França e em Itália implicava a exclusão do governo de comunistas, antinazis e membros da Resistência. (...) A ajuda dos EUA foi, de facto, uma poderosa alavanca de controle, uma questão de grande importância para os interesses comerciais dos EUA (…) Na véspera do lançamento do plano Marshall, o embaixador em França, Jefferson Caffery, alertou o secretário de Estado Marshall para as terríveis consequências se os comunistas vencessem as eleições em França (...) Durante o mês de maio, os EUA pressionaram os líderes políticos da França e da Itália a formarem Governos de coligação sem comunistas. (…) Até 1948, o secretário de Estado Marshall e outros enfatizaram publicamente que se houvesse comunistas eleitos, a ajuda dos EU seria cancelada. (...) Em França, a miséria do pós-guerra foi explorada para minar o movimento operário, através de violência direta. Retiveram-se alimentos para coagir a obediência, e organizaram-se gangsters para boicotar e esmagar greves. (…) Os Estados Unidos tinham apoiado Mussolini desde a sua tomada de posse em 1922 até à década de 1930. A aliança de Mussolini com Hitler terminou com essas relações amistosas, mas elas foram retomadas quando as forças americanas libertaram o sul de Itália em 1943, colocando no poder Pietro Badoglio e a família real que tinham colaborado com o governo fascista. À medida que as forças aliadas avançavam para o norte, iam dispersando a resistência antifascista e as autoridades locais que essa resistência tinha formado na tentativa de estabelecer um novo estado democrático nas zonas que libertara da Alemanha. No fim, foi estabelecido um governo de centro-direita com a participação neo-fascista e a exclusão da esquerda. Também aqui, o plano era as classes trabalhadoras e os pobres suportarem o ônus da reconstrução, com salários baixos e despedimentos em massa. O auxílio dependia da exclusão de comunistas e de socialistas de esquerda do poder, porque eles defendiam os interesses dos trabalhadores e, portanto, constituíam um obstáculo ao figurino pretendido de recuperação (...) O Partido Comunista foi de imediato rotulado de "extremista" e "antidemocrático" pela propaganda dos EUA, que também manipulou habilmente a alegada ameaça soviética. Sob a pressão dos EUA, os democratas-cristãos cedo abandonaram as promessas de democracia no local de trabalho e a polícia, por vezes sob o controle de ex-fascistas, foi encorajada a suprimir atividades sindicais. O Vaticano anunciou que os sacramentos seriam negados a quem votasse nos comunistas nas eleições de 1948. (…) Um ano depois, o Papa Pio XII excomungava os comunistas. (…)» Noam Chomsky sobre a longa história da intromissão dos EUA nas eleições estrangeiras, in Truythout.
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