Peneireiro-das-torres. Foto de Tom Martins. Imagem captada aqui.
- «Nunca tinha visto uma ave de rapina. Agora é raro e triste o dia em que não dê com uma ou duas nos meus passeios. Se calhar, sem saber, procuro-as em certas horas nada secretas, nos campos de onde teimosamente não saem. Há pessoas que trabalharam muito para que estas aves voltassem a estas terras e nelas ficassem. É bom ver que, por uma vez na vida, contra todas as nossas tendências destruidoras, o dia de hoje é mais rico do que o de ontem. Os peneireiros pairam tão imobilizados que, ao longe, parecem drones. Enganam-nos como enganam as presas. Há também falcões-peregrinos. Caem à maior velocidade de qualquer animal, acelerando cada vez mais, até agarrarem o pobre bicho que surpreenderam completamente. Na segunda-feira parámos para fotografar uma das duas águias de Bonelli que já todos conhecem e acarinham. Ela levantou voo — chateada, claro, mas faria o mesmo só para exibir o recorte dramático das asas contra o céu azul e frio de Janeiro — e foi pousar noutro poste. Assim aconteceu quatro vezes. Nós só tínhamos a estrada. Ela tinha toda a serra de Sintra, os prados, as colinas e os mares do Cabo da Roca — mas recusava-se a sair da linha dos postes. Fez bem. Enchia a alma saber que ela estava ali confortável, com uma indiferença majestática, sem medo do inimigo humano. Aquela era a coutada de caça que lhe pertencia. Por que raio havia ela de se mudar ou de se aborrecer? Há organizações maravilhosas a que devemos agradecer este resultado. Não é uma sorte: é uma missão. Tornemo-la nossa também.» Miguel Esteves Cardoso in A rainha do mundo – Público 17jan2017.
- «Agora que as referidas obras estão praticamente concluídas, e embora lamentando o abate de algum património arbóreo (árvores idosas e juvenis não são a mesma coisa), acho que os amantes das árvores, como eu, ficaram a ganhar. Mantiveram-se espécies significantes (como as tipuanas na Praça do Saldanha) e aumentou-se significativamente o número de árvores. Segundo o que foi noticiado, passará a haver quase 900 árvores em vez das até agora menos de 200, e com maior diversificação: entre outras, jacarandás, algumas espécies de Prunus, Koelreuteria, freixos, plátanos e tipuanas. Excelente!» Bagão Félix in Choupos e não só. Em Lisboa e não só – Público 17jan2017.
- «Nenhuma sociedade ocidental vive sem electricidade – há 10 milhões de portugueses dependentes da EDP que foi privatizada só quando esta rede esteve pronta. Tudo o que a EDP dá hoje é lucro, porque a EDP só foi privatizada quando todo o trabalho estava feito. Os custos ficaram todos connosco, em várias décadas. Como remunera capitais nacionais e internacionais (chineses, entre outros, com a exportação de energia, ah país de patriotas!) a «taxa de exploração do trabalho» (extracção de mais valia) aqui em Portugal tem que ser maior. O que significa este palavrão? Que a EDP tem que elevar as taxas fixas, em primeiro lugar; e em segundo pagar mal a quem trabalha (que o digam os call centres sub contratados); e em terceiro que exporta a energia que produzimos – produzimos mas não consumimos porque os salários não permitem pagar o que produzimos. Em Portugal hoje não se vai morrer de frio, mas de falta de consciência (e de revolta) de que os pés quentes de António Mexia – que faz parte do 1% mais ricos do mundo – são as mãos geladas de quem está em casa com uma mantinha, como nem a Agáfia está… na Sibéria de há 1000 anos, em pleno século XXI.» Raquelk Varela in Ninguém morre de frio.
- «As redes sociais não precisam de jornalistas, como não precisam de jornalistas as conferências de imprensa sem direito a perguntas. E os meios de comunicação social também não precisam de jornalistas que vão a conferências de imprensa sem perguntas para fazer. E não precisam de jornalistas que não são capazes de procurar e encontrar a informação que as fontes não querem revelar. (…) Os leitores não precisam de nós para lhes dar conta dos tweets, dos vídeos virais, das polémicas artificiais no Facebook. Não há ninguém a decidir pelos jornalistas as opções que os jornalistas fazem. Ser jornalista é fazer perguntas, insistir até ter respostas.» Paulo Baldaia in Pode vender-se a alguém o que alguém não quer comprar? – DN 16jan2017.
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