segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Reflexão – Cimeira da Terra de 1992, no Rio de Janeiro



Discurso de Fidel Castro, um dos 100 líderes mundiais reunidos na Cimeira do Clima do Rio de Janeiro em junho de 1992:

«Uma importante espécie biológica - a humanidade - está em risco de desaparecer devido à eliminação rápida e progressiva do seu habitat natural. Estamos a tomar consciência do problema quando talvez já seja tarde demais para o evitar. É preciso que se diga que as sociedades de consumo são os principais responsáveis por esta terrível destruição ambiental.

Elas foram gerados pelas antigas metrópoles coloniais. Elas são o produto de políticas imperialistas que, por sua vez, trouxeram o atraso e a pobreza que hoje assolam a grande maioria da humanidade.

Com apenas 20% da população mundial, elas consomem dois terços dos metais e três quartos da energia produzida no mundo. Elas envenenaram os mares e os rios, poluíram o ar, destruíram a camada de ozono, saturaram a atmosfera de gases que alteraram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a sofrer.

As florestas estão a desaparecer, os desertos estão a expandir-se, biliões de toneladas de solo fértil são arrastados todos os anos para o mar. Numerosas espécies extinguem-se. As pressões da população e da pobreza provocam esforços desesperados para sobreviver, mesmo à custa da natureza. Os países do Terceiro Mundo, ontem colonias e hoje nações exploradas e saqueadas por uma ordem económica internacional injusta não podem ser culpados por tudo isto.

A solução não pode ser impedir o desenvolvimento de quem mais dele precisa. Porque hoje, tudo o que contribui para o subdesenvolvimento e para a pobreza é uma flagrante violação do Ambiente.

Por isso, dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças morrem todos os anos no Terceiro Mundo, mais do que em cada uma das duas guerras mundiais.

As trocas desiguais, o protecionismo e a dívida externa atacam o equilíbrio ecológico e promovem a destruição do Ambiente. Se quisermos salvar a humanidade desta autodestruição, teremos que distribuir melhor a riqueza e as tecnologias disponíveis. Menos luxo e menos desperdício em alguns países significariam menos pobreza e menos fome na maior parte do mundo.

Acabemos com a transferência para o Terceiro Mundo de estilos de vida e de hábitos de consumo que arruínam o Ambiente. Tornemos a vida humana mais racional. Adotemos uma ordem económica internacional justa. Usemos a ciência para alcançar o desenvolvimento sustentável sem poluição. Paguemos a dívida ecológica e não a dívida externa. Acabemos com fome e não com a humanidade.

Agora que a alegadas ameaças do comunismo desapareceram e não há mais pretextos para guerras frias, corridas armamentista e gastos militares, o que é que então impede estes recursos de serem imediatamente canalizados para promover o desenvolvimento do Terceiro Mundo e combater a ameaça de destruição ecológica do planeta?

Chega de egoísmo, chega de hegemonias, chega de insensibilidade, de irresponsabilidade e de engano. Amanhã será tarde demais para fazer o que deveríamos ter feito há muito tempo.»

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